Capítulo 35

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Camila entrou no quarto mergulhado a meia luz. Aproximou-se do leito, o coração batia freneticamente, ele dormia serenamente. Reparou que não existia mais hematomas no rosto bonito. Levantou a mão para tocar em seu rosto, mas recuou com medo de acorda-lo. Puxou a cadeira e se sentou ao lado da cama e prendeu a mão direita dele entre as suas.
- Meu amor!- sussurrou ela.- Te amo tanto, Henrique. Por que está fazendo isso comigo? Me castigando dessa maneira. Eu sei que não está sendo fácil pra você, que deve estar revoltado com tudo isso, mas com a ajuda e a presença de quem amamos, tudo fica mais fácil. Eu não me importo se nunca mais pudermos fazer amor, se não vamos ter os filhos que planejamos...- ela se interrompeu, devido o choro sufocado na garganta. - Eu só quero estar do seu lado.- terminou beijando a mão dele. - Você se tornou tão importante pra mim, Ninguém.
Camila apoiou a cabeça na mão que segurava e chorou. Levantou-se e viu lágrimas escorrendo dos olhos dele. Abaixou o corpo e secou as lágrimas com beijos suaves.
- Eu sei que ainda me ama, Henrique. Eu lhe disse uma vez que sou paciente e não vai ser agora que vou desistir de você.- sussurrou ela, em seu ouvido e tocou os lábios dele com os seus.
- Vai embora, Camila.- falou ele, sem abrir os olhos.
- Eu vou.- disse ela.- Vou porque prometi a Bruno que não me demoraria, mas olhe pra mim, por favor.
Henrique abriu os olhos, seu coração batia acelerado, um nó na garganta de vontade de abraça-la, de beijar-lhe a boca. Oh, Deus! Ela estava linda! Mas odiou-se pelas lágrimas que via banhar aquele rosto perfeito.
- Será que não ficou nenhum pouquinho feliz em me ver?- perguntou ela, com meio sorriso.
Henrique suspirou e respirou profundamente, tentando acalmar o coração.
- Você não imagina o quanto.- respondeu ele, por fim.
Camila pegou a mão dele novamente e a beijou.
- Agora vou embora.- falou ela, lhe dando as costas.
Henrique fechou os olhos. Por que estava sendo tão duro consigo próprio? Estava feliz em vê-la e sua vontade era ficar um pouco com ela.
- Espere!- pediu ele.- Fique um pouco mais.
Camila parou e voltou-se para ele com um largo sorriso. Sentou-se novamente ao lado da cama.
- Como você está?- perguntou ele, apertando a mão que segurava a sua.
- Morrendo de saudades de você.- respondeu ela, os olhos marejados de lágrimas. - Morrendo cada dia um pouco com o seu desprezo.
- Não é desprezo.- disse ele, passando as costas da mão no rosto dela.- Só que me nego prender você a um aleijado.
- Eu não escolhi você pra cama, Henrique. Eu escolhi você porque é um homem extraordinário.
Henrique viu ela pegar sua mão para beijar e reparou que ela ainda usava a aliança que tinha comprado para pedir-lhe em casamento.
- Tire essa aliança, Camila.- falou ele com os olhos fechados, tentando controlar as lágrimas que subiram-lhe aos olhos.
- Não.- disse ela, firmemente.- Eu sou sua noiva.
- Não, não é.- disse ele, puxando a mão.
- Está terminando comigo? - indagou ela, se levantando.
- Não vou falar disso agora.- disse ele, virando o rosto.
- Você é um egoísta, Henrique.- disse ela, saindo do quarto.
- Camila, não vai.- pediu ele.
Camila parou no meio do quarto e respirou fundo.
- Acho que foi besteira ter insistido em te ver.- falou ela, ainda de costas para ele. - Você está me machucando de tudo quanto é jeito. Você acha que eu me importo de você ficar pro resto da vida sobre uma cadeira de rodas?- gritou ela, virando-se para ele. - Não Henrique, eu não me importo. Só que eu não tenho culpa do que te aconteceu. Eu não tenho nem ideia do quanto está sofrendo com isso, porque só quem passa sabe, mas sei que é difícil. Eu quero te ajudar, Henrique.
- Eu não quero a sua pena.
- E quem disse que tenho pena de você?- perguntou ela, se aproximando.- Eu tenho pena da Andriele, que mesmo depois de tudo o que fez por ela, ela voltou com o marido. E você sabe que quem provocou o acidente foi o louco do marido dela, não sabe?
- Ela não teve culpa.
- E eu tenho?
     Os dois se fitaram longamente.
   - Fique aqui comigo.- pediu ele, esticando a mão para ela.
   - É o que eu mais quero.- respondeu ela, pegando na mão dele.
   - Deita aqui comigo.- falou ele, com um sorriso. No
     Camila não pensou duas vezes. Deitou-se ao lado dele, a cabeça sobre o peito forte. Inspirou fundo. O cheiro dele se misturando ao cheiro de hospital. Sentiu uma lágrima escorrer pelo canto dos olhos, mas dessa vez era de alegria, por estar ali com seu grande amor.
    
     Henrique alisou os cabelos negros e macios. Como sonhara em tocar neles novamente, em sentir o perfume que ele conhecia tão bem e que o desnorteava por alguns segundos. Acariciou as costas feminina. Era a última vez que a teria junto dele. Estava decidido a terminar com ela. Não a prenderia a um aleijado.
   - No que está pensando?- perguntou ela, erguendo o corpo para poder ver-lhe o rosto.
   - Que eu te amo, Camila.- respondeu ele, tocando os lábios dela com a ponta dos dedos.
     Henrique fechou os olhos, sentindo uma onda de raiva invadi-lo. Em outros tempos já estaria com seu pau pulsando duro e grosso dentro da cueca, louco para ser engolido por aquela bucetinha quente dela. Mas agora, seu membro estava ali, inerte.
     Camila acariciou o rosto dele com os lábios, sabia o que ele estava pensando.
   - Existem várias formas de fazer amor, Henrique e nós vamos descobrir todas elas.
     Henrique a fitou e segurou sua nuca com uma das mãos. Invadiu a boca perfeita com a língua, num beijo desesperado.
     Camila sorriu sem abrir os olhos, quando o beijo terminou.
   - Sabe do que eu me lembrei?- perguntou ela.
   - Não.
   - Da primeira vez que me beijou. Teve o mesmo gosto.- disse ela, sorrindo.  - Você lembra?
   - Que você estava louca para que eu a beijasse?- brincou ele.
   - É.- concordou ela.- Estava louca para que, aquele peão grosso, me pegasse de jeito. Ah, Henrique! Eu me apaixonei por você quando ouvi seu riso cristalino invadir meus ouvidos pela primeira vez.
   - Então foi amor a primeira vista.- observou ele, com aquele sorriso safado, que o deixava irresistível.
   - Foi.
     Camila se ajeitou novamente ao lado dele, se abraçando ao corpo másculo e forte.
   - João Pedro nasceu.- disse ela, sorrindo.
   - Mas já?!
   - Sim, e ele é lindo.- disse babona.
   - Recém nascido tem cara de joelho.- falou ele.
   - Mas ele não tem. Ele é fofo demais. Quer vê-lo?- perguntou ela, se sentando.
   - Quero.- falou ele, não tendo coragem de estragar o bom humor dela.
   - Vou buscá-lo.

     Camila retornou uns vinte minutos depois com o sobrinho nos braços.
     Henrique perdeu o fôlego ao ver o sorriso maravilhoso que ela tinha nos lábios. Sua Camila! Sua patricinha estava radiante. Como poderia estragar tanta felicidade assim? Será que não estava mesmo sendo egoísta? Será que haveria chances de serem um casal feliz, com ele nessas condições? Será que ela não se cansaria dele daqui um tempo? Camila era uma mulher saudável, linda, inteligente, amorosa, fogosa...ela não iria suportar ficar sem sexo. Acreditava que num relacionamento cinquenta porcento era amor os outros cinquenta era sexo, por tanto seu relacionamento não suportaria por muito tempo, então era melhor terminar com esse namoro o quanto antes.
   - Ele não é lindo?!- falou ela, se aproximando.
     Henrique sorriu ao ver o bebê de cabelos escuros.
   - Nossa, ele é cabeludo.- observou ele.
   - Olha o tanto de cabelo que a mãe e as tias têm.- falou ela, rindo.
    - Me deixe pegá-lo um pouco.- pediu Henrique.
     Camila colocou o bebê nos braços dele. Sentiu algo estranho, era um misto de raiva e angústia em pensar que nunca poderiam ter seus próprios filhos. Balançou a cabeça para se livrar daquele pensamento.
   - É, você tem razão, ele é bonito.- falou ele.
   - Não disse.- falou ela, sentando na beirada da cama.
   - Camila?
     Camila virou-se para a porta e viu Alessandro ali parado.
   - Oi.- disse ela se levantando ao perceber o rosto vermelho do amigo. Correu abraça-lo.- Não!
     Henrique sentiu uma onda de ciúmes intensa invadi-lo. O que aquele merda fazia ali? Vê-lo abraçado à sua patricinha mexeu com seus sentimentos.
   - Ele me deixou, Mila.
     Camila pegou o amigo pelo rosto e enxugou suas lágrimas com os dedos.
   - Sinto muito, Alessandro.- disse ela também chorando.- Mas foi melhor pra ele. Victorio estava sofrendo demais.
   - Eu sei, mas não é fácil aceitar.
   - Você está sozinho?
   - Seu pai está aí.- respondeu ele.
   - Volta pra recepção. Daqui a pouco estarei lá.- disse ela, dando um beijo em seu rosto. - Nossa!
   - Sinto muito pelo seu padrinho.- disse Henrique, quando ela voltou para perto dele.
   - Alessandro está arrasado.
   - Você se preocupa com ele?
     Camila estranhou o tom da voz dele, que soou repreensiva e fria.
   - Por que não me preocuparia? Conheço Alessandro desde sempre. - respondeu ela, franzindo a testa.
   - A é! Esqueci que ele foi seu primeiro namorado.- falou irônico.
   - Nem me lembrava disso. Mas sim, ele foi meu primeiro namorado, meu primeiro homem, meu primeiro amor, só que hoje é só meu amigo e nada mais.- respondeu ela, pegando o sobrinho dos braços dele.
   - Da sua parte, porque por ele, você já estaria na cama dele faz tempo.- falou ele, virando o rosto.
   - Ai que lindo, ele tá com ciúmes!- brincou ela, rindo.- Mas pode ficar sossegado, não vou te trocar por ninguém.- terminou dando um selinho nos lábios dele.- Agora tenho que ir.
     Henrique lhe sorriu de volta. Não queria que ela se fosse, mas ela não podia ficar.
   - Te amo, Henrique.- falou ela.
   - Te amo, Camila.- respondeu ele, vendo-a sair logo em seguida.
     Hoje tinha sido o dia mais feliz dos últimos cinquenta que já tinham passado. Ficar aquela hora na companhia de sua quase ex-namorada lhe fizera um bem danado e também lhe plantara um monte de dúvidas na cabeça, e a principal era, como terminar o namoro se a amava mais que tudo na vida?

     Camila chegou em casa arrebentada por dentro após o enterro do padrinho. Alessandro estava muito mal com a morte do pai, afinal ele era o seu norte. Ver o amigo tão perdido, machucado e sem saber o que fazer, despertou nela a necessidade de ampara-lo. Não era porque estava com Henrique que deixaria de ajudar o amigo, quando este mais precisava. Pegou o celular e ligou para Alessandro.
   - Oi Camila!
   - Você está bem?- perguntou ela, já sabendo a resposta.
   - A casa está vazia sem ele aqui. Não sei o que vou fazer.
     Camila podia ouvir o choro baixo, que ele tentava esconder.
   - Não sei o que dizer, Lê. Eu também amava muito seu pai.
   - Eu sei, Mila. Poderia vir ficar comigo, não?
     Camila fechou os olhos. Henrique tinha saído do hospital, precisava vê-lo, mas não queria deixar Alessandro sozinho também. Respirou fundo.
   - Henrique saiu do hospital.- falou ela.- Eu preciso ir vê-lo, mas na volta já paro aí, pode ser?
     Alessandro cerrou os maxilares. Por que esse veterinário de merda não morreu no acidente?
   - Desde que você venha.- respondeu ele.
   - Eu vou. Tchau!
   - Tchau!
     Camila pulou da cama e foi tomar um banho.

Pra Sempre Em Teus BraçosWhere stories live. Discover now