— Acha? — Caio respirou fundo e seus olhos grandes pararam nos meus, paralisados por alguns segundos antes que a expressão séria de desfizesse em um meio sorriso. Encostei minha testa na dele e fechei meus olhos brevemente antes de me afastar e segurar seu rosto entre as mãos.
— Sei que você está nervosa, mas olha, as coisas estão caminhando. Dê uma chance para os atores mostrarem o que tem.
Caio assentiu e eu me afastei um passo, soltando seu rosto e esperando, os dedos finos alcançaram os meus e eu não pude evitar o som surpreso que me escapou e me fez apertar os lábios, tentando disfarçar desesperadamente para não parecer um idiota.
Ele estava segurando a minha mão!
— Você tem razão, eu vou me acalmar.
— Bom, eu vou procurar por Lucas, preciso mesmo falar com ele, quer vir?
— Não, eu vou voltar para ajudar os atores, vai lá. A gente se vê na hora do ensaio.
— Guarda um lugar do seu lado?
— E eu não sempre guardei?
Senti um sorriso gigante tomar meu rosto enquanto eu o assistia acenar, já de costas, caminhando de volta ao camarim.
Girei os calcanhares e comecei a caminhar pelos corredores, cantarolando baixinho uma versão "I wanna be your slave" do Mâneskin quando ouvi o som de um objeto caindo no chão da sala de Bernardo, cujo cada alma ali jurou que não se encontrava.
Parei de cantar, segurei o peso em meus pés, tornando-me invisivelmente imerso nos outros sons do teatro e me aproximei.
— O que eu não entendo, Lucas, é o que você está fazendo aqui, me perguntando esse tipo de coisa.
— Você uma vez me disse que um amor se cura com outro. É por isso que...
— Saia da sala.
— Você não está nem me ouvindo, por que você não me ouve? Se fosse o...
— Quem? De que pessoa você vai jogar o nome? Estou muito curioso. Eu disse isso a você porque Leticia parecia gostar do seu amigo, eu sinto muito se te dei a ideia errada ou coisa do gênero.
Puta merda.
Dei dois passos gigantes para trás, pronto para me virar e correr de volta para Caio. Será que ele sabia o que estava acontecendo? Mas então o som da maçaneta sendo girada me fez desacelerar o passo. Se eu corresse pareceria que eu estava bisbilhotando, não?
— Damien?
— Lucas! Eu estava justamente te procurando... — Me virei de volta para meu amigo e uma raiva surreal subiu por meu peito quando vi seus olhos vermelhos de lágrimas.
Eu o incentivei a ser honesto consigo esta manhã e aquele filho da puta dentro daquela sala xexelenta não o acha bom o bastante? Quem ele pensava que era?
— É sobre os cenários? Será que pode ser amanhã? Juro que te procuro logo cedo, é que eu estou passando mal.
— Claro, não tem problema. Quer que eu pegue uma água para você?
— Não, eu vou pra casa. Você avisa o Caio? Pede desculpas e diz que eu tenho certeza que vai estar lindo.
— Pode deixar. — Ele passou por mim com uma tentativa de sorriso fraca pintada nos lábios e eu encarei a porta fechada com um longo suspiro.
Que filho da puta.
Considerei ir até lá, mas a verdade é que eu não tinha o menor direito de me meter nisso. Então observei Lucas cruzar o corredor até sumir de vista e caminhei de volta ao centro de poltronas, onde vi alguns dos convidados, provavelmente de Bernardo, se aproximando para assistir ao ensaio geral. Alguns atores já se aqueciam no palco.
ESTÁ A LER
Oblíquo
RomanceCaio sabia, estar apaixonado era uma maldição que em nada parecia com filmes ou séries de TV onde tudo acaba em um lindo beijo cinematográfico, tudo o que ele conhecia depois de quatro anos amando em segredo seu melhor amigo, Damien, era a longa lis...