la bohemia.

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talvez alguns de vocês tenham a impressão de que leram isso. de fato leram quando postei em meu antigo twitter. porém adaptei esse e até mesmo a ideia dele mudou, por isso creio que ainda seja válido ler novamente. enfim, a decisão é sua. obrigada por estar aqui, boa leitura! 🌿🕊

tenho sido a depravação descarada dos amantes boêmios. sou, também, o sabor amargo da cerveja regada ao samba da meia-noite. assombreada nos formatos dos vidros de whiskey, nas taças de vinho de boca para baixo. quase tão ígnea quanto o tremulante elemento que é levado ao cigarro. e soo do baixo, da guitarra e do piano. tão inebriante quanto a voz de quem nos embala à noite — ignorada, mas aplaudida.
estou para ser admirada.
sentida.
degustada.
ambígua em mim, quero o cuidado do amor prestante e a brutalidade da paixão flamejante. são complementos, vê? tem-se a balança a determinar o ponto que um lado ou outro é bom e tal ponto é dado no equilíbrio exato entre os lados.

não tenho nenhum propósito, porém. sentei-me a mesa para observar os olhares cheios de vida e outros mergulhados em lágrimas pelo amor perdido. feito uma versão melancólica de audrey hepburn formada por músicas dos anos 60, vejo o caminhar do baile. e sou degustada na cerveja, nas taças de vinho e nos copos de whiskey.

sentida no pecado dos amantes que se viram pela primeira vez. implorando para não ser percebida com todas as minhas vontades singulares ou plurais. nem viva ou morta, apenas olhando as histórias alheias acontecerem para que eu as escreva. e para que eu possa viver do romance alheio — cá chegamos ao significado de ser poeta: viver do que é alheio para transformar em arte e fazer com que vivam do que é nosso.

formei um diário com histórias alheias. epopéias d'um herói que não sou eu, odes à musas que não são minhas. e no caos do que escrevo, nada é meu e nada prendo. quiserem levar, levem os cadernos e canetas, deixa-me maldita após maldizer à tantos. mas, mesmo que leves o que já está pronto, não tiveste o prazer de observar, ainda que fadada a não viver, os enamorados da quinta avenida. ou as meninas na Champs-Élysées a correrem felizes e de olhos acesos. hei de dizer aqui: que dá gosto em arte é a epifania que eleva o cotidiano a um estado inimaginável e explosivo de poesia. por isso não me queixo de falta de amor, ainda que me falte; vivo o alheio e devolvo a ele.

carpe noctemHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin