Cap.8: Deus não te odeia.

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De tanto amor envolvido pelo próximo, finalmente decidi caminhar para casa. Eu não estava tão longe de casa, a minha morada era do outro lado da rua.

Alguns minutos depois escutando a música do Ton Carfi - Porque eu te amei cheguei. Foi bom. Esse dia foi um dos meus melhores dias. Até que foi bom, para um primeiro dia de aula... literalmente foi muito bom!

A rua estava escura, já eram sete da noite. E estava tão frio, eu esqueci de levar a minha jaqueta - sempre esqueço.

Quando dei um passo para pegar o portão de casa, lembrei-me que eu tenho um emprego e eu não ia a cinco ou quatro dia mais ou menos. Arregalei os meus olhos e às batidas do meu coração aceleraram. Eu estava ferrada! Como eu pude? Me distraí tanto.

Corri o mais rápido possível e peguei o primeiro ônibus avistado por mim. Quinze minutos depois eu cheguei. Cheguei ao hospital e entrei correndo. Parei para recuperar o fôlego e em seguida continuei correndo pelo corredor enorme. Alguns pacientes me encaravam diferentemente, os médicos e os enfermeiros acenavam para mim, mas eu não dava bola. Eu estava preocupada com o meu único e emprego.

__Jenny! - gritei para a faxineira morena, ofegante.

Jenny virou e olhou para mim. E, como sempre, a mesma riu da minha cara.

__Jenny para! - peguei o meu peito por cima da camisa do meu uniforme. - Jenny, eu...onde...

A garota com um rabo de cavalo mudou de expressão e então, eu via pena em seus olhos. Eu sei, é previsível.

__Desculpa, Abby. - falou. - Já temos outra substituta e ele falou que nunca mais quer ver a sua cara, e...também falou que não pagará o seu salário. - aproximou-se e pegou em meu ombro.

Suspirei e logo então sorri forçado.

__Não tem problema, eu estou bem. Espero que vocês fiquem bem e, obrigada por tudo minha amiga.

__Foi tudo por amor. - me envolveu em seus braços.

__Que Deus te abençoe, beijos. Eu te amo. - desgrudamos.

Bom, eu já sabia.

Está tudo bem, eu vou encontrar um outro emprego né.

Quando cheguei a casa estava tudo silencioso. Isso é bom, hoje teremos um pouco de paz.

Corri para o meu quarto e me deitei na cama. Suspirei. Fui para o banheiro e tomei uma ducha geladinha, logo vesti qualquer coisa que fosse confortável. Fiz os meus deveres de casa cantando trap gospel, eu amo.

"Nossa, o dia de hoje foi cansativo." - pensei.

Organizei melhor o meu quarto e deitei-me na minha cama de solteiro, fechando os meus olhos. Isso era bom!

Tentei dormir mas foi aí que escutei um barulho estranho do lado exterior do meu quarto. Por um momentos fiquei assustada mas pedi que Deus me protegesse. Saí do quarto e consegui perceber que o barulho surgia do banheiro. Andei lentamente para o banheiro.

__Oi? - falei.

Eram soluços.

Entrei no banheiro e vi a minha irmã com às mãos apoiadas na pia. Em seus braços escorria um mar vermelho , nos seus cabelos molhados pingavam gostas de água. Meus olhos se encheram de lágrimas , assim sendo, ela me encarou com os seus olhos azuis.

Ela estava tão desgastada. Às suas olheiras estavam piores que antes, ela estava pior que antes.

O cheiro de cigarro estava ainda mais forte no banheiro, e de acordo com o clima o sangue molhando a Gillette secava. Primeiramente achei que Camille estava fumando mas... não! Só então percebi que ela tinha queimaduras nos braços e nas costas.

"Isso não é real"

Eu não acreditava no que eu estava vendo, talvez era só um pesadelo. Eu não sabia que...logo...Meu Deus! Eu não queria que aquilo estivesse acontecendo! Por quê com ela? Logo com ela?

Eu chorei tanto, um oceano de lágrimas.

