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Eu estava ofegando freneticamente, tentando dessa forma fazer com o ar entrasse mais rápido em meus pulmões e me dessem mais forças para continuar andando.

Já fazia uns quarenta minutos que eu estava naquela corrida, quase interminável, em direção a minha liberdade.

Em direção ao terminal rodoviário, mas precisamente.

Minhas costas doíam, assim como todo meu corpo. Mas parecia que o peso da bolsa que carregava tinha aumentado em duas vezes mais e era inevitável que choramingos dolorosos saíssem dos meus lábios a cada passo apressado que dava.

Olhei apressadamente para os dois lados da rua, antes de atravessar o mais depressa que minha condição física suportava, e quando finalmente alcancei a entrada chamativa e grande da rodoviária quase despenquei, mas apoiei no corrimão dos degraus que davam acesso ao interior do lugar a tempo.

Com a cabeça abaixada, permiti que minha respiração voltasse ao normal, tentando ao máximo me acalmar.

-Tudo bem, Baek,- Sussurrei pra mim mesmo, segurando com mais força no corrimão desgastado, quase enferrujado. -Só mais um pouco, você aguenta.

Com a adrenalina ainda totalmente ativada, voltei a erguer o corpo, que havia curvado pelo cansaço. Subi os degraus um pouco mais de vagar do que andava anteriormente, mas isso não impediu que os hematomas que haviam no meu corpo doessem menos. Os choramingos, mesmo que baixos, chamavam a atenção dos alfas que passam ao meu lado, fiz de tudo para manter minha cabeça baixa, colocando o capuz da blusa que usava para tentar me esconder.

-Por favor, uma passagem para a capital.- Chamei baixinho a atendente assim que cheguei ao balcão de atendimento.

Pelo cheiro adocicado, era uma ômega.

-Carteira de identidade.- Pediu meigamente, enquanto começava a mexer no mouse do computador a sua frente.

Assenti retirando a bolsa das costas, colocando sobre o balcão. Abri o bolso da frente, tirando meu documento e o escasso dinheiro que pagaria a passagem, rezava para que sobrasse para pelo menos um lanche.

Não comia nada a horas.

-Aqui.- Estendi o documento que logo foi pego.

Permaneci calado observando discretamente o pouco movimento da rodoviária. Não estava surpreso por não ter quase ninguém, o que as pessoas viriam fazer em uma cidade como aquela?

-Senhor Kim.- Escutei a voz da ômega e automaticamemte me virei para a mesma. Não conseguindo conter a careta quando ouvi o sobrenome pelo qual fui chamado.

-Por favor, me chame de Byun.- Pedi gentilmente, ganhando um acenar positivo, por mas que ela parecesse confusa.

-Senhor Byun,- Ela falou se corrigindo, e eu não evitei o sorriso meio torto que soltei, totalmente satisfeito. -Vi pela documentação e sistema que tem um alfa, onde ele está?

Prendi a respiração automaticamente, não conseguindo conter as lágrimas que começavam a brotar nos meus olhos.

Merda, mil vezes merda. A autorização.

-Hm, ele...- Tossi tentando tirar o no que se acumulou em minha garganta. -Não estou mais com ele.- Respondi rápido, tentando fazer minha voz não tremer, assim como eu estava naquele momento.

-Entendo...- Ela murmurou, parecendo meio perdida por um momento. -Mas o senhor sabe que ainda precisa da autorização dele para sair da cidade, não é?

Não consegui segurar as lágrimas que começaram a despencar, se arrastando pelas minhas bochechas. Abaixei a cabeça tentando fazer com que ela não visse aquilo. E merda, eu nunca odiei tanto aquela herarquia como naquele momento.

Ômegas que eram comprometidos, sendo marcados ou não, tinham o alfa como seu responsável legal, sobre tudo. E para viajar sozinho, o ômega tinha que ter o alfa ao seu lado para dar a autorização, ou, uma carta autenticada, permitindo aquilo.

E eu estava fugindo, não tinha nenhum dos dois.

-Por favor, me ajuda.- Sussurei chorosamente para que só a ômega atrás do balcão pudesse ouvir. - E-eu preciso sair desse lugar.

Conseguia sentir o olhar de pena que ela me lançava, e eu tinha certeza que ela tinha compreendido a situação apenas em olhar o roxo que eu tinha ao redor do olho esquerdo, ou até pelos meus lábios cortados.

-Se me pegarem, eu serei demitida.- Falou também baixo, ainda me lançando um olhar penoso.

-P-por favor, eu te im-imploro.- Senti minha voz falhar toda vez que um soluço saia.

Se eu continuasse a soluçar daquela forma chamaria atenção, precisava me conter, por isso, prendi a palma da mão nos dentes, tentando me calar.

-Eu não...- A ômega se cortou quando me olhava, mas então varrendo os olhos pela rodoviária, começando teclar no teclado do computador rapidamente logo em seguida.

Permaneci a observando, ainda prendendo a mão entre os dentes, sentindo meu peito subir e descer em solavancos a cada soluço que eu não deixava sair, enquanto as lágrimas continuavam a rolar livremente.

Mais uma vez a ômega olhou ao redor, e então estendeu meu documento, junto com uma passagem.

Arregalei os olhos, retirando a mão da boca, esfregando meu rosto para afastar as lágrimas, logo pegando os papéis.

-Por favor, agora eu quem peço, não diga a ninguém que fiz isso, é contra a lei, e eu posso perder o emprego, assim como posso ser presa.- Ela disse suplicante, parecendo meio duvidosa em me dar a passagem.

Assenti freneticamente com a cabeça em concordância. Tentando passando a ela a confiança de que não falaria nada.

-N-não contarei.- Falei gaguejando, ganhando um acenar positivo dela, mesmo sendo possível notar que ela não confiava cem porcento.

E eu realmente a compreendia.

Quando o choque de que eu realmente havia conseguido a passagem passou, arrastei o dinheiro que havia colocado sobre o balcão até ela e ganhei um olhar questionador.

-Para pagar a passagem.- Disse calmo. Ela olhou brevemente para o dinheiro, rindo de um jeito leve em seguida.

-Não precisa. Você pode levar sem pagar.- Então, arrastou o dinheiro de volta para mim.

Neguei com a cabeça, tentando devolver o dinheiro, mas ela me impediu.

-Você vai precisar desse dinheiro na capital, acredite.- Exclamou pacientemente. -E isso não paga a passagem toda.- Concluiu.

Senti minhas bochechas queimarem de vergonha. Era o único dinheiro que eu possuía.

-Desculpa...- Pedi envergonhado. Ela sorriu abanando com as mãos.

-Não precisa se preocupar, apenas vá. Eu realmente te desejo sorte daqui em diante.

Sorri levemente, me sentindo feliz por finalmente saber que sairia dali.

-O ônibus sai daqui quinze minutos, se apresse.

Sorri para ela, agradecendo e quase chorando mais uma vez por ela ter feito aquilo por mim, então sai em direção ao setor de embarque.

E eu mal podia acreditar que estava livre daquele lugar e dele.

Arrepios ||  °•chanbaek ABO•° Where stories live. Discover now