Capítulo 49

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Camila olhou o vestido de noiva sobre a cama. Amanhã selaria pro resto da vida seu compromisso com Alessandro. Sentiu duas lágrimas escorrerem por suas faces. Que data mais triste! Pensou tocando o tecido todo bordado. Era para ser um dia especial, cheio de alegria e espectativas, onde se cuidar para o tão esperado dia, lhe traria prazer. Mas estava sendo o contrário, não tinha vontade nenhuma em ir ao salão de beleza, muito menos cuidar dos últimos detalhes da festa, este tinha deixado para a mãe. Respirou fundo e saiu.

Henrique olhou o por do sol através da janela de seu quarto. Dois meses e meio haviam se passado desde a cirurgia e estava contente com sua rápida recuperação. Hoje estava largando o uso da bengala e segunda assumiria seu antigo cargo na fazenda Mira Flores. Estava feliz em ter sua vida de volta, em fazer as coisas que amava. Ele e Roberto tinham tido uma longa conversa, onde o patrão deixara claro que esperava de sua parte respeito pelo casamento da filha, ele porém, também fora bem claro ao dizer que não se esquecera de Camila, mas que faria o possível para evita-la.
Henrique se afastou da janela ao ouvir o interfone tocar, mas quando chegou para atender a filha já o tinha feito.
- Quem é, Vitória?- perguntou ele.
- Você vai ver.- respondeu a menina, correndo para a porta. - Oi, entre.
Camila sorriu para a garota e entrou na sala. O que fazia ali? Não, não ia se culpar ou se recriminar pelo que viesse a acontecer. Sua vida estava ali parado a alguns passos dela, o semblante surpreso, mas os olhos emitindo a felicidade em vê-la ali.
- Oi!- falou ela, com voz rouca.
- Oi!- respondeu ele, querendo parecer frio.- O que faz aqui, Camila? Não deveria estar preocupada com os últimos detalhes do seu casamento?
Camila se aproximou. Era a primeira vez que o via depois da cirurgia.
- Estou tão feliz de te ver bem, em saber que vai retornar às suas atividades.- falou ela, sorrindo.
- Vai embora, Camila.- falou ele, lhe dando as costas.
- Não.- respondeu ela, tocando-lhe os ombros.- Olhe pra mim, Henrique.
Henrique se virou lentamente e a fitou. Ah, aqueles olhos negros! Amava-os tanto! Tocou o rosto lindo dela com as costas da mão.
- Você continua totalmente sem noção, patricinha.- falou ele, contornando seus lábios com os dedos.
- Em se tratando de você, faço todas as loucuras, Henrique.- falou ela, beijando sua mão.
- E que loucura vai fazer agora, Camila?- quis saber ele.
- Não é loucura, Henrique, é desespero mesmo. Desespero em querer ser feliz com o homem que amo.
Henrique lhe deu as costas.
- Não deveria estar dizendo isso. Você vai se casar amanhã...
- Não. Amanhã estou dando minha sentença de morte.- falou ela, o interrompendo, virando-o para ela.
- Você escolheu isso.- falou ele, friamente.
- Não é possível que você...
- Eu o que, Camila?- ele a interrompeu, segurando-a pelos ombros.
- Você o que, Henrique? Como tem coragem de me perguntar isso?- gritou ela, se afastando um passo para trás.- Eu me humilhei pra você diversas vezes, eu supliquei para que não desistisse de nós... Você se lembra que jogou pro alto as alianças que comprou? Que me fez acreditar numa mentira...Que você foi o primeiro a desistir do nosso amor.
- Eu não estava bem naquela época, Camila. Eu tinha perdido tudo...
- Eu quis ficar do seu lado, Henrique. Eu queria cuidar de você, curar suas feridas, te ajudar na sua recuperação...
- Eu não podia te prender a mim.
- Lá vem você de novo com essa conversa fiada. Isso foi desculpa, foi fraqueza sua. Eu te disse diversas vezes que não tinha te escolhido pra cama, Henrique.
Henrique a puxou de repente e a abraçou forte, beijando-a no alto da cabeça. A soltou e lhe deu as costas.
- Vai embora, Camila. Não me atormente mais, não me faça cometer uma loucura.
Camila suspirou.
- Henrique, amanhã, talvez, a essas horas eu já esteja casada. Eu... eu te amo, e por esse amor sou capaz de deixar tudo pra ficar com você.
- Camila...
- Não, não me diga nada agora. Vou te esperar lá na fazenda, na sua casa, esta noite e de lá podemos ir pra onde você quiser.
- Eu disse a seu pai...
- Não arrume desculpas usando terceiros, Henrique. Vou te esperar.- falou ela, caminhando para a porta.
- Eu não vou.- falou ele, sem se virar para ela.
- É a sua última palavra?
- Sim.
Camila sentiu os olhos se umidecerem, mas respirou fundo e saiu.
- Mesmo assim estarei lá.- falou ela.

Vitória saiu do corredor, onde ouvira toda a conversa. Camila realmente amava seu pai, entendeu.
- Mais uma vez sendo fraco.- falou ela, para o pai.
- Não te dou o direito de falar assim comigo.- disse ele, em voz alta.
- A Camila ama o senhor, mas acho que não a ama com a mesma intensidade.- continuou a menina.
- O que sabe sobre o amor, Vitória? Você é uma criança. E por que tá tão preocupada com isso? Não foi você quem disse que eu não ficaria com ela?
- É, eu não sei nada sobre o amor, mas entendi que a felicidade do senhor me importa, e se é com a Camila que será feliz, eu vou aceitar.
Henrique olhou para a filha, surpreso.
- Vai atrás dela, pai.- falou a menina abrindo a porta.- Ela ainda está aqui.- falou e saiu correndo.
Vitória viu Camila dar partida no carro e sair. Saiu correndo para a rua, gritando por ela, e não viu o carro que vinha pela rua e entrou na frente deste, sendo arremessada longe.
- Vitória!- gritou Henrique, vendo a filha sendo arremessada ao chão.

