MOLEQUE

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ㅡ Ei, Quebra-Pedra? ㅡ chamou o gaiato tio Wando ㅡ Bora ali 'mais' eu, e traz o bodoque!

Wando, sarrista, gostava da fuleragem, e trazia Jubel sempre junto para suas bagunças. No caminho pro armazém Viera, em uma área atrás do casarão, por onde se chegava até o estabelecimento, o capim estava alto, e Wando, chamado Jubel, lhe ensinou uma travessura.

ㅡ Ói, tá vendo esse capim? Vou te ensinar: tu pega uma túia de capim de um lado e do outro, deixa o espaço de um pé no 'mei', e da um nó no em cima.

ㅡ Aí o povo passa e engancha o pé aí, é? ㅡ  Jubel perguntou, gostando da arte.

ㅡ Exatamente! Bora fazer um monte, pois o povo passa por aqui o dia todo!

ㅡ Bora! ㅡ se adiantou Jubel à dar nó em capim.

ㅡ Depois conta pra teu vô, ele gostar. Tu vai ver véi rir de se mijar! ㅡ disse Wando.

Jubel e tio Wando deram dezenas de nós e espalharam armadilhas por toda a área de trás do armazém, por onde muita passava. Eles então ficaram de tocaia, um pouco distante, atrás dos cupinzeiros, mas, àquela hora do dia, não passava ninguém por ali, Wando então pediu que Jubel esperasse enquanto ele foi comprar sabão. Jubel, não satisfeito, foi amarrar mais capins.

ㅡ Ei, besta, já tá bom ㅡ alertou Wando ㅡ Quer derrubar o povo todo é?

Entediados por ninguém passar, eles decidiram voltar pra casa, mas depois Jubel, inconformado, correu até a casa de seu melhor amigo.

ㅡ Ô Oswaldinho? - gritou com voz fina de muleque travesso.

Veio Oswaldinho, chupando um suculento pé de galinha.

Bora ali, brincar perto do armazém de véi Viera? -

ㅡ Aonde, Juju? 

ㅡ Fiz umas 'armadilha' ali perto do armazém. Bora lá ver. Vem ligeiro! ㅡ  chamava apressado.

ㅡ É pra pegar passarinho? ㅡ disse o inocente Oswaldinho.

ㅡ É não! É de pegar gente! - respondeu Jubel se remoendo de euforia e expectativa.

Oswaldinho jogou o osso no terreno da casa, e com os lábios engordurados, fiapos de nervos entre os dentes, escancarou um riso de traquinagem, e correu com Jubel até o armazém. Chegando lá, deram a volta e se esconderam atrás dos cupinzeiros.

ㅡ Ei? ㅡ chiou Oswaldinho ㅡ é Nonato, de Téta, vindo ali?

ㅡ E vem 'bebinho', espia! ㅡ disse Jubel, tomado de expectativa.

Nonato vinha cambaleando pelo pasto, capim alto até o meio da canela, um sol da gota, e de repente... não se viu mais Nonato,  só se ouviu um tombo seco no chão duro. Jubel soltou uma gargalhada impossível de segurar, daquelas que vem da alma. Oswaldinho rolou na terra atrás do cumpinzeiro, rindo de faltar o ar. Nonato empinou a cabeça, cheia de terra e formiga, e desconfiado, procurava o lugar de onde vinha as arteiras gargalhadas.

ㅡ Ói, lá, ele procurando a gente. Cabeça de 'papagai' pescocinho de calango magro! ㅡ mangava Jubel.

ㅡEi, ei, xiu! Lá vem outro! ㅡ avisou Oswaldinho.

Enquanto Nonato, desconfiado, se arrumava pra ir embora sem entender nada. Um homem, cheio de pompa, parou seu cavalo e o amarrou em uma árvore. Os meninos, na tocaia, ao perceber quem era, arregalaram os olhos, e ficaram receosos. 

Vamo simbora daqui, Jubel. É o coroné Provérbio! ㅡ disse Oswaldinho amedrontado.

ㅡ Fica aí! - cochichou Jubel, já não rindo mais, mas com um brilho de criança levada nos olhos.

Quebra-PedraWhere stories live. Discover now