210411.

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onze de abril de dois mil e vinte e um. quando o tempo se e s  t   i    c     a, o elástico dobra de tamanho, puxando e repuxando todo o dia e todos os dias, acho que quando isso acontece, a mente se encarrega de completar o estoque em pensamentos difusos que só me pesam como se alguém estivesse montado em mim às 10 horas e 13 minutos de um domingo ensolarado. porque são dias não certos para todos, mas para mim a tessitura formava uma seda irregular aos meus dedos, um tecido que passou pela maçaneta e se prendeu até que a linha arrebentou e ele pôde se desprender, a organização descompassada de dias longos, carregados de detalhes a serem vistos; os detalhes que ignorei durante vinte anos de vida. e ignoraria por mais vinte à frente. mas rego a planta que já está com o solo seco, como indica meu dedo depois de se enterrar na terra escura e ficar sujo. e me proponho ao toque próprio, um carinho em meus braços e um cafuné em mim. sigo o dia passando a mão pela seda em busca da maciez que eu achava ser inerente à ela. o farfalhar das bananeiras no quintal é estridente demais ao silêncio, mas também é um sussurro de "quer café?" nos dias que são mais pra lá que pra cá. hoje mesmo pareciam me convidar pro café da manhã ao pé do muro baixinho. e nem é delírio, acho que procuramos animar o inanimado buscando dar cor ao que tem na gente, ao olho castanho que cansamos de ver no espelho, às mechas – já desgastadas e quebradiças, aos ossos aparentes da clavícula. tudo conta minha história e agora ela parece turva, vazia e despintada. a beleza dos dias é a cor que tenho dado aos meus pedaços para que, quem fique com um fragmento, pinte com cores novas e exageradas e assim sigam meus dias. hoje, porém, é dia de deixar pesar o que está montado mas minhas costas enquanto ainda estou na cama. deixar o riacho se sujar um pouco com os pés batendo ao fundo e subindo lama. o colorido se vê mais lindo em fundo escuro e um é dependente do outro. inerentemente. aí nesse domingo eu vou passar café e tomar e ver o dia passar e continuar na cama em um ritmo ditado pelas nuvens. minha cabeça pesará e pensará em um ritmo inimaginável, mas por fora estarei como sou. inabalável. segunda-feira tento um vermelho-escuro.

carpe noctemOnde histórias criam vida. Descubra agora