Mariana desceu para a sala e deu de cara com Luiz. Evitara encontrar aquele homem todo esse tempo. Não queria acreditar que ele era o pai de seu filho, não o namorado de Janaína.
- Oi!- falou ele.
- Vou chamar Janaína.- falou ela, lhe dando as costas.
- Quero falar com você, Mariana.- falou ele, se levantando.
Mariana respirou fundo e se virou, prensando os lábios.
- Pra que isso, Luiz?- indagou ela, fitando-o.
- João Pedro é meu filho e quero lhe dar o meu nome.
- Você sabe que Eduardo o registrou.
- Eu tenho o direito...
- Eu não quero.- falou ela, firmemente.- Luiz, foi uma loucura o que fizemos naquela noite. Se você não entrasse na vida de Jana, nunca ficaria sabendo dessa criança. Vamos deixar as coisas como estão.
- Você tem razão, Mariana, só que eu entrei na vida de Janaína e descobri que esse filho é meu.
- Meus parabéns! Mais uma vez passando a perna na sua irmã?!
Luiz e Mariana se viraram para a entrada da sala, onde Eduardo estava parado à porta.
- Não é nada disso, Eduardo.- falou Mariana.
- Quando ia me dizer que esse cara aí é o pai do João?- indagou ele, se aproximando.
- Eu não ia dizer, porque você é o pai dele.- respondeu ela, encarando-o.
Eduardo também a encarou. Amava o filho, mesmo não tendo certeza de que era o pai biológico da criança. Estava fazendo sessão de terapia com um psiquiatra sem que ninguém soubesse, e isso o estava ajudando com seus problemas interiores. Roberto o tinha chamado para uma conversa dias depois do episódio no laboratório com Camila. Dissera que sabia de todas as falcatruas que ele estava fazendo nos leilões e que só não o colocava na cadeia por consideração a filha. Ficara sem graça, sem argumentos e prometera que isso não voltaria a acontecer. Roberto sugeriu que ele procurasse outro emprego, pois Henrique voltaria a trabalhar na fazenda exercendo o mesmo cargo de antes, mas se negou. Roberto não insistiu e a conversa acabou ali. As sessões de terapia também lhe fizeram enxergar que gostava de Mariana mais do que ele supunha, e que a possibilidade dela aceitar que Luiz reconhecesse seu filho, o estava apavorando.
- Você acha isso mesmo?- indagou ele.
- Eduardo, você disse que assumiria o bebê sem teste nenhum, e eu aceitei.
- Então, por que fez esse teste agora?
- Não foi ela, fui eu.- falou Roberto, entrando na sala.
Mariana olhou para o pai desconfiada. Por que ele estava mentindo?
- Eu sempre soube da verdade, só não sabia quem era o pai biológico do meu neto.
- Sabe de tudo o quê, pai?- perguntou Mariana, os olhos se enchendo de lágrimas.
- Tudo, minha filha.- respondeu Roberto, tristemente.- Ou acharam que eu iria acreditar no suposto namoro de vocês?
- Me perdoa, pai.- pediu Mariana.
- Não precisa disso, minha filha, acho que a vida já está te dando uma lição. Bom, não vou dizer o que devem fazer, isso cabe a vocês decidirem. Mas peço que levem em conta que estão falando da vida de uma criança.- falou ele e saiu.
Os três se entre olharam.
- Acho que preciso pensar.- falou Luiz, quebrando o silêncio.- Depois do casamento de sua irmã, voltamos a conversar.
- Acho melhor. De cabeça quente só vamos discutir e não chegaremos a nenhum acordo.- falou Mariana.
Eduardo segurou Mariana pelos braços e a trouxe para junto de seu corpo, depois a beijou apaixonadamente.
- O que foi isso?- perguntou ela, com um sorriso nós lábios.
- Mari, sei que não tenho sido um bom marido pra você, mas quero mudar essa situação.- falou ele, fitando-a.
- Não estou entendendo.
- Olha, eu amo o nosso filho e independente da decisão que tomarmos, quero continuar com você, com a nossa pequena família. Eu também estou fazendo terapia e isso me ajudou a enxergar o quanto você e João são importantes pra mim.
- Está querendo dizer que gosta de mim?- perguntou ela, emocionada. Era a primeira vez que um homem dizia isso a ela.
- Estou, Mari. Todo esse tempo que estamos juntos, a forma como cuida do nosso bebê, seu esforço para que nosso casamento dê certo, a maneira como estamos fazendo amor ultimamente, despertou em mim um sentimento grande por você.- confidenciou ele, segurando suas mãos.
Mariana não sabia o que dizer. Sim, era verdade, vinha se esforçando para que o casamento deles desse certo, pois começava a nutrir um sentimento novo pelo marido, e isso era bom de sentir.
- Luiz vai querer reconhecer o filho. O que faremos?
- Vamos pensar nisso com calma e achar a melhor solução.
Os dois se abraçaram e subiram para o quarto.

Pra Sempre Em Teus BraçosHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin