Capítulo 1

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O barulho dos saltos ecoando no corredor era tudo o que s/n ouvia.
Ela passa as mãos pelo cabelo perfeitamente arrumado e aproveita para dar mais uma batidinha no jaleco extremamente branco.
"Dra. S/N
Ala: Psiquiatria"
Era o que dizia o crachá que havia ganhado na recepção.
Sua residência estava apenas começando, haviam 5 longos anos pela frente e no momento, S/N estava atrasada.
Ela andou até o final do corredor ainda do andar térreo indo direto para a sala do diretor do manicômio.
"Manicômio" não é uma palavra que lembre um lugar reconfortante, mas estava sendo bem mais silencioso que ela esperava.
Chegou em frente a porta e leu o nome na plaquinha dourada perfeitamente alinhada na porta de madeira marrom, lhe dando uma sensação de satisfação.
"Diretor Lee"
Lee Hyun, S/N já havia estudado tudo o que podia sobre o médico, ele era realmente brilhante e somente haviam boas recomendações sobre a instituição que dirigia.
Ela respira fundo, ja eram quase dez minutos de atraso, e atrasos são imperdoáveis para ela.
Ela bate na porta exatas três vezes e espera algum tipo de confirmação para entrar.
Antes da confirmação vir, a porta se abre revelando o diretor.
S/N ja o conhecia depois de tanto estudar sobre o homem.
-senhorita s/n... Estávamos a sua espera- ele diz e abre mais a porta dando espaço para a garota passar a deixando ver outro médico sentado.
-me desculpe por isso- ela pede e reverencía de leve para os dois.
-ah! Não se preocupe, só pedi para vir mais cedo para discutirmos alguns pontos, bom sente-se -falou simpático e s/n se sentou ao lado no outro médico que lhe cumprimentou com a cabeça.
-bom eu sou Lee Hyun e esse é o doutor Kim Taehyung, ele vai te auxiliar nas primeiras semanas até você pegar o jeito e ele também vai continuar sendo o responsável por um paciente em especial.
Os dois médicos trocam olhares tensos mas que passam despercebidos para a garota.
S/N franze o cenho...
-desculpe, mas eu não vou ficar responsável pela Ala D?
Ela lembra muito bem de ter aceitado fazer a residência ali por ser uma ótima oportunidade de mostrar seu desempenho.
Ficaria responsável por toda uma ala de pacientes logo em seu primeiro emprego depois de se formar.
Isso não é para qualquer um, e bom, s/n não é qualquer aluna.
Ela foi a melhor da sua turma desde o primeiro semestre de faculdade, suas notas sempre as melhores, uma aluna exemplar e, agora, uma psiquiatra mais do que capaz.
-vai, mas acontece que esse paciente é um caso do qual não posso abrir mão, sinto muito doutura mas teremos que dividir ele - Kim Taehyung da um sorriso quadrado disfarçando a inquietude.
Se pudesse já estava longe dali e do dito, paciente.
Mas não é justo com a garota deixar... aquela coisa com ela.
[°°]
Eles conversam por poucos minutos sobre os horários e os pacientes de quem ela cuidaria.
Não era muitos, o hospital não era tão grande, e haviam cinco alas ao todo.
A que s/n cuidaria era a D e ficaria no sexto andar do prédio.
Haviam dez quartos, com dez pacientes dos quais ela tomaria conta de nove.
Nos dois primeiros andares ficavam a recepção e os escritórios respetivamente.
No terceiro andar a ala A, no quarto a B, no quinto a C, no sexto a D e no Sétimo e E.
O oitavo andar era repleto de salas para exames equipadas com os melhores e mais caros aparelhos.
Havia um grande jardim, e uma estufa fora do prédio para a recreação dos pacientes.
O Hospital não era muito afastado do centro de  Daegu mas também, não era perto.
No momento ela estava no elevador com Kim Taehyung indo para a ala D.
Ela iria apenas conhecer os pacientes hoje e se inteirar de seus diagnósticos, nos próximos dias era que ela começaria a realmente trabalhar.
Kim Taehyung era educado, mas quieto, os olhos dele vagavam por todo o elevador como se esperasse por algo acontecer.
-o senhor tem medo de elevadores doutor?- perguntou calma mas atenta a resposta.
-senhor? -Ele riu de leve- pode me chamar de Taehyung.
-não somos tão intimos para isso- arqueou a sobrancelha- gosta de fazer amizades doutor?
Foi a vez do médico arquear as sobrancelhas.
-por acaso está me analisando doutora?- seu tom era divertido.
S/N não havia percebido, foi automático.
-me desculpe.
-sem problemas... E respondendo sua pergunta, eu não tenho nada contra elevadores, muito menos medo deles.-as portas se abriram- eu só não gosto muito da sua nova ala- ele pediu para ela sair primeiro com um aceno de cabeça e um leve sorriso.
-e por que?- perguntou.
O médico atrás de si agora estava sério e atento.
-vai descobrir em algum momento, por aqui- chamou a garota para irem pela direita.
O corredor era extremamente branco e as portas eram de uma madeira maciça marrom escuro.
Haviam pequenas janelas de vidro no meio das portas e logo abaixo o número dos quartos.
De relance ela viu pelo vidro uma garota abraçada as próprias pernas e balançando o corpo para frente e para trás.
Quarto 6117.
-essa é a sua sala-avisou me tirando do transe.
-desculpe?
-a sua sala, pode entrar- deu espaço para s/n passar pela porta.
A sala era bonita, tinha uma grande janela toda de vidro que dava visão para o jardim, era toda em tons pastel, tinha uma mesa preta e uma cadeira estofada atrás da mesma e duas cadeiras menores a frente.
Alguns pequenos vasos de plantas espalhados por ali e porta retratos vazios.
Ela havia gostado muito mas aimda havia uma dúvida em sua cabeça.
-por que minha sala é aqui em cima e não no segundo andar como as outras?- Taehyung andou até a janela travando o maxilar de leve.
S/N era curiosa... Curiosa demais.
-seus pacientes precisam de mais assistência, eu não quero lhe assustar mas a ala D é a que mais recebemos ocorrências, sejam de crises ou tentativas de fuga, precisa estar atenta e o mais importsnte: perto sempre.
-não posso conter uma fuga sozinha- franziu o cenho.
- nós obviamente sabemos disso doutora, e, mais uma vez, obviamente temos enfermeiros e seguranças que estão a seus serviços também.
Kim Taehyung era um tanto arrogante, s/n ja havia percebido.
Ela anda pela sala calada.
Não era um silêncio confortável mas ambos não se importavam.
Ela vai até sua cadeira e só então nota que na ponta da mesa ja havia uma plaquinha com o seu nome.
-você pode decorar como quiser...
Agora vamos conhecer seus pacientes.
A garota assente e segue o médico.
Os quartos eram do 6114 até o 6124.
Eram casos de demência, psicopatia, alucinações, distúrbios mais sérios que envolviam mutilações, pânico e entre outros.
Estavam agora no quarto 6123, era um garoto, no máximo 24 anos.
Ele estava sentado na cama com uma xícara de brinquedo "bebendo" chá.
-olá Shin- a garota cumprimentou mas não foi respondida- eu sou a sua nova doutora, pode me chamar de S/N.
-ele não fala muito- Taehyung que estava escorado na porta disse.-mas podia ser educado não é Shin?- perguntou mais alto e sorriu encorajador para o garoto.
Ele olhou para taehyung e sorriu sem mostrar os dentes lhe oferecendo a xícara.
-oh não obrigado! Você sabe que não sou muito de chá.
S/N observou o garoto formar um pequeno bico nos lábios antes de olhar para si e oferecer a xícara.
-eu...
-shin, nem todo mundo gosta de chá.
Uma terceira voz foi ouvida e s/n se virou vendo um homem todo vestido de preto parado ao lado de Kim Taehyung.
Shin recolhe a xícara e a "esconde" rapidamente debaixo do travesseiro.
Recolhe as pernas e começa a sussurrar coisas desconexas.
-você o assustou- a garota olha brava para o homem que lhe olha sem interesse.
-então você é a nova doutora?
-eu mesma.
-sou Takuya Terada, o guarda da Ala D.
Shin começou a rir em meio aos sussurros.
-ja terminamos aqui doutora-Kim interveio e logo os três estavam fora do quarto.
A porta foi trancada e Takuya ainda encarou o paciente pelo vidro por alguns segundos.
S/N não deixou isso passar despercebido.
-o que foi doutora?- Taehyung pergunta atraindo a atenção do guarda que também passa a encarar a garota.
Ela apenas nega com a cabeça e olha para os relatórios em suas mãos vendo que haviam apenas nove e não dez.
-ainda falta um.- disse e olhou para Taehyung.
-o último é o meu paciente doutora.
-mas eu não posso nem ver o relatorio?
-sou um tanto... Enciumado com meus pacientes.
Ela olha por cima do ombro do outro e vê uma porta, essa de metal parecendo ser extremamente pesada.
A vidraça era menor que as outras.
Ela passa pelos médico e vái em direção a porta.
Seus olhos atentos la dentro.
As cortinas estavam fechadas fazendo o quarto ficar escuro.
Ela chega mais perto e tudo o que consegue ver é um homem sentado na cama usando uma camisa de força.
Por que ele estava imobilizado?
Ela não percebe mas acaba se aproximando mais.
Coloca a mão na porta e vê o homem se virar lentamente até ficar de frente para onde ela estava.
Ela não consegue ver seu rosto mas vê sua cabeça tombando para o lado.
A luz do andar inteiro falha e ela sente uma mão segurando seu braço firmememente a tirando daquele transe em que estava.
-o que foi isso? Me solta!- ela dispara contra Taehyung que tinha a feição irritada.
-estou te chamando faz tempo doutora- disse áspero.- escute bem, este é o meu paciente, o encarregado por ele sou eu e não quero que interfira.
Ele estava chamando? Ela não percebeu.
-por que ele está imobilizado?
-você ouviu o que eu disse doutora?- estava ficando impaciente.
-sim! É o seu paciente doutor, mas por que está imobilizado?
Taehyung respira fundo.
-o 6124 nunca tira a camisa de força, ele é perigoso doutora. Não devia chegar tão perto assim da porta.- Takuya quem respondeu.
"O 6124"
Ela não gostou do modo como o guarda se referiu a ele.
Ainda é um paciente.
Um ser humano.
Ela desvia o olhar.
- houve uma queda de luz?
- elas são frequentes por aqui.
Taehyung vira as costas e sai andando em direção a sala da médica.
Ela ainda tinha muitas coisas para fazer.
Os dois homens iam na frente e ela arriscou mais uma olhada para a porta sendo surpreendida por um par de olhos a encarando.
Um arrepio desceu por sua espinha e seu coração acelerou, ele havia a assustado.
Forçou as pernas a se moverem seguindo os homens para continuar os afazeres.
[°°]
Finalmente estava em casa.
Seus pés doíam levemente e ela só queria um banho quente e sua cama antes que a tempestade que estava marcada para aquele dia, começasse.
Abriu a porta do apartamento vendo Hoseok no sofá assistindo televisão.
Assim que o homem ouve o barulho levanta e vai até a amiga com um pequeno sorriso nos lábios.
Ele não havia gostado da idéia de ter a garota trabalhando no hospital de Lee Hyun.
Justo lá?!
Mas ele estava muito feliz pela garota e não conseguiria estragar isso.
-e aí? Como foi?- perguntou a ajudando com a bolsa.
Ela suspira e sorri para ele.
Não iria contar sobre a arrogância do doutor Taehyung ou sobre seu paciente que não era seu.
-foi tudo tranquilo, acho que vou me adaptar rápido.
-claro que vai, minha garota é incrível! - ele diz e passa os braços pela cintura da mesma a abraçando.
-obrigada Hobi... Eu preciso de um banho- avisou e ele separou os dois a olhando no fundo dos olhos.
-eu estou orgulhoso de você- a médica sentiu as bochechas esquentarem.
Jung Hoseok era um dos únicos que conseguia isso.
-obrigada, de verdade- ele se aproxima e sela os lábios da amiga levemente.
- vai tomar o seu banho, vou fazer nossa comida.
Ela suspira.
-hoje é noite de tempestade Hobi- acaricia o rosto do homem, não achava racional esse medo que ele tinha.
- eu sei, já cobri seu espelho também, espero que não se importe.
Ela nega com a cabeça.
-vai dormir comigo?- perguntou e ele estreitou os olhos.
- se não estiver muito cansada doutora.
Ela sorri e passa pelo amigo indo para o banheiro.
Hobi e ela se conheciam a pouco mais de três anos.
Não eram nem amigos e nem namorados, estavam no meio das duas relações e gostavam assim.
Hoseok aimda sente medo de ter alguém tão perto relacionado consigo.
Ela toma o banho rapidamente, não gosta de enrolação para nada.
Após sair, ela e Hoseok jantam comentando sobre algumas coisas do dia um do outro.
A chuva começa, e com ela relâmpagos, raios e trovões.
Todos os espelhos e janelas ja estavam cobertos mas ainda assim o coração do mais velho se acelera.
Eles deixam a louça na pia e vão para o quarto da garota.
S/N mal tranca a porta e sente o corpo do amigo junto ao seu.
Ela precisava o distrair de seu medo afinal...
[°°]
A primeira semana foi complicada.
S/N lidou com duas tentativas de fuga e uma de suicídio.
A ultima veio da garota do quarto 6117, SunHee, que ela havia visto no primeiro dia.
A garota foi movida para a ala da UTI no ultimo andar e estava tendo cuidados muito específicos.
Ele lembra vividamente da garota segurando seu braço em uma das visitas que s/n fez ja na UTI.
A frase da garota ficou em sua mente.
"Ele ja viu a doutora"
Mas o mais estranho aconteceu no primeiro sábado em que trabalhou lá.
Ja era quase hora de ir embora, todos os pacientes estavam medicados e receberam o jantar.
Ela voltava para sua sala quando pensou ouvir passos junto aos seus.
Se virou mas não viu ninguém.
Estava sozinha, nem mesmo o guarda estava no andar.
Voltou a andar mas parou bruscamente ao ver a porta da sua sala escancarada e a cadeira giratória aparentemente, parando de girar no escuro.
Andou até la rapidamente.
Quem estaria em sua sala?
Adentrou a sala acendendo a luz e olhando em volta.
Não havia ninguém, absolutamente ninguém!
Um estrondo foi ouvido fazendo a mesma pular.
Sua porta estava agora fechada.
Seu coração acelerou e ela foi andando em passos lentos até chegar perto da mesa.
Foi rapidamente para a cadeira pronta para chamar Takuya ou qualquer pessoa mas algo chamou mais a sua atenção.
Uma folha de oficio com um recado escrito a mão.
"Nós ja vimos a doutora"

Quarto 6124Where stories live. Discover now