Eu sinto que ele é diferente

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Law estava em uma das área mais afastada, quase no limite da floresta – ninguém mais vinha ali, nem mesmo Luffy, mesmo sendo perto da área onde ele geralmente ficava –, vagando distraidamente, perdido em sua própria mente e totalmente afundado em dúvidas que aparentemente ninguém além da própria experiência e risco poderia lhe responder devidamente.

Em suas mãos estava um colar com uma pedra da lua cor de âmbar, ao qual apertava fortemente como se ela fosse capaz de iluminar sua mente de repente.

Seus olhos percorriam as árvores e aquela pedra grande em específico com as lembranças bastante vivas e claras em sua mente, repetindo e repetindo, como em um loop infinito.

O lupino corria rapidamente entre as árvores sentindo o vento atingir seus pelos negros, apreciando a liberdade que tinha ao se transformar em quem ele era: a chamada e temida besta.
Amava sua família e seus profundos laços, porém era quando estava sozinho que se sentia pleno, se senti ele mesmo e se libertava totalmente, por isso corria com o seu imenso alcance de velocidade, intenso e completamente conectado com seu lobo interior que agora dava forma ao seu corpo e urrava em êxtase.

No entanto seu curso foi inesperadamente interrompido ao sentir um cheiro estranhamente familiar e seu interior se agitou enquanto sua mente era nublada por aquele cheiro intoxicante.

Por mais que fosse da sua natureza ser bastante instintivo, ele não gostava de agir assim. Pelo contrário, ele era um dos mais controlados da alcateia, porém, foi impossível não deixar seus instintos o dominarem diante aquele cheiro inexplicavelmente conhecido, tão paradoxalmente doce e cítrico ao mesmo tempo, contudo completamente agradável ao seu olfato sensível.

O lupino correu em busca do odor em movimento que logo estaria em uma curta distância de si, dado à velocidade em que estava. As patas deixavam marcas profundas na terra levemente úmida pelo chão enquanto o lupino apenas se direcionava ao fim da floresta sem se importar com nada.

Ao chegar o corpo grande e peludo paralisou diante àquela presença. Os olhos dourados brilharam, convertendo-se em um amarelo intenso, acesos como brasa. Sentiu seu olhar ser totalmente atraído pelo jovem de cabelos e olhos impossivelmente negros encostado em uma pedra com a respiração ofegante, mas com um olhar intenso e confiante, sem qualquer resquícios de medo.

Todo o interior do lupino se revirou enquanto sentia seu lobo interno despertar e se agitar, como se soubesse quem ele era, como se conhecesse cada pedaço daquele ser que deveria ser odiado por si, mas que apenas exalava familiaridade. Era como se houvesse uma informação em seu córtex que estava fazendo o processo contrário e a transmitindo para seu sistema límbico, pois era como se já o conhecesse de uma forma que jamais poderia esquecer, porém era apenas naquele momento que aquela memória inexistente surgia de forma consciente.

Sua atenção havia sido completamente fisgada por aquele adolescente à sua frente, mas a repentina sensação de perigo o afligiu e então percebeu a situação, sentindo uma raiva profunda e intoxicante, tão intensa quando a do pior dia de sua vida ao notar que ele corria perigo.

Seu corpo não pensou duas vezes antes de avançar no animal que iria atacá-lo e brutalmente o matou em apenas instantes, exalando toda a fúria instintiva que sentia, descontando sua ira e acima de tudo, protegendo aquele que não conhecia, mas que inconscientemente e de imediato internalizou que deveria proteger.

Seu olhar raivoso se voltou ao garoto ainda encostado na pedra – não mais encurralado – e sentiu a raiva evaporar como um gelo exposto à uma elevada temperatura no mesmo instante que os olhos banhados em curiosidade e reconhecimento se prenderam ao seus.

O lupino da floresta proibidaOnde histórias criam vida. Descubra agora