Capítulo 7 - Seus Olhos

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Elena

Eu odiava duminică, e não era por ser o último dia da semana; quem me dera se fosse por isso. Eu detestava tanto por ser um claro exemplo de como nossos hábitos mudaram. Mudaram por conta dos sanguessugas, bestas monstruosas, horrendas, repulsivas e asquerosas.

Como meu avô mesmo tinha me dito, duminică* era um período de descanso quando costumávamos ser livres. Porém, desde então, se tornou mais um de trabalho; e aqui estava eu. Sinceramente, não me surpreendia em nada.

"Essas aberrações não estão satisfeitas? Já bebem até nosso sangue, o que mais tenho que dar?" refleti, com o rosto esquentando; a indignação e raiva estampadas como brasa.

Deixei as finas lágrimas de cólera escorrerem pela bochecha. E igualmente, deixei que se secassem. Afinal, minhas mãos estavam ocupadas demais na máquina, tecendo seda para os monstros da alta sociedade. Se eu pudesse, destruiria aquela merda toda. Mas eu ganhava por cada metro de tecido fabricado, e inclusive, perdia por cada estragado.

Foi diante da fúria e revolta que o pingo de felicidade surgiu. Olhos grandes e escuros apareceram, assim como um sorriso largo e iluminado. Sorri, repetindo da minha maneira. Relembrei de cada detalhe que fazia tanto o meu coração acelerar. Ou melhor, da pessoa que fazia meu peito acelerar. Nossa, como eu sentia sua falta.

Hoje era um dia especial, apesar de tudo. Não, não era meu aniversário e muito menos dia do nome; o dia de Sfânta Elena* tinha sido mês passado. Meu coração apertava, contando os segundos como um cronômetro. A ansiedade era insuportável.

Respirei fundo e trouxe então a mente para a realidade. Eu precisava de foco para produzir mais tecidos, e assim vazar dali o mais rápido possível. Não estava afim de fazer hora extra.

O trabalho era simples: passar a linha de um lado para o outro no tear. A bugiganga fazia o resto, e no máximo, o pente da máquina engasgava. Com um puxão para trás, era mais do que resolvido. Mas seda era frágil... e cara. Eu tinha que ser cuidadosa, ou meu salário poderia ir por água abaixo.

Fiz o que tinha de fazer. Passei o fio para lá e para cá, seguido do acionar da engenhoca. Foi nesse ato repetitivo que me concentrei; cada segundo a mais contava. A seda branca caía aos poucos no chão, à medida que o tempo passava e meus braços doíam. Foi num suspiro que o sino tocou. E eu, pus a mão na testa.

"Que merda", pensei alto, rápido demais para que eu pudesse inibir.

— Olha a boca senhorita — disse o homem de óculos e cabelos grisalhos, aproximando-se de minha estação.

— Perdão, não vi o senhor aí.

Levantei-me para que o fiscal pudesse analisar o tecido. Ele se achegou pacientemente com uma fita métrica, esticando a seda para poder ver bem. Depois de examinar por um longo tempo, ou pelo menos julguei ser, perguntou com os olhos arregalados.

— Onde vai tão apressada? — Espiou-me, com seus olhos verdes ampliados nas lentes. Somado a isso, mirou sua lupa em mim, como se pudesse escarafunchar um segredo meu.

Eu riria em circunstâncias normais, mas aquela pergunta tinha me pego fora de guarda.

— Desculpa, como?

— Veja bem, hoje você quase atingiu a meta. Quase — fez questão de enfatizar a última palavra. — E bom, isso é bem difícil.

— Queria receber mais, se é que me entende.

Não era mentira nenhuma no final das contas. Eu só tinha sido impulsionada por um elemento extra. Dei um sorriso amarelo.

— Hm, sei... — Breban elevou ambas as sobrancelhas, brincalhão. — Conheço muito bem esses adolescentes. Até porque eu tenho-

Distopia RomenaWhere stories live. Discover now