Capítulo 22

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Caique

Eu estava com o coração acelerado e totalmente feliz quando entrei no apartamento de Lucas naquela noite. Com as mãos cheias de sacola do mercado mais próximo eu comecei a arrumar as coisas. Havia conseguido uma folga aquele dia, e como ele estava trabalhando decidi preparar algo especial para nós, eu não era nenhum especialista, mas tinha algumas coisas que eu sabia fazer que saiam muito bem com um vinho branco.

Quando terminei olhei para a mesa satisfeito, estava linda e bem romântica, não acendi velas porque achava brega, mas tinha colocado alguns botões de rosas espalhadas. Eram quase 22:00, e como ele saia as 22:00 em ponto da delegacia eu tinha tempo para tomar banho.

Debaixo do chuveiro eu pensava em como minha vida estava totalmente diferente naquele quase um ano em que Lucas tinha entrado nela e a virado de cabeça para baixo, era como se eu tivesse perdido todo o controle e noção do que era certo. Mas eu estava feliz como nunca tinha estado em toda minha vida, e isso era algo que eu não queria perder de forma alguma.

Quando sai do banho escutei meu celular tocar, mas ele estava na sala, terminei de me trocar rapidamente, e quando o peguei vi duas ligações perdidas de Angélica. Já eram 22:00, fiquei preocupado, então liguei de volta, e ela atendeu no primeiro toque, percebi que estava chorando.

- Caique, aconteceu uma desgraça, você precisa ir pro hospital agora.

- Desgraça? Com quem?

- O Lucas, ele estava saindo da delegacia quando o Ricardo apareceu armado e deu três tiros nele.

Senti minha visão ficar turva e as pernas bambas.

- Estou indo agora. Vocês estão em qual? Na luz?

- Sim, estamos a caminho.

Sem dizer mais nada eu desliguei o telefone, peguei minha carteira e sai em disparada pela porta. Liguei o carro e quase derrubei o portão do prédio. Não podia ser verdade, não naquele momento, não quando tudo estava indo tão bem. Ele não podia perder Lucas, não imaginava a vida sem ele, não queria perder o único responsável por toda sua felicidade.

Cheguei na porta do hospital em menos de 15 minutos, entreguei a chave para o manobrista e corri para a recepção de emergência, parei em frente a uma moça que digitava no computador, mas fui interrompido por Angélica que parou do meu lado, estava com o olho inchado de tanto chorar.

- Como ele está?

- Em estado grave, por sorte as balas não atingiram nenhum órgão vital, mas ele perdeu muito sangue, e provavelmente vai ter que ficar em coma, o medico me disse isso por cima, mas ele volta daqui a pouco para dar mais noticias, por ora só podemos esperar e rezar.

Nos sentamos nas cadeiras próximas.

- Como isso aconteceu Angelica?

- Foi do nada, estávamos saindo da delegacia quando o Ricardo saiu de algum esconderijo e atirou, ele não disse nada, apenas atirou e saiu correndo.

- Ele fugiu?

- Sim, mas o Leandro e outro policial alcançaram ele, ele resistiu e atirou no leandro também que revidou, morreu a caminho do hospital.

- Não posso dizer que estou triste com isso. Menos um homofóbico no mundo, além disso eu nem sei o que teria feito se ele ainda estivesse vivo depois de fazer isso com Lucas.

Ficamos ali por quase três horas sentados, eu sentia minha cabeça doer, cada movimento de porta fazia com que eu me sobressaltasse pensando que era o medico de Lucas dizendo que ele estava bem, que eu podia vê-lo e que em algumas horas poderia leva-lo para casa. Angélica acabou dormindo no banco ao lado, eu estava com sono também, mas não iria dormir enquanto não tivesse noticias.

Estava quase amanhecendo quando o médico apareceu, eu me levantei afoito e me aproximei, ele era um senhor de idade com a aparência bem cansada, mas falou firme e lucido comigo.

- Você e parente do policial Lucas?

- Sou o namorado dele. Como ele está doutor?

