× Prólogo ×

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Hellouise Neri

Um…
Dois…
Três…

Trinta.

Tiro as mãos dos olhos e observo o local. Esse pestinha é esperto e eu não vou ficar atrás. Ando pela casa procurando atentamente em cada cantinho e sorrio ao notar que ele foi para o mesmo lugar da última vez.

— Onde está você?! — gargalho quando encontro a cabeleira se mexendo atrás da geladeira.

Respiro fundo e corro em direção à Ettore que grita quando agarro seu corpinho e jogo para cima. Deito no chão colocando o dele sobre o meu e o acalmando.

— Helô? – meu irmão me chama.

— Sim?

— Por quê a Elisa parou de brincar com a gente? — sua pergunta me faz suspirar.

— Não sei, meu amor. — beijo sua testa. — Mas ainda podemos convence-la.

Ele concorda e me beija na bochecha.

Nós três sempre fomos unidos. Desde que saímos do orfanato cuidamos um dos outros, já que nem a madre pode fazer por nós. A expulsão causou uma onda de rejeição e dor entre nós e só não caímos por ajudar de pessoas muito bondosas.

A madre Filomena me avisou que seria difícil e que não poderia nos deixar ficar no orfanato por conta da super lotação. Eu e Elisa ficamos no mesmo quarto já que a aparência não negava que éramos irmãs. Gêmeas idênticas. Ettore se juntou a nós pelo fato de ter sido deixado pela mesma mulher. A mulher que provavelmente não nos queria como filhos.

Elisa e eu vivíamos em harmonia nas nossas decisões e o apego era tremendo. Porém, depois mudou. Ela conheceu um homem, um namorado como ela chama. Logo depois disso, ela mudou suas condutas comigo e com Ettore em grau muito estranho. Não conversava, não brincava, não comia conosco, nem se importava em perguntar como estávamos. Ela se comportava como uma vaca.

— Queria que ela ficasse mais com a gente.

— Deixa de ser chorão, Ettore. Tem é que crescer e sair de contos de fadas onde só brincar basta. — minha irmã entra no cômodo irritada.

Sua roupa está encharcada de suor. Todos os dias esse horário ela sai para correr e seu esforço trás bons resultados.

— Hellouise, o Conrado está na porta chamando por você. — abre a geladeira fazendo careta.

Me levanto com Ettore no meu encalço e caminho até a porta do pequeno apartamento. Conrado, meu vizinho e um amigo maravilhoso, mexe no celular e bate o pé impaciente.

— Tio! — Ettore se agarra a Conrado que sorri ao lhe ver.

— Ettore, cuidado! — repreende. — Olá,princesa!

Meu amigo me abraça de lado e dá um beijo no topo da minha cabeça.

— Não consegui nada com aquela caligrafia.

— Não posso deixar isso assim. — suspiro.

— Eu sei, mas não veio mais nada. Talvez seja só uma brincadeira de mal gosto. Contou a Elisa?

Reviro os olhos.

— Claro que não. O que ela iria fazer?

Ele não responde. Conrado sabia dos nossos desentendimentos e tentava entender os dois lado da moeda, apesar de ser difícil. Ettore corre para fora do apartamento gritando que ia brincar na rua e seguimos ele conversando.

Os meninos da nossa rua correm atrás da bola animados e sorrio ao lembrar que um dia fui assim, sapeca e livre. Conrado se senta no chão observando e deixa os braços para trás apoiando e de repente sinto o sangue sair do meu corpo.

Um tiro.
Alto e oco.

Meu corpo inteiro paralisa ao ver lentamente meu pequeno cair no chão sangrando. Conrado corre na direção do meu irmão e grita coisas que não entendo. Eu não conseguia me mover, nem piscar naquele momento.

— HELLOUISE! — grita perto de mim.

— Ettore. — sussurro e me esforço para tirar meus pés do lugar.

Não podia ser.
Ele não.
Ele não podia ir.

Ando até ele devagar e me agacho tocando no seu corpo já sem vida. Minhas lágrimas estavam entaladas e só precisavam de um espurrão para saírem. O empurrão veio e com ele meu grito chegou rasgando meu peito.

O meu caçula se foi.
O meu pequeno.

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Condenada Pelo Mafioso - Série Acorrentadas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now