Capítulo 44

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     Camila saiu do banho e ouviu o celular tocar. Pegou-o e seu coração falhou uma batida. Embora não tivesse mais aquele contato salvo na agenda, sabia de quem era.
   - Alô?- atendeu, sua voz não passando de um sussurro.
   - Camila?
     Camila fechou os olhos, emocionada. A quanto tempo não ouvia aquela voz? Sentiu o queixo tremer.
   - Emocionada, patricinha?- brincou ele, sorrindo, pois também o estava.
   - E se eu dissesse que sim?- perguntou ela, sabendo que ele sorria do outro lado.
   - Eu diria que estou sentindo o mesmo.- respondeu ele, sincero.
   - Como você está?- ela mudou de assunto, não queria correr o risco de dizer que não o esquecera.
   - Estou bem, minha cirurgia foi marcada.- respondeu ele.
   - Ai que bom, Henrique! Vai dar tudo certo, tenho certeza que logo estará fazendo as coisas que mais gosta.- disse ela, empolgada.
   - Só não farei uma coisa.- disse ele, a voz mostrando sua tristeza.
   - O quê?- perguntou ela, a voz embargada.
   - Carregar você no colo de novo.
     Camila sentiu as lágrimas subirem a seus olhos. Ah, não podia continuar com Alessandro, não depois dessas palavras de Henrique. Se amavam! Tinha certeza que seu sentimento ainda era correspondido.
   - Não diga isso.- pediu ela, as lágrimas escorrendo por suas faces.
   - Não chore, Camila.- pediu ele. Daria tudo para estar ao lado dela  para enxugar-lhe as lágrimas.
   - Por que me deixou?- perguntou ela, sentando-se na beirada da cama.
   - Eu já lhe disse, tenho que fazer essa cirurgia primeiro.
   - Eu disse que não ia te esperar, Henrique.- falou ela, enxugando o rosto com as mãos.
   - E eu sei que não me esperou.
   - Por que você é tão cabeça dura? Ah, Henrique! Queria tanto estar com você nesse momento, poder segurar sua mão e dizer que tudo vai dar certo. Seu ogro teimoso!- falou ela, entre choro e riso.
     Henrique também riu diante das últimas palavras dela.
   - Nada impede você de vir me ver.- falou ele, sorrindo.- E isso me agradaria muito.
   - Vou pensar no seu caso.
     Os dois sorriam, e sabiam disso.
   - Mas liguei por outro motivo.- falou ele.
   - Achei que eu fosse o assunto principal.- falou ela, rindo.
   - Você sempre estará em meus pensamentos, Camila, tenha certeza disso.
   - Até você encontrar uma loira aguada, né?- brincou ela.
   - Engano seu.- respondeu ele.- Eu ainda vou reconquistar uma morena linda dos olhos negros.
   - Acho que vai ter que pastar um pouquinho.- respondeu ela, rindo.
   - Daqui seis meses você me fala, então.
     Camila mordeu o lábio inferior, fechando os olhos. "Sinto muito Alessandro, mas nossa história acabou de acabar." Pensou ela.
   - Mas diga, o que foi?
   - Luiz Paulo veio falar comigo. Era ele mesmo o outro cara com quem sua irmã saiu. Ele está muito confuso. Acha que João Pedro pode ser seu filho.- contou ele.
   - Henrique, eu vou contar a Janaína e vou dar o exame a ela.
   - Você não o abriu?
   - Não! Vou dar a ela, e ela resolve o que fazer. Chega de ficar pegando os problemas dos outros pra mim.- respondeu ela.
   - Num certo ponto está certa, mas pense nas mudanças que isso acarretará.
   - Já pensei demais, Henrique. Amo minhas irmãs e faço de tudo para protegê-las, mas existe mais pessoas nessa história, que acho que devem tomar conhecimento dos fatos e resolverem entre si essa situação.
   - Você está certa, mas não deveria entregar este exame a Mariana?
   - Vou conversar com a Janaína primeiro, ver qual vai ser a reação dela quando souber que seu irmão e Mariana já se conheciam.
   - Luiz Paulo disse que suas irmãs tem uma rivalidade e tanto.
   - Pois é, mas Mariana está progredindo com as sessões da psicóloga.
   - Que bom.
     Os dois ficaram em silêncio por um minuto.
   - Gostei de ouvir sua voz, ninguém.- disse ela, sorrindo.
   - Também gostei de ouvir a sua.- respondeu ele.- Vem me ver.- pediu ele.
     Camila sentiu o coração disparar.
   - Eu vou.- respondeu ela.
   - Tchau! Se cuida, patricinha.
   - Tchau!
     " Te amo!" Pensou os dois ao mesmo tempo e desligaram.
     Camila jogou-se na cama rindo.
   - Henrique! Meu Henrique, meu ogro, meu veterinário teimoso, meu ninguém, meu amor! - falou em voz alta, abraçando o travesseiro e rindo.

     Camila desceu para a sala, onde Alessandro a esperava na companhia de seu pai. Aproximou-se do namorado, o qual já considerava ex, e aceitou o selinho em seus lábios, devido a presença do pai.
     Alessandro sorriu ao ver Camila, que como sempre estava linda, mesmo no look simples que usava, uma blusinha de seda preta de alças finas, saia branca e uma sandália na cor da blusa, os cabelos estavam soltos, como ele gostava, uma maquiagem leve e os lábios rosados.
   - Está linda!- falou ele, a enlaçando pela cintura.
   - Vamos. Tchau, papai.
   - Tchau, divirtam-se.
     Camila sorriu em resposta e logo saíram.

   - O que vamos beber?- perguntou Alessandro, já a mesa do restaurante.
   - Pode escolher.- respondeu ela, cruzando as mãos embaixo da mesa. Via Alessandro tão feliz, que estava com pena de terminar o namoro, mas precisava pensar em si mesma. Sua felicidade tinha outro nome, e ia lutar por ela. Viu o garçom se aproximar e Alessandro pediu o melhor vinho da casa.
     " Um brinde a nosso término." Pensou ela, ironicamente.
   - Tenho uma coisa pra te dizer.- falou os dois ao mesmo tempo. Riram.
   - Pode falar.- falou ela.
   - Camila, eu já te falei que você é o grande amor da minha vida. Não sabe da felicidade que eu sinto quando estamos juntos. A gente já vem conversando sobre casamento, então hoje quero te pedir que seja minha esposa.- falou ele, tirando uma caixinha do bolso da calça e abriu pra ela.
     Camila soltou um murmúrio ao ver o lindo solitário. Olhou nos olhos dele e levou a mão até o objeto, o qual fechou.
   - Eu não posso aceitar.- falou, encarando-o.
   - O que está dizendo, Camila?- indagou ele, a voz embargada de raiva.
   - Eu não vou me casar com você. Eu não te amo, Alessandro.- falou ela, sincera.
   - Não vai me dizer que ainda pensa naquele aleijado.- disse ele, em tom de zombaria.
   - Não só penso, como eu o amo.- falou ela, se levantando.
   - Sente-se!- gritou ele.- Estou mandando.- depois falou mais baixo.
     Camila resolveu obedecer.
   - Está me dizendo que todos esses meses esteve comigo pensando em outro?- perguntou ele, em tom ameaçador.
   - Nunca escondi de você que eu amava o Henrique.
   - Mas disse que o esqueceria.
   - Eu tentei, não consegui.
   - Pois eu vou te dizer uma coisa, ou você põe este anel no dedo e marcamos o casamento, ou...a cirurgia daquele veterinário de merda não vai dar em nada, pelo contrário, ficará o resto da vida preso numa cadeira.
   - O que está dizendo?- perguntou ela, confusa.
   - O Dr Monteiro tem uma fama espetacular, mas também ama dinheiro.- respondeu ele.
   - Você não faria isso.- disse ela, num murmúrio, os olhos se enchendo de lágrimas.
   - Não duvide nunca de mim, Camila.- falou ele pegando sua mão direita e colocou o anel.- Ficou perfeito.- disse sorrindo.
   - Não seremos felizes, Alessandro.- tentou ela, puxando a mão.
   - Você não será.- respondeu ele, se recostando na cadeira e tomando seu vinho.
   - Engano seu,- falou ela, vergando o corpo para a frente.- Só de saber que ele estará bem, isso já é felicidade pra mim.
   - Você tem três meses para organizar o casamento.
   - Você é louco?!
   - Você não me viu louco ainda, Camila. Três meses.
     Camila se levantou e saiu sem dizer nada. Sua cabeça girava, sentia-se sem chão. Entrou em um Uber parado a entrada do restaurante.
   - Pra onde, senhora?- perguntou o motorista.
   - Só rode pela cidade por enquanto.- respondeu ela, apoiando a cabeça no vidro da janela.

     Alessandro jogou o dinheiro sobre a mesa e saiu do restaurante. Foi até um bar, onde sabia que encontraria uma garota de programa. Encostou no bar e não demorou nada para uma delas se aproximar.
   - Me paga uma bebida?- perguntou a moça sorrindo.
   - Quantas você quiser. Quanto o programa?- perguntou ele.
   - Pra você eu faria de graça, mas não posso.- respondeu ela, se aproximando e acariciou seu peito.
   - Põe o seu preço.
   - Tenho certeza que um rapaz como você não precisa disso.
   - É que gosto de algo mais violento de vez em quando. Põe seu preço.
   - O que vem a ser esse algo mais violento?
   - Vou te machucar bastante.
     A moça pensou por alguns minutos.
   - Vou me arrepender?- perguntou ela.
   - Com certeza. Quanto tira em uma noite?- perguntou ele.
   - Depende, nem sempre rola um programa.
   - Então aproveite hoje, mas lhe digo que ficará uns dias sem poder trabalhar, então pode por seu preço.
   - Vai machucar muito?
   - Muito. Pago seu preço, porém quando procurar atendimento médico, diga que foi um namorado, qualquer coisa do tipo. E não se esqueça, nunca me viu.
   - Tenho um filho para criar.- falou ela, pensativa.
   - Não vou deixá-lo órfão. Me passa uma conta bancária, faço a transferência agora.
   - Eu sei que vou me arrepender, mas vamos lá, quero quinze mil.
     Alessandro soltou um assovio.
   - Já que vou me arrepender.- falou ela, sorrindo.- Só vou te pedir, não machuque meu rosto.
     Alessandro sorriu. " Isso não posso garantir." Pensou ele.
  
  

Pra Sempre Em Teus BraçosOnde histórias criam vida. Descubra agora