Dia 3.5

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Oiee, então...

03:31

Eu acabei de acordar, agora são... 3 e pouco da manhã e eu tô sem sono nenhum.

Então, vim aqui escrever uma história que eu estava lembrando nos últimos dias, mas não tive tempo de escrever, parece até que eu vou morrer logo né!

Bom, a história é sobre o dia que eu conheci os pais da Let enquanto a gente estava numa situação bem constrangedora...

Isso tudo foi há uns 20 dias, antes de começar a escrever o diário e pensar em me declarar, eu só levava tudo como uma amizade sabe?

Enfim, nós já éramos melhores amigos fazia um tempo, eu não tinha tanta certeza se sentia algo ou não, mas levava tudo numa boa. Eu lembro que estava na aula de Matemática quando a Let me mandou uma mensagem (eu sei bem porque o professor perguntou se era minha "namoradinha" e a sala entrou em frenesi rindo da minha cara, parecia que eu estava no fundamental). Perguntou se eu topava, depois da aula, passar o dia na casa dela, ver um filme ou só ficar lá, sem fazer nada.

A princípio, eu não achei nada demais. Tudo certo, iria passar a tarde na casa dela, ver algum filme daora (provavelmente senhor dos anéis, que ela ama) e talvez comer alguns cookies. Normal.

O pânico veio quando a mensagem "Ou talvez a gente possa fazer outra coisa..." chegou. Que raios significava fazer outra coisa? Quem manda uma mensagem assim sem ser algo, sei lá, no mínimo malicioso? Eu estou errado???

Não fazia ideia de como responder aquilo. Acho que foi ali a primeira vez que pensei "eh, tá apaixonado e vai morrer, e agora Luquitas?".

Pensei, tremi, suei frio, bati a cabeça no caderno de física algumas vezes e até pesquisei no wikihow "como responder a uma mensagem maliciosa?".

Me perdoem se acham que eu estava exagerando (até eu mesmo acho), mas foi algo novo para mim. E ela vivia falando de como paquerar os garotos/garotas que ela curtia, e na hora eu só pensei se eu poderia ser um deles. Por algum motivo, pensava em Aristóteles falando "o amor é o sentimento dos seres imperfeitos" enquanto me batia com uma régua. Eu sei, às vezes sou estranho.

No fim, a aula tinha acabado e eu sequer tinha pensado numa resposta. Pensei, parado em frente ao meu armário, em que tipo de resposta eu mandaria. Acho que algo como "Blz *emoji de diabinho*" seria bem esquisito não?
Afinal, eu só escrevi "Tá!", desliguei o celular e contei até 2342. Bem específico, eu sei.

Bom, após os 2342 segundos e a demora de 80 anos para meu celular ligar, fui ver o que ela tinha respondido. Nada, só visualizou.

Meus caros amigos leitores (se vocês existem), sabem o quão desesperador é alguém só visualizar sua mensagem? Parece que escrevi algo muito absurdo, ou muito bobo, a ponto de sequer precisar de uma resposta. Realmente, Aristóteles precisava me encher de réguas na cabeça.

Mas essa angústia causada por uma simples ignoradinha foi curada pela própria Let, que apareceu pulando nas minhas costas, gritando:

— É HORA DE ASSISTIR SENHOR DOS ANÉIS! — Eu avisei. Um geek sempre será um geek.

— Oi 'pra' você também. Não é legal pular nas costas dos outros, imagina se eu abaixo 'pra' amarrar o cadarço? Você ia pro beleléu.

— Beleléu? Desde quando você tem 70 anos? — brincou, passando a mão no meu cabelo.

— Mas e aí, como nós vamos para sua casa, a pé?

- Não tô nem um pouco afim de andar, 'bó' pegar um uber? — Questionou, mas apontou para a frente — Ih alá, chegou! Vamos?

— 'Pra' que você perguntou se já tinha pedido o uber?

— Frase de efeito.

E começou a correr na direção do carro. Frase de efeito? Ela parece que vive em um anime ou algo assim.

Entramos no carro. Eu fui no banco da frente, conversando sobre o dia com o motorista, enquanto Let ia comendo as balinhas escondida no banco de trás. Não demorou muito até o motorista perceber, mas já tínhamos chegado quando ele ameaçou cobrar pelas 40 balinhas a menos.

