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É óbvio que acordar na segunda feira foi um sacrifício! O meu irmão pulo em cima de mim e eu senti minha cabeça latejando. Levantei da cama, pois não tinha muita opção, precisava ir para a escola. Dei uma olhada no meu celular e vi que tinham muitas mensagens no grupo que criamos ontem no calor do momento. Todos estavam com o mesmo problema: Ir para a escola de ressaca.

"O Bernardo marca rolê domingo porque não lembra o que é ir para a escola de ressaca!" -A Júlia falou.

"Só vou em rolê com o Bernardo e bebida de novo se for em um sábado!" -A Liara respondeu.

Eu estava com tanta dor de cabeça que não consegui pensar em nada para responder. Joguei o celular na cama e fui me arrumar, por falta de opção. 

Demorei alguns minutos a mais que o normal, mas logo estava pronta. 

-Bom dia, família. -Forcei um sorriso, tentando não deixar transparecer o quanto eu estava derrotada. Eles me cumprimentaram.

Tomei um remédio e o meu café da manhã e fui para a escola, deixando o meu irmão na sua antes. Assim que passei do portão, dei de cara com os meus amigos sentados perto de uma árvore e fui até eles. No caminho, vi a Júlia com os amigos dela e ela parecia bem, apesar de ter dito que estava de ressaca. Assim que ela me viu, sorriu e acenou para mim. Retribuí o gesto. 

-Apesar de eu estar querendo jogar minha cabeça na lixeira, eu gostei de ontem . -Escutei o Diego falar. 

-Você e o Caíque não têm ideia do que aquele menino era, ontem foi, no mínimo, assustador. 

-Eu concordo. -Falei me enfiando na conversa. -Mas você se acostuma.

-Já está defendendo ele? -A Liara me zoou e eu revirei os olhos.

-Não me irrita logo cedo.

-Não sou eu quem vou te irritar. -Ela falou olhando para alguém atrás de mim. Quando me virei, vi que o Giovanni estava andando em nossa direção.

-Que história é essa de você achar que pode ser amiguinha do Bernardo? -Seu tom era autoritário e rude. Mas, lá no fundo, dava para ver que ele estava, de alguma forma sinistra, sentindo falta do melhor amigo. Não que eu devesse me importar com ele, ou com qualquer coisa que diz respeito a vida do Bernardo, mas eu acho que o Giovanni se importa de verdade com o Bernardo e pode ser (e eu disse pode ser) que o Bernardo consiga fazer algo de bom pelo Giovanni, como da vez em que o ajudou a superar o término dos pais.

-Está com ciúmes? Leva o Bernardo para a sua casa. -A Liara respondeu. -Ah, esqueci, ele não quer mais ser seu amigo.

-Tudo culpa da Anne que fica falando mal da gente para ele. -Revirei os olhos.

-Eu não preciso ouvir isso essa hora da manhã, preciso? -Respondi olhando para ele. -Vocês conseguiram queimar o filme de vocês com ele sozinhos. 

-Vamos para a sala? -A Liara chamou e meus amigos concordaram. 

-Eu já vou, vão indo na frente. -Falei.

A Liara me olhou muito confusa, mas não discutiu. O Giovanni me olhou curioso, por eu não ter saído correndo junto com os meus amigos.

-Presta bem atenção que eu vou dizer tudo o que eu tenho para dizer uma vez só. -Ele abriu a boca para contestar, mas eu o olhei feio e ele desistiu. -De todo aquele bonde tóxico de vocês, eu sei que o único que se preocupa de verdade com o Bernardo é você. Sei o quanto ele te ajudou na época do divórcio dos seus pais e o quanto você o ajudou a ganhar espaço na escola depois disso. O problema não sou eu, a Liara ou os meninos, a gente só está sendo para o Bernardo, o que nenhum de vocês quer ser! Amigo. O Bernardo precisa de pessoas que conversem com ele, que o escutem e que queiram estar com ele agora e não pessoas que ficam fazendo de tudo para ele lembrar de coisas que ele não consegue e que ele não quer lembrar. Vocês são amigos há tanto tempo, não é possível que a única coisa que vocês faziam juntos era falar mal e pensar em jeitos maléficos de estragar a vida de alguém. Seja com ele a pessoa que você era antes dele perder a memória, mas não aquele cara que paga de machão para agradar as sem noção que acham isso interessante, mas aquele menino que passava o fim de semana na varanda jogando bola e rindo de piadas sem graça de futebol. 

-Eu... -Ele olhou para todos os lugares ao seu redor, menos para mim. 

-Tchau, Giovanni. -Não fiquei ali esperando que o cerebrozinho dele processasse tudo que eu falei, eu tinha mais coisa para fazer da minha vida. 



De repente tudo mudouWhere stories live. Discover now