25. Desconhecido -.-

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"Eu estava no meio termo, procurando encontrar a fonte do espelho infinito, árvore caindo que ninguém ouviria, sombra de ninguém lá, assassinatos de assassinos que vivem com medo disso..."

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Acordo na minha cama, me sento nela e vejo que eu estava em um lugar totalmente escuro. Coloco os pés pra fora na intenção de levantar, mas percebo que a cama estava flutuando em águas escuras; encosto um pé na água pra ver se ela tava fria, depois de ver que nem tanto, me levanto com medo de me afogar.
Consigo me manter firme de pé como se estivesse pisando no chão sólido; olho ao redor e percebo uma porta cinza distante, decido caminhar até ela. Caminho mais, porém a cada passo dado, a porta parece mais distante, penso em voltar pra cama mas ela já havia desaparecido. Não desisto e continuo, depois de passar muito tempo andando, o que na minha percepção poderia ter sido mais de horas, finalmente consigo chegar na porta.
Giro a maçaneta dela e a empurro, não abre. Tento puxar também, mas sem sucesso. Penso que a chave que Ryujin me deu talvez pudesse abrir aquela porta, até que me dei conta de que ela tem um dispositivo de senha na fechadura, daqueles que se gira até colocar a combinação de números corretos, mas ao invés de números eram letras.
Como diabos eu vou saber qual é a palavra correta? A mentora não tinha falado nada sobre essa porta, eu esperava até acordar no meu quarto de novo. Eram cinco caracteres, estão bagunçados nas letras E L I M S, respectivamente. Vamos, pense, o que essa senha pode ser? Talvez o nome verdadeiro dele? Mas qual é? V... deve começar com V então... Nome com V, cinco letras. Vance? Tento, errado. Vikki? Vicki? Vinni? Vince? Todos errados. Coloco combinações aleatórias e sem sentido, como "pudim". Palavras em outros idiomas também, mas não acho a correta ainda, não consigo completar algumas por falta de letras.
Será que... E se a palavra estivesse colocada ao contrário? Seria tão fácil assim? Mas isso não é pra ser difícil, esse lugar nem deveria ter senha. Mas qual era a combinação mesmo? Só lembro das três últimas letras, I M S... Giro elas na ordem contrária, smi... Chuto o resto da palavra colocando cada letra disponível, até que chegou no L; não acredito nisso, qua falta de originalidade, acho que vou pegar trauma de sorrir depois de tudo isso. S M I LE, porta destrancada, que babaca.
Entro pela porta e dou de cara com o meu quarto, as cores desgastadas num tom melancólico de cinza, sendo iluminado apenas pela luz do céu nublado que vem da janela. Tudo bem, já estamos aqui, sem pânico. De acordo com a Ryu, deve ter alguma instrução por aqui; caminho pela casa em busca de qualquer coisa escrita, nas paredes, móveis, espelho, box, nada. Procuro embaixo da cama, afastando os móveis, mas nada de novo. Me sento na cama, onde pode estar?
Olho pro quadro onde costumava pendurar meus poemas, não estão lá porquê no dia que o Hoseok me encontrou, dormindo no chão e fedendo, com a casa toda bagunçada, pedi pra jogar todos fora. Mas o quadro não estava vazio, havia uma carta de baralho com uma faca desconhecida fincada nela. Me aproximo e arranco a faca, viro a carta e finalmente acho o tal aviso, que parece mais com uma charada.

" Onde você sentiu pela primeira vez na vida que estava vivo de verdade? "

Que pergunta difícil, isso já aconteceu alguma vez? Tento não ser pessimista e me lembrar do primeiro momento bom que viesse à minha cabeça. Fecho os olhos por um segundo pra me concentrar mais, lembro do dia que Hoseok disse que gostava de mim, com certeza eu me senti vivo; andar de mãos dadas com ele, correr na chuva, sentir o gosto dos nossos sorvetes misturados, sentir as borboletas no estômago depois de abraçar ele pela última vez ali...
Ando até a porta de casa e abro a mesma. A cidade está diferente, tem algo estranho que não sei explicar, pode ser a falta de movimento... Não tem ninguém na rua, nenhum veículo, pessoa ou animal, o clima tá pesado. A caixa deve estar na sorveteria, caminho até lá o mais rápido que posso.
Chego na sorveteria, olho pra ela por fora com suas cores apagadas, nem parece mais a mesma. Entro nela, está... Chovendo? Que contraditório, não tem teto e a chuva só está caindo aqui dentro. Olho pras mesas, vejo uma versão de mim sentada com Hoseok na mesma que sentamos naquele dia, me aproximo para ver melhor. Meu outro eu segura um guarda-chuva, enquanto Hoseok fica sentado o encarando, até que ele dá um sorriso, seu sorriso bonito de sempre, entrego o guarda-chuva e os dois casacos que estava usando.
Que tipo de macumba é essa? Ryujin não tinha me dito nada disso. Arrisco tocar o Yoongi que estava encolhido na poltrona, enquanto se molhava sorrindo pro Hobi, mas eu não consigo, é como se nada pudesse interferir no momento que eles estavam vivendo ali. Apoio minha mão em um dos ombros do Hoseok, que estendia um dos casacos pro outro Yoongi que nega com a cabeça.
Observo a cena, Hobi continuava insistindo e nem mesmo me mexo pra pegá-lo. Por que eu não pego? Ele já tá com o guarda-chuva, vou acabar ficando doente. Hoseok se levanta com raiva, joga o guarda-chuva no chão e deixa os casacos na poltrona que estava sentado antes, vira as costas e sai da sorveteria. Depois que ele sai, Yoongi desliza pela poltrona, se deitando em posição fetal enquanto se molha. Eu em, pior do que meus sonhos não fica. Decido me ignorar e procuro pela caixa ou por qualquer carta; a mentora me disse que depois que eu entrasse nessa realidade, deveria achar uma caixa de madeira em formato de baú e queimar tudo que estiver dentro, e depois vou estar livre.
Vou pro fundo da sorveteria, olho todas as mesas, todas cadeiras, embaixo de tudo e não acho nada. Decido perguntar pra minha versão onde estava, mas ela tinha desaparecido; continua chovendo e eu ainda não achei. Vou até o balcão, vou pra trás do mesmo, talvez possa ter alguma pista nos sorvetes. Abro a portinha de correr dele e observo os recipientes de sorvete nele, que nojo. Ao invés de sorvetes tinham bichos nojentos, no lugar do de chocolate tem larvas, no de creme tem baratas, no de limão tem escorpiões, por assim adiante. Não vou colocar minha mão aqui nem a pau, fecho a porta e me aproximo do freezer que tem mais pra dentro; abro ele e tem caixas de papelão de mais de um litro fechadas.
Abro a primeira caixa e encontro várias aranhas dentro... por que esses bichos? Estão se mexendo, não percebi nada de diferente entre elas, fecho a caixa e abro a outra tampa. Formigas, não parece tão perigoso apesar de serem grandes... Penso se devo mesmo enfiar minha mão ali a procura de algo ou devo deixar pra lá, mas eu preciso saber, então crio coragem e começo a afundar uma das mãos na caixa recebendo as picadas doloridas, aguento firme a dor e afundo mais; minha mão já tá lá, só preciso afastar os insetos pra conseguir achar alguma coisa, faço isso e as formigas começam a subir em mim, tiro meu braço da caixa rapidamente e chacoalho pra fazer caírem, elas caem e meu braço começa a arder como se estivesse queimando, mas não tem nenhuma marca e as formigas que caíram no chão sumiram. Que droga! Todo esse esforço pra nada! Jogo a caixa longe e depois chuto. Abro a última caixa, são centopéias, o jeito que elas movem as patas uma nas outras dá nojo só de olhar... Sinto ânsia de vômito mas seguro, elas são tão asquerosas! Eu não vou colocar a mão lá dentro nem fodendo.
Sinto alguma coisa andando nos meus ombros, começo a me estapear desesperado achando que era uma lacraia, até que a coisa sai do meu ombro e anda pelo meu braço, era uma formiga. Passo minha mão no meu braço e ela cai no chão, sumindo que nem as outras. Animais patéticos, não são úteis nem nessa realidade. Realidade... As formigas sumiram! Ando até a caixa que chutei longe, ela tinha caído de lado, estava vazia e sem formigas à vista. Volto pra caixa de centopéias, se uma delas subir em mim eu me jogo no chão, pego a caixa com os olhos fechados evitando ver aqueles bichos e viro ela pro chão. Sinto uma cair no meu pé e começo a dar pulinhos e chutes no ar pra ela sair, que desespero do caralho ! Solto a caixa no chão e abro os olhos, nenhuma lacraia felizmente, apenas uma carta. Obrigado realidade esquisita! Pego a carta e leio a próxima pista:

" Onde foi consolado em um momento desesperador por alguém inesperado? "

Tantos momentos desesperadores pra minha coleção, mas pessoas que me consolaram? Tem o Hoseok, o V, o Jimin, o Jin, mas todos eles são esperados...
Namjoon ? Quando ele me consolou? Ando de um lado pro outro tentando pensar, coloco a carta no meu bolso da calça com a anterior, a Ryu disse que seria importante guardá-las.
Saio da sorveteria cansado de levar chuva e caminho em direção da escola que eram três ruas pra cima, se ele me ajudou com certeza foi lá, talvez me lembre quando chegar .
Dou um espirro de doer a alma, aqui fora não tá chovendo, mas passei bastante tempo me molhando na sorveteria, certeza que vou ficar resfriado. Apresso meus passos pelas ruas vazias até que entro pelos portões da escola, no pátio descoberto da saída... O dia que o Hoseok faltou a aula! Eu fiquei preocupado com ele e o Namjoon me acalmou bem aqui, nessa rampa... Espero que eu tenha que procurar só no pátio, a escola é imensa, levaria anos pra achar qualquer coisa.
Procuro perto das árvores que tem nas laterais da rampa, o dia tá começando a escurecer, se demorar muito não vou achar nunca. Olho pelo chão e pelo gramado, vou procurando até ver a silhueta de duas pessoas saindo da escola e descendo a rampa em minha direção. Me assusto com o raio inesperado que caiu do céu acertando uma árvore do meu lado, o que fez ela se partir em dois e cair.
Ao se aproximarem mais consigo ver o rosto de Namjoon exibindo suas covinhas, mas a outra pessoa estava de capuz andando de cabeça baixa ao lado dele.

- Eai Yoongi? - Namjoon me cumprimenta estendendo uma carta de baralho pra mim. Tão fácil?

- Oi... Tudo bem? - pego a mesma ainda receoso.

- Você sabe onde o Hoseok tá? Preciso conversar com ele... - olha pra pessoa ao lado e depois pra mim de novo.

- A última vez que eu vi ele tava saindo da sorveteria, mas não sei se é o Hoseok que você procura. - ele apenas assente comigo e olha de novo pro encapuzado que estava o tempo todo de cabeça baixa - O que você quer com ele?

- Nada demais, coisa boba. - diz fechando o zíper do próprio casaco.

- Quem é esse? - olho pro desconhecido.

- Nós precisamos ir, até mais. - deu um tapinha nas minhas costas e saiu pelos portões acompanhado. Não vou reclamar não, pelo menos foi fácil.

" Onde sorrisos começaram a fazer sentido? "

Merda, tinha que ter o Jimin nisso, nem nessa realidade tenho descanso. Sorrio inconscientemente e saio pelos portões indo em direção a cafeteria.

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 When we all fall asleep, where do we go? -.- {Sadfic Taegi}Onde histórias criam vida. Descubra agora