O portão era bem bonito, com uma cor azul viva e grades bem cuidadas. Ah, e um cachorro caramelo chamado Tobias se esfregando na minha perna, fofo como todo cachorrinho caramelo!

Entramos pela porta dos fundos, para limpar os sapatos. Não era uma casa nada especial, tinha apenas um andar, sendo bem grande e espaçosa por dentro. Muitíssimo bem arrumada, aliás, sinto que alguém da família tem uma afeição pela perfeição.

A tarde não teve nada de especial em si, só ficamos vendo filme e fofocando sobre algumas pessoas da sala da Lê. Quando finalmente acabou o primeiro Senhor dos Anéis e eu consegui implorar pelo perdão a meus pecados 'pra' não ver mais nenhum filme, fomos comer alguma coisa.

Para alguém toda boba e criança, a Lê sabe cozinhar muito bem. Fez a massa de alguns cookies rápido demais, enquanto outras massas ela jogava na minha cara, gritando:

–DEFENDA-SE, SEU GOBLIN FEDIDO! — Ela se altera muito quando vê Senhor dos Anéis.

Depois de muitos cookies, lutas com colheres de pau e de lavar o chão inteiro da cozinha por conta de uma maldita coca cola, estávamos lá, comendo, quietos e cansados.

— Eu acho que não devia ter atirado aquela coca cola na sua cabeça... — sussurrou ela enquanto bebia seu suco.

— Você acha? Meu cocuruto tem certeza!

— Pelo amor de Deus, cucuruto? Você precisa rever seu dicionário. — brincou, abrindo aquele sorriso, o tão especial sorriso.

Ficamos quietos por mais alguns segundos, só mastigando e tomando suco de laranja.

Foi então que resolvi perguntar:

— Então... O que quer fazer agora?

Ela me encarou por alguns momentos, o que me deixou um pouco envergonhado. Não sei se fiquei vermelho, mas ela parecia estar se divertindo com aquilo. Apertou um pouco os olhos e levantou uma das sobrancelhas, questionando — O quê VOCÊ quer fazer?

A partir de agora, as coisas ficam meio estranhas. Ela se aproximou um pouco, na verdade, um pouco demais. A mesa da cozinha era pequena, ela pôs seu corpo um pouco a frente, foi então o suficiente para ficar a dois dedos de distância do meu rosto. Sentia sua respiração quente e ela me olhava de uma forma estranha, encarando minha boca por alguns segundos, e voltando aos meus olhos. Isso significa alguma coisa?

Após alguns segundos, ela se aproximou um pouco mais. Entrei em desespero, o quê era tudo aquilo? Apenas fiquei parado, respirando fundo e lentamente, sem saber como reagir. Por um "sexto sentido", segurei em sua cintura. Porém, a cadeira resolveu não aproximar junto, então ela caiu, com cookie e suco junto, em cima de mim. E minha cadeira também resolveu, por algum motivo não explicado pelos céus, cair para trás. E foi então que os pais dela entraram na cozinha, vendo a junção de cookie, suco de laranja e dois idiotas deitados, rindo muito.

— Alguém pode me explicar o quê aconteceu aqui? — Seu pai perguntou, batendo os pés no chão.

A Lê resolveu explicar tudo, mas de uma maneira diferente. Não contou nada sobre as cenas acima, disse só que foi levantar enquanto segurava os lanches e a cadeira caiu, não sei para que omitir a coisa de se aproximar, mas fiquei em silêncio. O pai dela me olhava com certo...ódio?

Limpamos toda a cozinha de novo, e me despedi de seus pais, dela, e fui para casa. E, até hoje, não faço a menor ideia do por quê de tudo aquilo. Um dia, vou perguntar o que significa encarar os lábios de alguém.

Bom, essa foi a história, só contei a parte mais importante pois agora estou com sono okay? Acho que conseguir dormir, tenho que bater um papo com a Lê amanhã, e esperar que tudo isso de hoje, que já é ontem, se resolva.

É isso, boa noite diário <3

12 dias até minha morteWhere stories live. Discover now