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-Porque você não gosta de mim e é sincera. Não sincera como a sua melhor amiga, a Liara, você é sincera com jeitinho. -Ele deu um sorriso. Não me permitir sorrir, mas compreendi a diferença que ele estabeleceu. A Liara é irônica e sincera, mas nas suas sinceridades, às vezes, vêm uma farpa junto. Eu amo o jeito da minha melhor amiga, amo como ela se impõe e sempre me defende, mas sei que ela usa isso como uma capa para as pessoas não acharem que podem se aproveitar dela... Desde que aquele relacionamento de merda dela acabou, ela mudou, tornando-se mais forte. -Você não vai amenizar as coisas que eu fiz, porque não é minha amiga.

-Como sabe que eu não vou fazer isso pela sua mãe? Eu a amo e a última coisa que eu quero é que você a magoe sabendo quem é, sem realmente se lembrar das coisas que fez.

-É justamente por ela que eu quero saber. Quero saber porque ela chora tanto e se preocupa tanto.

No fim, alguém vai ter que contar para ele. Eu queria que não fosse eu, mas eu sou melhor para falar sobre isso do que a Lavínia, Kátia, Leonan ou qualquer outro amigo dele, né? Eu me preocupo de verdade com a mãe dele e não quero que ele volte a ser um babaca como os amigos. O Bernardo não vai me deixar em paz se eu não ajudá-lo a descobrir a verdade sobre si mesmo.

-Tem certeza? -Ele assentiu.

Fechei a porta do armário e sentei na poltrona.

-O que quer saber? 

-Por que a minha mãe age como se eu não a amasse antes?

Isso vai ser mais difícil e estranho do que eu pensei...

-Sincera com jeitinho, né? -Ele assentiu e eu suspirei antes de responder. -Depois de uma determinada idade você começou a ligar muito para dinheiro e para andar com as pessoas mais populares da escola. Essas pessoas não costumam expressar muito amor pela família. Você ficou distante, vivia fora de casa e brigava bastante com ela.

-Você via? -Ele perguntou sentido. Não parecia que o Bernardo 2.0 seria capaz de algo assim e isso realmente o chocou.

-Ouvia. 

-E o resto da minha família? Por que ninguém veio me ver? -Ele olhou para as mãos e deixou uma lágrima escorrer. -Por que ninguém veio apoiar a minha mãe? -Ele limpou os olhos.

Eu nunca imaginei que veria o Bernardo tão aberto e sem armadura. Ele estava ali de corpo e mente, mostrando suas fraquezas para mim e eu estava impressionada em ver que a falta de experiências traumáticas, o transformaram em um cara bom... 

Eu não queria que ele sentisse mais dor do que estava sentindo, não queria ser a pessoa que traria tudo a tona. Não queria ser a sincera com jeitinho, queria ser a pessoa que mentiria para ele para fazê-lo se sentir melhor, mas ele confiava em mim e, por algum motivo, eu não queria quebrar essa confiança.

-Bernardo, se você era capaz de brigar com sua própria mãe... 

-Eu podia ser um monstro, mas ela não é! -Ele alterou um pouco a voz, mas não gritou. Não queria que a Flávia sentisse que algo estava errado. -Ela é a melhor pessoa desse mundo e merecia o apoio da família! Será que eu era tão ruim assim a ponto de ninguém vir ajudar a minha mãe? Ela é tão maravilhosa, Anne! Ela é a pessoa mais incrível que eu conheci na vida e vê-la sem um familiar próximo, dói demais! Dói mais que todos esses pontos e cicatrizes no meu corpo! -Ele não conseguiu mais controlar as lágrimas e ao invés de algumas, ele começou a chorar para valer.

De repente tudo mudouWhere stories live. Discover now