Trinta anos esta noite

1.5K 257 287
                                    

Segura na mão de Deus e vai, segue adiante 🎶 Esse é um dos últimos capítulos do Caio, o penúltimo, e é um pouco maior que o comum. Aproveitem 💕

Olho para o amontoado de folhas a minha frente. Ao lado, meu bloquinho azul piscina está com duas folhas completamente rasuradas. São ideias, conceitos, coisas que poderiam melhorar a peça principal.

Sinto uma mão em meu ombro e uma larga caneca de café é colocada diante de mim. Damien se senta ao lado e coça o queixo discretamente enquanto encara nosso trabalho conjunto.

— Eu acho que está muito bom.

— Você não entende, eu acho que ele vai odiar até se eu escrever o próximo "O Fantasma da Ópera" ele me odeia.

Bufo enquanto encaro o pequeno prato vazio de bolo que deixei ali. Meus olhos já pesados de sono só me pediam para parar.

Apoio a cabeça no ombro de Damien enquanto respiro fundo.

— Ninguém odeia você, Caio. Isso é fisicamente impossível, tá bem? Só...

— Só?

— Tente não ser tão direto da próxima vez, fale com um tom suave.

O encaro, erguendo uma sobrancelha.

— Qual é?

— É sério.

— Eu sou suave — digo encolhendo os ombros.

— Então me mostre.

— Ah, porra.

— Caio! — ele aponta para os próprios olhos com dois dedos e eu me concentro, tentando não
Rir de sua expressão séria. Pisco algumas vezes e foco no verde claro de suas irises. Limpo a garganta por um instante e relaxo os ombros. sorrio com o canto dos lábios e me certifico que meus olhos pareçam acolhedores.

Os traços de Damien se suavizam um pouco e no canto de sua boca uma insinuação de sorriso de faz presente.

Por um segundo me distraio com o modo como ele me encara, o olhar fixo... carinhoso?

— Senhor... — começo. — Acredito que organizei algumas ideias que podem... que vão servir para o nosso enredo. Espero que estejam do seu agrado.

Termino a frase, sentindo-me como um idiota por estar interpretando um menino bonzinho. Mas me divertindo igualmente por qualquer que fosse o motivo.

— Eu mudei de ideia — Damien diz sem desviar o olhar.

— O que foi? Eu dei meu melhor.

— Esse olhar, esse tom de voz... Não fale assim com ninguém além de mim.

Meu coração acelera, tenho medo que ele possa ouvir. Me inclino levemente para frente, apenas para falar baixinho:

— Posso saber por quê?

— Por que o seu diretor pode se apaixonar — ele sussurra, mais para si do que para mim. Meu coração está na garganta. Sinto minha bochechas quentes e meus dedos vibram, como se fosse razoável a ideia de estender e tocar.

— Damien...

— E você não quer isso, quer? — o tom dele é baixo, os olhos, antes focados nos meus, descem lentamente até minha boca. Congelo, sentindo minha barriga gelada, os pernas tremendo. Imagino, por um instante, como deve ser, como aqueles lábios macios seriam em contato com a minha pele.

Como se eu pudesse ler sua mente, sei que ele também imagina. E isso me faz avançar alguns centímetros a frente.

— Vou... — ele gagueja. — Vou pegar água para mim, finalizamos quando eu voltar. Já são duas da manhã.

Oblíquo Where stories live. Discover now