4. CONVITE

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No meu sonho estava muito escuro, e a pouca luz que havia lá parecia estar vindo da pele de Lalisa. Eu não conseguia vê-la, além, das costas enquanto andava para longe de mim, me deixando na escuridão. Não importava o quanto eu corresse, eu não conseguia acompanha-la; não importava o quanto eu gritasse por ela, ela nunca se virava. Confusa, eu acordei no meio da noite e não consegui mais dormir pelo que pareceu ser um longo tempo. Depois disso, ela estava nos meus sonhos praticamente toda noite, mas sempre distante, nunca ao meu alcance.

O mês que se seguiu ao acidente foi incômodo, tenso, e, a princípio, até embaraçoso.

Para meu desânimo, eu me tornei o centro das atenções pelo resto da semana. Tyler Crowley estava impossível, me seguindo, obcecado com a ideia de me recompensar de algum modo. Eu tentei convencê-lo de que o que mais queria era que ele esquecesse o que aconteceu, especialmente já que nada aconteceu comigo, mas ele continuou insistindo.

Ele me seguiu entre as aulas e se sentou na nossa - agora - lotada mesa do almoço. Jimin e Sehun eram ainda menos amigáveis com ele do que um com o outro, o que me deixou preocupada por estar ganhando outro fã indesejado.

Ninguém pareceu preocupado com Lalisa, apesar de eu ter explicado milhões de vezes que ela era a heroína - como ela me tirou do caminho e quase foi atingida também. Eu tentei ser convincente. Jéssica, Jimin, Sehun e todos os outros sempre comentavam que eles nem sequer tinham visto ela lá até que a van foi tirada do caminho.

Eu pensei comigo mesma porque ninguém havia visto ela em pé lá longe, antes que ela estivesse de repente, impossivelmente salvando a minha vida. Com pesar, eu me dei conta da possível causa - ninguém estava tão consciente da presença de Lalisa quanto eu estava. Ninguém mais a observava como eu. Que pena.

Lalisa nunca estava cercada de espectadores ansiosos pela sua atenção. As pessoas a evitavam como sempre. Os Manobans e os Hales se sentavam na mesma mesa como sempre, sem comer, falando apenas uns com os outros.

Nenhum deles, especialmente Lalisa, olhou mas na minha direção.

Quando ela sentava perto de mim na sala, tão longe de mim quanto a mesa permitia, ela parecia totalmente alheia á minha presença. Só de vez em quando, quando os pulsos dela se apertavam - a pele ficava ainda mais branca ao redor dos ossos - eu ficava imaginando se ela estava mesmo tão inconsciente quanto queria fazer parecer.

Ela desejava não ter me tirado do caminho da van de Tyler - pra mim não havia outra conclusão. Eu queria muito falar com ela, e no dia depois do acidente eu tentei. Na última vez em que eu a vi, fora da sala de emergência, nós duas estávamos tão furiosas.

Eu ainda estava com raiva por ela não confiar em mim a ponto de dizer a verdade, apesar de eu estar cumprindo com a minha parte do trato perfeitamente. Mas ela tinha de fato salvado a minha vida, não importa como. Durante a noite a minha raiva se transformou em gratidão.

A Manoban já estava sentada quando eu entrei em Biologia, olhando diretamente pra frente. Ela não deu nenhum sinal de que sabia que eu estava lá.

— Olá Lalisa — eu disse, agradavelmente, para mostra-la que eu ia me comportar direitinho.

Ela virou uma fração na minha direção sem olhar pra mim, balançou a cabeça uma vez, e então olhou pro outro lado.

E esse foi o último contato que eu tive com ela, apesar dela estar lá, a um passo de mim, todos os dias. Às vezes eu ficava observando ela, sem conseguir me controlar - á distância, contudo, na cafeteria ou no estacionamento. Eu observava como os seus olhos dourados ficavam perceptivelmente mais e mais pretos a cada dia. Mas na aula eu não dava mais atenção a ela do que ela dava pra mim.

Crepúsculo - JenlisaWhere stories live. Discover now