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Boa leitura 💛💛💛💛💛



— De que situação está falando meu sobrinho?

— Sobre o que houve com meu pai. Agradeço a hospitalidade, mas o que aconteceu e as palavras que foram proferidas, mexem comigo ainda. - Seu tio se aproxima e lhe dá um abraço.

— Sei que não posso apagar o que deve ter escutado, mas saiba que se precisar sempre estarei do seu lado. - Samuel se sentiu amado, e deu um sorriso.

— Me diga, porque és diferente? Não se incomoda de saber que me deitei com outro homem?

— Deus deu a cada um seu livre-arbítrio, não sou ninguém para lhe julgar, vosmecê em sua carta me pediu ajuda e compreensão, e é isso que terá de mim. Só peço que mantenha o decoro, alguns por aqui sabem o que houve e podem achar que vosmecê está dando em cima deles, e não gostaria que houvesse problemas.

— Por mim não terá. Só não quero ser julgado por ninguém. - Falou com mágoa.

— Porque fala dessa maneira?

— Por nada meu tio, mas mudando de assunto, que espetáculo de jardim o senhor tem, uma vasta variedade de ervas e plantas medicinais que podem ser de grande valia.

— Fico feliz que tenha gostado, saiba que tem minha total permissão se quiser usá-lo para algumas pesquisas, pode pedir Alan, o jardineiro.

— Não há necessidade, se eu quiser pesquisar faço sozinho, não quero criar atrito com ninguém.

— Não estou gostando das coisas que anda falando, aconteceu algo?

— Nada que deva se preocupar, só quero ficar sozinho, descansar um pouco. - Mesmo contrariado, Elias fez o que o Samuel pediu e o deixou descansando.

O dia seguiu normal, à noite, Samuel resolveu comer no quarto, não queria dar de cara com Alaor.

No dia seguinte, Samuel acordou cedo, tomou seu banho e se arrumou, estava lindo, usava uma camisa branca, um colete dourado e uma calça branca. Desceu, deu um beijo na testa de seu tio, e se sentou, se servindo de um café.

— Bons dias, estranhei não ter saído de seu quarto ontem, percebi que é bastante ativo, há algum motivo de ter ficado recluso em seu quarto?

— Não estava me sentindo bem, resolvi ficar mais quieto no meu canto, mas já estou melhor, vou dar mais um passeio pelo jardim.

— Sabe, fiquei pensando, acho que deveria mandar uma carta.

— Mandar uma carta para quem? - Perguntou, após mais um gole de café.

— Como para quem? Para Alonso, seu noivo, se eu estivesse no serviço militar, gostaria de receber uma carta de meu noivo, principalmente devido às circunstâncias. - Samuel ficou um pouco nervoso.

— Acha mesmo? Não creio que haja necessidade, ele deve estar bem, logo estará de volta.

— Mesmo assim meu sobrinho, é seu noivo, e.... Vosmecê já foi dele, só essa situação, mostra o quanto se amam, e tenho certeza que ele ficará bastante feliz com sua carta. Façamos assim, antes de ir ao jardim, escreva a carta e eu mesmo mandarei, e não aceito recusa. - Sem opção, ao terminar o café, Samuel subiu para seu quarto, pegou um papel, pena e tinteiro e começou a redigir a carta.

Agosto de 1892

Prezado Alonso, meu "noivo"

        Deve ser estranho, estar lendo essa palavra, mas para me livrar de um casamento arranjado, tive que lhe fazer meu noivo. Precisava ver, foi arriscado, mas no meio do meu jantar de noivado, revelei que era noivo de vosmecê, mesmo assim meu pai foi tinhoso, então fui um pouco além e pago por essa mentira até hoje, pelos olhos e julgamentos das pessoas. Falei que nós havíamos sido um do outro, e às vezes acho engraçado porque eu que nem meu primeiro beijo dei ainda, sou apontado como o homem que se deitou com seu noivo.
         Após tudo que houve, eu já previa algo assim, e mandei uma carta a meu tio Elias, irmão de minha mãe Madalena. Ele me acolheu super bem, é um homem bom e especial, apesar de que eu o acho um pouco sozinho, estou em seu casarão, e devo dizer é um lugar lindo e luxuoso, tenho tudo do bom e do melhor, e o jardim é magnífico, poderia ficar o dia todo admirando tal beleza. Não vou mentir, tenho sofrido julgamentos, principalmente do mordomo de meu tio, Alaor, mas nada que eu não possa contornar.
        Escrevo essa carta, para que meu tio não desconfie, que vosmecê não existe, por isso conto todo meu plano, afinal vosmecê não existe e jamais lerá essa carta.
       Me deseje sorte, para que ninguém descubra sobre o que fiz.
 
                                  Atenciosamente, Samuel Gonçalves

CARTAS PARA MEU NOIVO ( Mpreg )Onde as histórias ganham vida. Descobre agora