- Levando em conta as circunstancias, ele está ótimo. Precisamos colocar ele em coma induzido porque um dos tiros raspou no pulmão, então por precaução vamos deixa-lo assim por algumas horas e ver como ele vai reagir. Mas, como eu disse, ele estar vivo e um milagre, uma das balas passou muito perto do coração. Perdeu bastante sangue, mas já fizemos transfusão e ele está se recuperando, agora só nos resta esperar.

- Posso vê-lo doutor?

- Sim, mas como ele está na UTI você vai precisar usar uma roupa especial para não infectar o local.

Angélica que havia acordado quando me levantei e estava ao meu lado ouvindo o médico, fez que tudo bem com o rosto, então eu segui o médico sentindo minhas pernas tremerem.

Caique colocou todos as proteções com a ajuda de uma enfermeira, estava tremendo muito e foi com muita dificuldade que conseguiu entrar no quarto onde viu Lucas deitado na cama desacordado e com varias maquinas ligadas ao seu corpo. O silêncio na sala só era interrompido pelo barulho que mostrava as batidas do coração de Lucas. Ele se aproximou da cama e se sentou na cadeira ao lado, pegou a mão do amado e as lagrimas caíram como cascata de seus olhos.

- Não sei se consegue me ouvir, mas eu queria que soubesse que eu to aqui. Eu não vou sair desse hospital enquanto você não acordar. Eu não posso e não vou te perder.

Caique abaixou a cabeça sobre a cama e chorou como nunca tinha chorado em toda sua vida. Sentia o coração apertado, uma angustia tão forte que jamais imaginou sentir. Ele se levantou agitado e se afastou da cama, começou a andar de um lado para o outro, e então começou a conversar como se Lucas pudesse ouvir ele.

- Eu odeio isso que você faz comigo, odeio ser tão frágil quando se trata de você. Sabe como policial eu já enfrentei vários problemas, já tive armas apontada para o meu rosto mais de uma vez, já estive em incêndios, em perseguições, e mesmo que o perigo fosse grande, eu sempre consegui me controlar e manter o foco.

O sentimento de tristeza começou a se transformar em frustração.

- Mas com você, tudo e diferente, e eu sei disso desde o primeiro dia que te vi, mesmo que não admitisse. Tem algo em você que me transforma no ser humano mais fraco do mundo. Você me desarma como nunca ninguém conseguiu. Você tira meu foco, meu fôlego, minha atenção. Faz eu me sentir desprotegido. Eu me arrepio quando escuto sua voz, quando você me toca eu sinto que vou para outra dimensão.

Ele secou as lagrimas.

- Você me faz feliz. O seu sorriso muda meu dia, eu não consigo trabalhar direito enquanto não vejo você chegando na delegacia, no começo com aquele sorriso cínico e debochado, depois com aquele sorriso lindo e cheio de vida que era direcionado somente para mim. Sempre foi você. Meu mundo. Eu posso dividir minha vida no antes e depois de você aparecer nela, e cara, o melhor com certeza e depois de você. Eu só lamento que eu tenha demorado meses para aceitar esse sentimento. Perdemos muito tempo trocando farpas um com o outro.

Ele se aproximou mais da cama e falou com o rosto quase colado no de Lucas.

- Mas temos muito tempo ainda. Então volta pra mim, por favor. Não me deixe. Eu preciso continuar sentindo o que sinto por você, porque por mais que tudo seja difícil, você ainda e a razão de eu levantar todos os dias. Então não ouse morrer e me deixar aqui sozinho, porque eu nunca vou me perdoar se eu te perder. Eu te amo demais Lucas.

Caique deu um beijo na testa de Lucas no exato momento em que a enfermeira entrava no quarto. Ela se aproximou calma.

- Senhor, o horário de visitas acabou.

 

Enxugando as lagrima Caique saiu da sala e olhou uma última vez para Lucas, então voltou para a recepção para se encontrar com Angélica.

Eu Odeio Te AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora