Capítulo 5 - Chuva de Pétalas

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Elena

Era incrível como as coisas aqui funcionavam. A alegria nunca durava muito, e se durasse, podia desconfiar.

À poucos instantes atrás eu estava cheia de empolgação por ter passado no pré-teste. Mas como sempre, algo veio para estragar: os metidinhos. Eles roubaram minha felicidade como doce de criança. Me fizeram sentir uma inútil. Uma fracote. Coisa que, convenhamos, eu não era.

"Entenda Elena, sempre terá alguém melhor que você nesse mundo", dissera minha mãe certa vez. Pensei nisso naquele momento, não era à toa meu queixo enrugado, segurando para não desabar.

Eu a compreendia perfeitamente, mas por que me doía tanto? "Por que mesmo me esforçando tanto, sou a pior no final?", remoí na cabeça por um bom tempo. Por fim, respirei fundo, decidida a seguir em frente. Mas nem sempre o coração é aquele que obedece.

A raiva se tornou tristeza, depois desilusão, e depois... nem eu sabia. Antes pisando forte, fui afrouxando o passo, à medida que as emoções também afrouxavam.

— Ei, a braçadeira! — disse alguém. Eu pouco me importava.

Nem sequer olhei seu rosto, apenas repuxei o velcro e entreguei aquele treco. Segui adiante na calçada até um magrelo alto que eu conhecia tão bem.

— Nossa, você tá péssima — disse Nicolae. A ventania fria que veio de súbito balançou seu cabelo afro, obrigando-o a fechar os olhos.

A verdade nua e crua doía.

— Valeu, senhor óbvio — ajustei meu cabelo castanho e suado, que teimava em escorregar no rosto. Optei por soltá-lo de vez, que deslizou até o fim de meu pescoço.

— E aí? — O marmanjo arregalou os olhos, na dúvida e expectativa, trazendo os ouvidos mais perto para ouvir a notícia. — Passou?

— É... eu passei — jamais imaginei que eu diria isso naquele ânimo. O dia tinha sido pior do que pensei.

— Fala sério! — Ele me balançou com suas mãos, ao colocá-las em meus ombros. O mulato ficou assim por um tempo, até se dar conta.

— Cadê a alegria?! Aconteceu alguma coisa?

— Não, é qu- — Nicolae me interrompeu.

— Tem a ver com aquelas câmeras né? Eu devia saber que significavam alguma coisa.

— Câmeras? — Franzi o cenho, tentando ligar os pontos.

— É, tinham várias e estavam funcionando. Não percebeu não? O monitoramento devia estar pesado, eu até vi que tava assustada.

A queda de temperatura brusca e o vento gelado, que marcavam o começo do inverno, me fizeram lembrar que eu esquecera de algo. Algo bem importante.

— Merda — murmurei, o suficiente para cortar a fala de Nicolae. Corri em disparada até a quadra, sem mais nem menos.

— Onde tá indo?! — O garoto berrou, para compensar toda a distância que se formava entre nós.

— Meu casaco! — retruquei, esbaforida.

Os passos eram energéticos, impacientes para chegar no destino. Não demorou muito, mas com a pressa que martelava em minha cabeça, cada segundo parecia um pedaço da eternidade.

Ao ultrapassar a pista de corrida vermelha e circular, abri a porta feita de grades, que levava até a quadra. Acelerei reto, de encontro com o pedaço de tecido alaranjado ao lado do bebedouro. O agarrei, levei-o ao peito e suspirei, aliviada. Aquele casaco era quase a minha vida.

Distopia Romenaحيث تعيش القصص. اكتشف الآن