Oblíquo

O brilho eterno de uma mente sem lembranças

Some mistakes get made
That's alright, that's okay
You can think that you're in love
When you're really just in pain
Some mistakes get made
That's alright, that's okay
In the end it's better for me
That's the moral of the story
-Ashe

Minha mente parece em branco, lembro apenas vagamente de um relato sobre uma namorada chamada Leticia. Uma menina divertida que namorou com Damien por um ano. Trezentos e sessenta e cinco dias.

Quando ele contou sobre ela, disse que terminaram quando ele entrou na faculdade, duas semanas depois. Ele não disse o porquê e eu não perguntei.

Olho para Lucas com as mãos enfiadas no bolso e olhar focado a frente. Ele parecia magoado, magoado de verdade.

— Ele fez alguma coisa?

— O Damien? Não — Lucas balança a cabeça. — Ele não fez nada. Mas ela não parece muito a fim de mim. — Ele dá de ombros, quase se encolhendo. Coloco a mão no ombro dele soltando um longo suspiro.

— Por que estão longe? — a pergunta sai quase embaraçada, num tom de voz mais sério do que deveria e Pedro vira o rosto para nós dois, dando alguns passos para trás e parando ao meu lado, seu olhar é curioso.

— Como foi a reunião? — suspiro cansado, meus olhos ainda olhando para as pessoas a minha frente. Um turbilhão de pensamentos sobre o dia cansativo e sobre como melhorar o humor de Lucas corriam soltos por minha mente.

— Cansativa.

— Bernardo é um pouco difícil, eu ouvi falar, mas também ouvi dizer que é um bom cara.

— Ele é um meio para um fim, acho — completa Damien, que também se juntou a nós. — Te dará acesso a pessoas grandes, Caio.

— Exato — diz Leticia quando cruzamos as portas duplas e o vento frio da noite bate em meu rosto. — Mas repito o que Pedro ouviu, ele é um homem gentil e você muito talentoso, Caio. 

— Como você sabe meu nome? — franzo o cenho.

— Todo mundo na faculdade de arte sabe quem você é — é o que ela me diz.

Damien abre um sorriso largo.

— Eu digo isso a ele, mas ele simplesmente não escuta.

Cruzamos a primeira esquina iluminada e, ao final da rua, vejo a hamburgueria mencionada por Damien. Eu realmente estava com fome.

Ainda com a mão no ombro do Lucas tento sorrir para animá-lo. Se eu pudesse, o tiraria dali. Respiro fundo o ar frio e tanto desfocar do que as pessoas ao meu lado falam. Uma conversa animada sobre algo relacionada ao nosso curso.

Esfrego os braços e vejo que Pedro está me encarando, olho para ele com um pequeno sorriso esperando passar a sensação de que está tudo bem.

Porque está.

Eu não estava me sentindo mal.

Avisto ao fim da rua a hamburgueria e suspiro. Meu estômago está roncando e eu poderia engolir três hamburgueres gigantescos. Olho em volta, para as pessoas ao meu redor e observo os olhos de Damien em mim, mesmo com Pedro e Leticia entre nós.

Isso era bem legal, na verdade.

Não que fosse uma competição, não que eu estivesse sequer na jogada, mas a testa franzida dele e o incomodo aparente por estar longe o bastante, querendo saber como foi a reunião pela qual ele também trabalhou era boa para cacete.
Cruzamos a primeira esquina iluminada e, ao final da rua, vejo a hamburgueria mencionada por Damien. Eu realmente estava com fome.