Capítulo 4

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O resto do domingo foi tenso, por mais que eu tentasse dar a atenção que a minha mãe merecia, eu não conseguia deixar de pensar em caíque e no que tinha acontecido. Depois que minha mãe foi embora e eu me deitei na cama milhões de pensamentos começaram a me atormentar.

Eu não sabia por que estava tão preocupado que ele gostasse de mim, quer dizer, eu não gostava dele, apenas o aturava, e depois tinha também o fato de eu ter prometido ao Leandro que iria fazer com que ele mudasse a postura e o preconceito interno dentro dele. Mas eu sabia que havia algo, além disso, por mais que eu me negasse sabia que tinha um sentimento crescendo dentro de mim, eu sentia isso porque não conseguia parar de sorrir quando se lembrava dele bêbado no dia anterior, ou quando eu sentia meu corpo se arrepiar todo depois de ter visto ele só de cueca na minha cozinha. Internamente eu sonhava em ter aquele corpo só para mim.

E claro que aquilo nunca iria acontecer, ele era hétero, estava com problemas em um relacionamento com outra mulher, e, além disso, tinha tido uma reação completamente exagerada ao fato de eu ser Gay. Não havia um filme da sessão da tarde ali, por mais que minha amiga Angélica insistisse na idéia.

No dia seguinte eu acordei mais cedo do que o normal, depois de tomar banho e me arrumar eu fui até a oficina pegar meu carro que já estava pronto, cheguei na delegacia e fiquei surpreso quando vi que minha vaga estava vazia, por algum motivo o Caíque tinha colocado o carro dele na vaga ao lado.

Na recepção eu dei de cara com uma angélica com cara de poucos amigos.

- O que foi mulher, porque essa cara logo de manhã?

- Me diga você, o Caíque chegou com uma cara de ódio hoje. Mal falou comigo. E olha que ele sempre me tratou bem. Aconteceu alguma coisa entre vocês no sábado?

- Depois eu te conto, onde ele está?

- Na sala do Leandro. Chegou a pouco e já foi pra lá.

Eu olhei em direção a sala do delegado e sem dizer mais nada fui me trocar. Quando voltei, mal me sentei à mesa e a porta dele se abriu.

- Lucas, na minha sala, por favor.

Levantei-me e entrei na sala dele me sentindo tenso. O caíque estava sentado na mesa em frente. Parecia mais bravo do que nunca. Fechei a porta e me sentei na cadeira ao lado.

- Por algum motivo que ele não quer me dizer, o Caíque não quer mais trabalhar com você.

Eu olhei para ele com ódio.

- Nossa, sua masculinidade e tão frágil assim que não pode trabalhar comigo só porque eu sou gay?

- Não fale de masculinidade comigo, você não entende nada disso.

- Eu pensei que você pelo menos iria agir como um profissional. Já vi que nem isso você consegue, babaca.

- O que você disse?

- Eu gaguejei?

Leandro interferiu vendo a merda que aquilo podia dar. Não era porque o Caíque era mais forte e mais alto do que eu que iria deixar ele me intimidar, tínhamos passado na mesma academia, com o mesmo treinamento, eu podia muito bem acertar um soco naquele rosto se eu quisesse.

- Calma, os dois. Não me obriguem a suspendê-los.

- Pois agora eu que não quero trabalhar com ele. Não sou obrigado a lidar com homofóbico preconceituoso. Pode me colocar com outro policial Leandro.

- Também não sou obrigado a trabalhar com esse afeminado.

- O que você disse? Repete se você for homem.

- Eu gaguejei princesa?

Foi à gota d'água pra mim, me levantei furioso e fui pra cima dele o empurrando com os braços no peito. Ele ia revidar, mas o Leandro chegou bem a tempo e ficou entre nós dois.

- Chega, escuta aqui vocês dois. Não vou colocar vocês em outra dupla. Não me importa que vocês dois não se gostem. O que importa e que façam seu trabalho direito. Se eu pegar os dois brigando de novo por qualquer motivo eu vou suspendê-los por uma semana. Estão entendidos?

Ficamos em silêncio. Até que ele percebeu que podia sair de perto e voltou para seu lugar.

- Vocês não têm escolha. Não importa que você odeie gays Caíque, gostando ou não você trabalha aqui agora e vai ter que aprender a não ser mais preconceituoso, e isso ou pode dizer adeus a sua carreira de policial.

Ele olhou para mim sério.

- E você Lucas, controle esse seu nervosismo , entendo seu lado, mas você vai ter que aprender a lidar com o Caíque gostando disso ou não. Os dois vão se dar bem e fazer seu trabalho de forma exemplar ou eu juro que acabo com a carreira dos dois. Estamos entendidos?

Eu nunca tinha visto o Leandro falar tão sério e com a voz tão firme. Nós dois consentimos juntos.

- Agora saiam da minha sala e comecem a trabalhar.

Saímos em silencio e eu fui direto ao vestiário, onde me encostei ao armário mais próximo e controlei minha vontade de chorar. Eu não gostava de ser intimidado por causa da minha orientação sexual, mas parecia que trabalhar com o Caíque seria exatamente assim. Eu precisava de forças para lidar com toda aquela situação. Eu amava ser policial e não queria perder meu emprego.

Demorei um pouco no banheiro, até que a Angélica apareceu.

- Aqui e o banheiro masculino maluca.

- Ai, e tudo a mesma coisa. Conta-me o que aconteceu.

- Não sei se é uma boa hora.

- Nem vem você não respondeu minhas mensagens ontem de manhã. Pode me contar tudo. Aproveita que o Leandro foi comprar café.

Suspirando eu contei tudo para ela, desde o momento em que nos despedimos na balada, até a conversa na sala do Leandro. Ocultei a parte em que achava que estava sentindo algo por ele, não me sentia seguro para falar sobre isso no momento com ninguém, até porque eu não tinha certeza, podia ser só algo da minha cabeça.

- Meu deus, que babaca.

- Sim. Mas e isso né. Gostando ou não eu vou ter que trabalhar com ele.

- Mas relaxa amigo, quando ele se descobrir gay vocês resolvem isso na cama.

- Começou a fanfic, para com isso.

- Você trabalha com casos de homofobia há algum tempo já, sabe mais do que ninguém que homofobia nada mais é do que um desejo interno reprimido.

- Alguém precisa cortar a sua TV a cabo, tá assistindo filme de romance demais.

Levantei-me em direção a minha mesa com ela atrás ainda falando sobre o assunto. Olhei para a mesa do Caíque e vi que ele digitava no computador, mas olhou para mim quando eu passei, não soube decifrar o que tinha naquele olhar, mas deixei por isso mesmo.

Quando me sentei a minha mesa e comecei a trabalhar, pensei comigo mesmo que a angélica podia estar certa, mas eu preferia que não estivesse. Não queria estar a fim de um cara tão diferente de mim, aquilo não podia dar em algo bom.

Eu Odeio Te AmarOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz