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Assim que chegamos na minha casa, meu irmão foi correndo brincar com os trenzinhos dele e eu e a Liara fomos para a cozinha esquentar o almoço. Meu celular vibrou no bolso indicando uma nova mensagem e eu fui olhar.

Era a minha mãe:

"Filha, o Bernardo está com dois amigos aqui, mas quando eles forem embora eu te aviso para vc vir e eu ir ficar com o Cae"

Imaginar as coisas que a Lavínia poderia contar para o Bernardo me dava calafrios. Será que ela contaria que ela engravidou dele e perdeu o bebê no acidente? Falaria que ele era apaixonado por ela? Contaria todas as coisas ruins que ele já fez para o povo da escola? Vindo dela, eu espero tudo... Ainda mais que faz tempo que ela tenta fazer o Bernardo ser exclusivamente dela, sem ficar com mais nenhuma garota. Acho um pouco obsessivo essa ideia dela. O jeito que ela se refere a ele e como o olha quando ele não está notando... É bem estranho...

Contudo, o Giovanni está lá e não acho que ele vá permitir que ela dê esse banho de água fria nele, a não ser que os dois fiquem sozinhos. Apesar de não gostar do Giovanni tanto quanto eu não gosto do Bernardo, é nítido o quanto ele se preocupa com o amigo e não vai deixar ninguém fazer mal a ele (bom, isso é o que eu acredito e, de certa forma, espero).

"Ok, mãe! Eu e a Liara estaremos estudando..."

Guardei o celular de volta no bolso e fui ajudar minha amiga com o almoço.

-Estou pensando em fazer faculdade de cinema. -Ela puxou assunto colocando os pratos na mesa, mas não parecia muito empolgada com a ideia.

Como todo mundo já sabe, a Liara é apaixonada por filme e nada mais justo do que ela seguir nessa carreira. Tenho certeza que ela se daria muito bem no meio cinematográfico.

-Que incrível, Li! Mas por que essa carinha?

-Meus pais... Meus primos são médicos, engenheiros e advogados... Eles reclamam de eu querer cinema.

Juro que não esperava isso deles... Os pais dela são tão legais e não deveriam reclamar por ela não querer seguir as carreiras clichês. Deveriam apoiá-la nas suas decisões e ajudá-la a conquistar seus sonhos e objetivos.

-Que chato...

-Muito! Mas eu já disse que não importa o que eles querem, eu vou fazer cinema e vou ser muito bem sucedida na minha carreira! -Ela ergueu a cabeça.

-Eu não duvido disso. -Sorrimos uma para a outra. -Mas você não pode desistir de falar com os seus pais e mostrar o quanto ama isso que escolheu. Por mais que eles não concordem de ser a carreira certa para você, eles podem ver o quanto isso te faz bem e te apoiar.

-Não vou desistir, mas é difícil ficar em uma casa que toda hora eles mandam indireta falando o quanto medicina paga bem ou que conhecem vários engenheiros para me apresentar.

-Seus pais são legais, eles só querem o seu bem e sei que, no final, eles vão te apoiar. -Ela concordou com a cabeça, encerrando o assunto.

-Vamos comer? Você precisa me ajudar a entender a matéria de física de hoje.

Fui a sala chamar o meu maquinista preferido.

-Hora de comer, meu amor. -Ele gesticulou falando "Depois".

Cheguei perto dele e sentei ao seu lado.

-Já viu o tamanhão desse trem? -Peguei um de seus brinquedos e coloquei na frente de seus olhos. -O maquinista tem que ser muito forte para conseguir guiá-lo e para ele ficar forte ele almoça direitinho.

Ele desviou o olhar do trem para mim e ponderou a ideia. Por fim, aceitou e se levantou.

Como ele poderia sempre fazer as coisas sem birra.

De repente tudo mudouWhere stories live. Discover now