Dia 13.

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Ah...Olá?

Boa tarde diário. Não sei muito bem como escrever essas coisas mas...

Acho que é o melhor que posso fazer?

Muito prazer, diário do Lucas!

Me chamo Letícia, e imagino que você já deve saber muito sobre a minha pessoa, ou me conhecer pelo menos um pouco. O Luquinhas falava bastante de mim por aqui, não é?

Devo dizer que talvez eu esteja um pouco atrasada em escrever sobre este último dia (só duas semanas, nada anormal), já que o diário acabou chegando nas minhas mãos à pouco tempo, e, não querendo ser egoísta, mas acho que tinha direito de tomar alguns dias para ler.

Li cada coisinha escrita em você, querido diário. Sendo bem sincera, eu conhecia o Lucas muito bem, mas nunca pensei que todas aquelas vezes que ele passava pelos corredores, com este caderno em mãos, ele estaria escrevendo um diário. Ou melhor, um livro.

Agora faz bastante sentido as perguntas repentinas sobre "Como funciona uma crase?" ou "Qual a diferença entre porquê e por que?" no meio dos intervalos da escola. Ele realmente estava se empenhando muito em escrever algo bem feito.

Aquele palerma...

Li cada coisinha escrita em você, Lucas.

Eu considero esse diário como uma pequena parte que você deixou de si. Um fragmento de tudo que você era, sonhava e pretendia ser.

E para falar a verdade, isso machuca para um caramba. Ler cada adjetivo que você me atribuiu, desde os mais belos e ornamentados até aos mais bobos e engraçados, cada cenário onde estávamos juntos, que você descreveu da melhor maneira possível, mas perfeitamente até do que a minha memória poderia, e até diálogos que eu mesma mal me lembrava.

Ler tudo isso foi como um soco bem forte na boca do estômago. Ou até mesmo como um corte de um sabre de luz.

Sabe, eu fiquei indignada que você me descreveu como uma geek completa! Eu não sou tão fanática quanto você fez parecer!

Eu li cada coisinha escrita em ti, Luquinhas.

E chorei muitas vezes lendo cada uma delas.

Não faz muito tempo desde seu "Dia 12". Pensei tanto sobre, que acho que consigo descrever perfeitamente cada coisinha daquele dia. Como você, sabe?

Aquela manhã estava excepcionalmente bonita.

O céu estava lotado de nuvens. Mas não aquelas grandes e escuras, que ocupam todo o espaço e deixam o dia melancólico. Aquelas soltas, fragmentadas por todo o ar, que refletiam o sol em vários dos seus espaços, deixando lugar às cores de azul e amarelo que pintavam de manhã.

Você estava excepcional como o céu.

Estava vestido de maneira confortável, mas bonita. Sua calça era uma moletom preta, com os "fios de amarrar" saltados para fora, um casaco moletom branco com detalhes azuis da Universidade de Praha, que combinava com o exato tom de azul do céu e um par de tênis preto. Não cheguei a ver sua camisa, prestei muito mais atenção no seu rosto. Você estava contente, sorrindo, com o cabelo arrumado para o lado, corado nas bochechas. Você estava vivo!

Apareci na sua casa logo pela manhã. Meu medo de algo ter acontecido com você não era deste mundo, mal consegui dormir naquela noite. No momento que te vi, ali, em pé, vivo e respirando, o peso que eu senti caindo dos meus ombros foi ornamental.

— Bom dia rainha do m... — você tentou dizer, mas foi interrompido comigo pulando como um coelho no seu abraço.

— Não me assusta assim. Nunca mais. — Sussurrei no seu ouvido, apertando mais seu tórax. Seu perfume estava bem forte naquele dia.

12 dias até minha morteWhere stories live. Discover now