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  Dois anos e seis meses atrás.

 
Suspirei, soltando o pimentão e a faca ao qual cortava o legume sobre a taboa de madeira. Me virando em direção ao fogão com certa pressa. Conseguia sentir o cheiro de queimado vindo de uma das panelas, e me xingava mentalmente por ser tão desatento na cozinha.

–Consigo sentir seu cheiro irritadiço da porta de entrada, meu bem.– O salto que dei pelo susto que levei quase me fez derrubar a tampa de vidro da panela, porém felizmente coloquei sobre a pia antes da tragédia acontecer.

–Alfa!– Meu tom era de repreensão, enquanto colocava minha mão sobre o peito, sentindo meu coração bater mais rápido. O olhei de canto e pude ver ele se aproximando com seu sorriso característico, e que eu tanto amava.

–Desculpa, bem.– Ele veio para trás de mim, me abraçando pela cintura, colando seu corpo ao meu. –Pensei que tivesse sentido meu cheiro.

Tentei olha-lo pelo ombro e senti ele afrouxar o aperto em meu entorno, aproveite para me virar de frente.

–Sabe que meu olfato tem piorado. Por isso acabei de queimar o arroz.– Estralei a língua no céu da boca, apoiando meus braços em seus ombros, o trazendo para mais perto.

Ele soltou um riso fraco, encostando nossos lábios por alguns instantes. –Pensei que tinha queimado porque é péssimo na cozinha.

O belisquei no queixo, formando uma carranca no mesmo instante.

–Não fale mal dos meus dotes culinários, seu alfa de meia tigela.– Ele riu mais uma vez, dessa vez com mais vontade. Até que me deu outro selinho e se soltou.

–Estou um pouco cansado, vou subir pra tomar um banho e deitar por algum tempo, tudo bem?

Concordei com um aceno, mesmo que ele não tenha exatamente esperado por minha resposta. Me encostei na bancada, o vendo sair da cozinha, até que me lembrei de algo importante.

Dei uma corridinha até alcança-lo, ele já estava no meio da escada pro segundo andar, acho que andar rápido era mal de militar.

–Senhor Joong,– Ele se virou, me olhando atentamente. Seu rosto sem expressão ainda que as orelheiras e o cansaço fosse evidente. –Não esqueça de colocar a farda pendurada, porque se eu tiver que lavar isso correndo como das últimas vezes, eu vou cortar seu pescoço fora, alfa.

Era um alerta grave, mas de novo o alfa não me levou a sério quando deixou um riso e um sorriso brotarem em sua face.

–Tudo bem, Senhor Baekhyun, não esquecerei. Incrível como agora mesmo eu estava pensando nisso, sabe, pendurar a farda e tals. 

Sabia que ele estava brincando com a minha cara, e já estava preparado para tacar nele meu chinelo, quando o vi sair em disparada andar a cima, deixando o som da sua risada percorrer e desaparecer casa adentro.

Balancei a cabeça algumas vezes, negando para o nada. As idiotices que meu alfa fazia sempre me arrancavam sorrisos abobalhados no final.

Andei em direção a cozinha novamente, com a missão de terminar o jantar logo, porém fiquei deprimido assim que cheguei próximo a panela com arroz queimado. Tinha certeza que o cheiro estava pela casa toda, mas eu só conseguia sentir estando perto assim dela. Meu olfato, audição e visão tem dado colapsos de piora sem explicação alguma, mas o pior de tudo era que eu sabia que meu cheiro também estava bem mais fraco que o normal, e isso estava me afetando seriamente. Contando que meu alfa, ao qual eu estava casado a exatos um ano e três meses também andava desanimado com isso.

Ainda que nosso casamento tenha sido forçado, eu quis que valesse a pena e que nenhum dos lados sofresse, mesmo que claramente o lado mais afetado seria o meu. Lembro diariamente, mesmo que tento ao máximo apagar essas memórias, dos dois anos de reluta para que aquele casamento não acontecesse. Doía. E eu não gostava de lembrar daquilo. Mas era difícil quando tudo ainda estava tão vivo.

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⏰ Last updated: Apr 08, 2022 ⏰

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