__Me perdoe! Eu decepcionei você. Eu decepcionei a todos. Eu nunca fui tão forte quanto mostro, eu nunca fui alguém com quem às pessoas pudessem se orgulhar. Eu nunca estive bem, eu não sei se eu ando bem. - choramingou limpado às lágrimas com a sua mão machucada. Aquelas palavras eram como facadas entrado dentro de mim. - Eu sou ninguém. Cada dia que passa eu pioro, eu não consigo parar, Abby. Não consigo parar. Eu não consigo mais carregar tudo isso para mim. - soltou um gemido.

Eu não queria ver a pessoa que eu mais amo daquele jeito. Eu não sabia como reagir com tudo aquilo. Eu sei que Jesus ajudaria, mas eu também estava frustrada.

__Deixa eu ajudar você. - aproximei-me.

__Por favor, se afaste. - soluçou. - Abigail, a cada suspiro... Só de respirar eu me sinto enjoado. Eu estou sempre cansado, me sinto esgotada em todas às vezes que o ar entra pelos meus pulmões. - ergueu a cabeça e olhou bem fundo nos meus olhos.

__Eu estou aqui, Cam. Você pode contar comigo. - falei com a voz falha.

__Eu estou morrendo por dentro. - sussurou, porém consegui ouvi-la. - Eu estou morrendo em silêncio. Abby, eu estou morrendo e ainda ninguém notou.

__Eu notei...- suspirei. - Deus notou.

Ela sorriu ironicamente.

Ver a Camille naquele estado era horrível. Ter a visão do seu sutiã branco nela e o vestido branco manchados de sangue sendo pressionado contra a mão esquerda da mesma, fazia sentir um aperto forte no peito. Eu sou uma péssima irmã!

__Deus? - sorriu mais uma vez. - Onde estava Deus quando eu fiz o meu primeiro corte? Onde estava Deus quando o Miguel bateu em mim pela primeira vez? Quando eu chorava e pedia socorro todas às vezes que havia briga aqui em casa? Quando eu era alvo de zombaria, Abby onde está Deus? Quando eu orava e falava para ele tudo que eu sentia? Onde estava Deus quando às vozes exaltavam para mim? Deus nunca me ouviu, Abby. - fechou os seus olhos fazemdo escorrer mais lágrimas - Deus me odeia!

__Deus não te odeia. - deixei escapar uma lágrima.

__Por favor,me ajuda. Não me deixe sozinha na escuridão, Abby. Esse poço é tão obscuro, aqui em baixo é tão sujo.

Finalmente ela veio até os meus braços e me abraçou. Deixei que ela se afogasse em meus braços e passei a minha mão em seus cabelos loiros.

__Eu não vou fugir de você.

Camille deitou a sua cabeça em meu ombro e chorou, ela precisava de alguém para a apoiar. Ela precisava de consolo, não só de um ombro para chorar, mas de alguém com quem ela podia contar e desabafar. Eu não sou forte o suficiente para a fazer melhorar, só Deus é que podia me ajudar em tudo aquilo. Só Deus!

Pedi para que a Camille me esperasse na sala de estar enquanto eu limpava o banheiro. Aproveitei também mandar para fora a Gillette e os cigarros que a mesma guardava. Fiz alguns curativos em seus machucados , nos braços, na coxa e nas costas. Fomos imediatamente para o meu quarto e deitamos juntas na cama. Um silêncio horroroso tomou conta do ambiente, porém decidi quebra-lo.

__Quer conversar? - perguntei.

Camille permaneceu em silêncio. Eu sabia que ela ainda não tinha viajado para o mundo dos sonhos, por isso esperei pela sua resposta. Alguns minutos se passaram mas eu ainda esperava pela sua resposta, eu não dormiria até saber da sua resposta, porque eu sei que é difícil tomar a decisão de se abrir com alguém.

__Eu me quero de volta!





"Se Deus quer ficar com alguma coisa, quem pode impedi-lo? Quem se atreve a perguntar: 'O que estás fazendo?'"
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A Noiva Do CordeiroWhere stories live. Discover now