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Isa encarava o teto esperando que ele parasse de girar em algum momento. Ainda podia sentir o gosto amargo do comprimido solúvel para enjôo que Mona havia dado para ela minutos antes – e que ainda não tinha feito efeito – após uma breve discussão com Valquíria, que acreditava ter um feitiço infalível para aquilo. Isa tinha certeza que, depois daquilo, nunca mais beberia nenhum tipo de bebida gaseificada. 

Seu pai, contrariado, deixou a casa após tentar amparar a filha e ser recusado com a desculpa de que Isa precisava ficar sozinha. Ela precisou se livrar rapidamente dele antes que percebesse a presença das três garotas que entraram sorrateiramente em sua casa, e ele não queria causar ainda mais conflitos com Isa. Às vezes a passividade dele era bem-vinda. Ter seu espaço respeitado pelo pai, mesmo que a contragosto dele, era uma das grandes qualidades da relação entre os dois, diferente de sua mãe, que parecia estar em todo lugar a todo momento, como um ser onipresente. 

Isa fechou seus olhos e suspirou. O pensamento sobre King estar morto a poucos metros de distância fez com que seu estômago embrulhasse novamente. Talvez o feitiço de Valquíria não fosse uma má ideia. 

Uma mão gelada pousou sobre sua testa e afastou os cabelos curtos grudados em seu rosto. Isa abriu os olhos imediatamente e Mona apareceu em seu campo de visão curvada sobre ela.

— Você está bem? — A garota dos cabelos cacheados presos em rabo de cavalo estava com as sobrancelhas franzidas, genuinamente preocupada.

— Eu vou ficar bem — Isa suspirou aliviada por ter sido Mona a tocar nela. Era inevitável que sua mente não fosse levada a acreditar que o Azar estava próximo o todo tempo.

Mona se sentou perto da cabeça de Isa e puxou uma almofada para o seu colo cobrindo suas coxas nuas. A garota Albani voltou a fechar seus olhos. Se sentia fraca. Pensou em se levantar e procurar algo para comer. "Pedir comida para que fosse entregue em sua casa seria mais fácil", ela pensou. 

Seus pensamentos foram interrompidos pelas vozes vindas de algum ponto atrás do sofá em que estava deitada, o que só podia significar que estavam a alguns metros de distância na cozinha. Reconheceu que eram Ariana e Valquíria discutindo algo que ela não conseguia entender de onde estava. Isa levantou seu corpo o suficiente para que pudesse enxergar a cozinha por cima do encosto do sofá. 

— O que vocês estão fazendo? — Ela perguntou sem enxergar nenhuma das duas meninas.

Valquíria e Ariana se levantaram ao mesmo tempo de trás da bancada da cozinha, aparecendo no campo de visão de Isa. 

— Limpando a sua bagunça — Ariana respondeu como se fosse a resposta óbvia para a pergunta.

— Vocês não precisavam fazer isso — Isa estava envergonhada por aquilo. Havia derrubado o café e a xícara tinha se espatifado.

— Não foi nenhum esforço — Valquíria sacudiu a mão no ar e sorriu.

Ariana girou a cabeça na direção da garota loira que, surpreendentemente, estava com um sorriso simpático nos lábios, e expressou incredulidade. Isa ergueu as sobrancelhas prevendo que não sairia algo bom daquilo.

— Você está brincando, né? — Os olhos de Ariana estavam semicerrados esperando pela resposta.

— O quê?! — Valquíria interpretou o papel de garota inocente que claramente não era.

— Eu limpei tudo sozinha, Valquíria! 

— Não é verdade. Eu borrifei... Essa coisa — Ela levantou o frasco borrifador e o chacoalhou no ar. 

— Inacreditável... — Ariana recomeçou a discussão.

Isa se jogou novamente no sofá ignorando mais uma discussão entre Valquíria e Ariana. Sabia que duraria por mais tempo e não se desgastaria com aquilo. Buscou entre suas memórias alguma história que explicasse a briga incessante entre as garotas Castro e Venturi. Não se lembrou de nada que não fosse óbvio: Nenhum dos clãs realmente se davam bem. O que acontecia entre as duas deveria ser só incompatibilidade de personalidades com uma pitada da velha história das bruxas antigas de Belalís.

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