Questão de tempo

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Engulo em seco, sentindo o ar pesar. A música alta passa a soar como pancadas em meus ouvidos. Eu conheço aquela sensação. Me afasto da porta, dos barulhos vindo de dentro do quarto, e tento pensar claramente.

Para ser justo, Damien não me devia nada.

Ele tinha aquele direito.

Eu não tinha porque ficar tão abalado com uma situação daquela.

Me virei ao corredor a minha frente e olhei para as pessoas que se aglomeravam na sala, parecia um caminho longo demais para percorrer agora e eu precisava mesmo me sentar, precisava porque meu peito doía como o inferno parecendo não levar em conta o que que era racional e eu já sabia, meu amigo tinha uma namorada e nesse momento estava com ela.

Caminho então, vou andando com a melhor postura que posso até o sofá da sala. Tem gente ali, muita gente, mesmo assim me sento, ignorando a conversa, esperando que meu rosto estivesse convincente o bastante para me misturar.

– Eu encontrei. – Pedro diz, se jogando no acento ao meu lado com um pratinho branco com uma enorme fatia de bolo. – Estava com um pessoal ali, eu tive que trocar favores.

Me viro na direção do chamado e encaro a torta com aparência já duvidosa. Meus olhos, traidores, se enchem de um líquido morno que me denuncia. Sinto minha respiração falhar e um soluço escapar por meus lábios no mesmo momento em que Pedro arregala os olhos.

O prato com a sobremesa quase voa em direção a mesa de sinto e as mãos dele me puxam rápido, enfiando meu rosto em seu peito.

Eu agradeço em silêncio, seria uma merda se alguém realmente me visse chorar.

– Vem – Pedro fala baixo o suficiente para que só eu o ouvisse e estou sendo levantado do sofá com toda a gentileza do mundo.

Eu não gostava disso, que meus amigos precisassem me consolar no meio de uma festa feliz. Eu ainda estava feliz, ainda pensava em começar meu trabalho na segunda depois das aulas. Era uma realização gigante.

Aquilo era só um momento de fraqueza.

– Aconteceu alguma voz? – uma voz que não reconheço questiona.

– Ele bebeu demais, vou levar para descansar. Acho que a festa acabou – ele diz e quase posso sentir o sorriso condescendente em sua voz. – Lucas.

Sinto os segundos correrem antes de ouvir novamente a voz de Pedro.

– Acho que a festa acabou – ele diz e eu me sinto péssimo por aquilo. – Venha, Caio.

Permito que ele me apoie, em parte porque Pedro era mesmo um homem de abraços e esse hábito me deixava muito confortável, em partes porque eu realmente queria ir até meu quarto e respirar um pouco.

– Ah, é claro – Lucas responde.

– Não precisa acabar com a festa – digo, tentando lhes mostrar um sorriso, um pouco de bom humor. – Eu estou perfeitamente... – Pedro bota a mão em minha boca enquanto me puxa para frente, para meu quarto e abre a porta para mim.

– Entre logo – ele aponta para dentro e bufo de leve antes de obedecer.

– É sério – reafirmo, mostrando que já não haviam mais lágrimas ali. Pedro balança a cabeça, seus olhos claros focam nos meus e ficam ali por um tempo antes que ele diga:

– O que ele fez? – Cruzo os braços sobre o peito enquanto dez diferentes respostas passam por minha cabeça.

Ele quem?

Oblíquo Where stories live. Discover now