[XI] Promessas da alma

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[👿]

Quando eu era um demônio jovem, adorava brincar de atear fogo no alto das colinas infernais. Havia alguém sempre comigo. Juntos lá embaixo, éramos o que éramos, um povo morto e sem esperança. Éramos crianças a sonhar com as alturas, com a vida real em chamas no mundo da ilusão. Pouco a pouco nos tornamos objetos vagando pelo mar do precipício, rumo à desilusão.

Esperando o acaso utópico, nós crescemos.

Um dia, a esperança adormecida começou a desabrochar em uma manhã de primavera. Não lembro o que aconteceu, nem como ou porquê. Mas lembro de sentir a brisa leve arrepiar-me por inteiro, de sentí-lo no adeus tão breve. Foi a última vez, mas quem saberia?

A manhã se deu por vencida, pois ela era fraca e egoísta. Então a noite despertou e o amor complicado adormeceu no meu e no teu coração. Morremos.

Ou renascemos?

Olhando pelas janelas do carro, os grandes morros de terra molhada se assemelhavam às rochas ferventes do Abismo. Enquanto eu desaparecia, rumo ao fim daquela estrada deserta, sentia-me em casa, pois a escuridão da noite e a solidão notável no silêncio eram sinônimos de lar. Meu lar.

A noite banhava todo o horizonte, o frio severo começava com a brisa leve que, docemente, vagava pelos quatro cantos da cidade e morria floresta à dentro. Saindo do carro, suspirei prazeroso e segui andando até meu destino, sumindo cautelosamente pela mata úmida. O cheiro começou a mudar instantes depois, quando já me aproximava do local de chegada. Senti o aroma costumeiro do desespero e do medo humano me invadir as narinas e aos poucos sorri por identificar os seres presentes ao meu redor.

— Você está atrasado, Sat — disse J-Malthus, com um olhar tedioso e uma mão apoiada no topo da cabeça de um homem de meia-idade.

O homem, humano, estava acorrentado em sua frente, posto de joelhos no chão, suas vestes eram casuais, mas estavam um pouco sujas. Em volta da cena dramática estavam Min-ody, segurando um par de luvas de couro preto; Jinn e Namoo, apenas observando com seus corriqueiros olhares vazios; e Kaeh, que sentara sobre uma pedra alta e fechara os olhos de modo fofo, evitando olhar para o homem de joelhos.

— Um príncipe nunca se atrasa, J-Malthus — o lancei um pequeno sorriso, enquanto caminhava até o ruivo. Posicionei-me em frente ao sujeito, tendo que dobrar os joelhos para encará-lo. — Está na hora, Sr. Choi — exclamei tedioso, fitando suas orbes assustadas e suspirei alto.

Esperando Min-ody entregar-me o par de luvas, foquei-me na figura mortal à minha frente e em como sua existência era insignificante. Nunca sentiria falta desse dever, mas os sete malditos em minha cabeça ainda precisavam de energia para viver, e isso significa que eu preciso coletar almas para os famintos.

Porém eu não queria perder tanto tempo com uma alma condenada, afinal eu ainda tinha uma conversa pendente com meu humano. Já o evitei o suficiente, talvez até tenha extrapolado o limite, visto que o ignorei por quase uma semana.

— Vocês são tão patéticos — comentei, corrigindo a postura. Vesti lentamente as luvas em minhas mãos, em seguida, as direcionei para as laterais da cabeça alheia. Apertei ali com muita força, fazendo o homem estremecer sob meu toque, então o fiz olhar para mim, ainda com seu olhar aterrorizado no rosto. — Pode abrir a boca agora.

Enfraqueci o aperto em sua cabeça, ainda a segurando. A luz vermelha se acendeu ao nosso redor pela brasa recém-aquecida, me levando a arder em chamas no pentagrama já antes desenhado sobre a terra. Meus olhos totalmente escuros refletiram a dor da queimação alheia e sugaram toda a energia presente na alma podre ali. Seu grito excruciante foi tão alto que expulsou alguns pássaros de seus ninhos, estes que saíram assobiando aterrorizados. A dor fantasma que nos cercou esvaiu-se ao vento quando a luz em minha treva adormeceu e seu corpo caiu para trás, morrendo em seu leito já tão sujo e imperfeito, e eu saí embriagado pelo desejo de viver.

Garoto infernal • jjk + pjmWhere stories live. Discover now