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Duas semanas depois.

  Abri lentamente as pálpebras, sentindo a claridade das janelas com alguns vidros quebrados e sem uma cortina arder meus olhos. Antes que eu pudesse me situar, uma voz estridente ecoou pelo lugar.

–Vamos! Levantem-se! Está na hora de saírem.– A ômega que gritava aquilo tinha um pedaço de ferro na mão, e batia com ele nas beliches que passava em frente, no longo corredor de beliches.

Me encolhi quando o ferro na mão da ômega bateu no beliche ao qual eu estava. O som do atrito entre os ferros era insuportável.

–Porra, Hayoung! Todo dia essa barulheira, você não cansa?!– Uma beta, do outro lado do cômodo extenso gritou, levantando meio cambaleante da beliche a qual estava.

E um falatório concordando com a beta encheu o local, até o atrito do ferro ser escutado, ela bateu com o pedaço de ferro no meu beliche novamente, deixei com que um choramingo desgostoso saísse, meus choramingos não afetavam aqueles ômegas e betas.

–Fique quieta Sokk,– Retrucou Hayoung, tentando formar uma expressão séria. –Sabe que faço isso porque preciso que saiam o mais depressa possível. Vocês adoram enrolar.

O burburinho começou de novo, dessa vez com conversas paralelas por todos os cantos, e o ferro de Hayoung voltou a ser batido, ao que a ômega voltou a andar pelos corredores de beliches.

Fazia duas semanas que eu estava ali, mas nunca me acostumaria com aquele barulho às cinco horas da manhã.

Suspirei sentindo meu corpo reclamar assim que me sentei no colchão, deixando minhas pernas penduradas, já que me encontrava na beliche de cima, coçei os olhos com as mãos em punhos, tentando afastar todo o cansaço.

–Conseguiu descansar, Baek?– A voz calma chegou aos meus ouvidos facilmente sobre aquele barulho, e quando afastei meus punhos sorri acanhado para o ômega a minha frente.

–Um pouquinho, Seok.– Respondi baixinho, por pura mania, e sabia que ele havia entendido porque concordou e abriu um sorriso. –E você?

Vi o exato momento que o sorriso dele se transformou em uma careta, me arrancando uma risada, sabia que ele falaria a respeito das suas costas. Era sempre sobre elas. 

–Sinto como se estivesse dormido encima de pedras pontiagudas, Baek, minhas costas estão me matando.– Soltei mais uma risadinha, ele era tão previsível.

Apoiei minhas mãos no colchão e dei impulso, descendo da beliche em um pulo, sem nem ao menos tropeçar quando pousei no chão de pé. Eu já havia me habituado aquilo.

–Baek, pare com isso.– O resmungo de Minseok foi ouvido assim que puxei o lençol que me enrolei para dormir da cama. Olhei para ele curioso, ganhando uma carranca da sua parte. –Por que não usa as escadas? Você sabe para que elas servem, certo?

Respondi com um resmungo, voltando a atenção pro lençol em minhas mãos, o dobrando. E ao menos precisei olhar para o ômega ao meu lado para saber que ele queria me assassinar por nunca ouvi-lo. Ele sempre me repreendia por descer daquela forma, mas na minha concepção, descer pelas escadas laterais da beliche me parecia mais perigoso do que descer de uma vez, em um pulo.

Conheci Minseok no mesmo dia ao qual cheguei, e ele estava aqui a um mês.

Foi engraçado a forma rápida com a qual criamos um laço. Estávamos chorando baixinho durante a madrugada, e fomos repreendidos por uma beta, que alegou estar sendo interrompida do sono, porque na verdade o choro não estava sendo realmente baixo e o Kim retrucou, dizendo para ela calar a boca e respeitar seu momento de tristeza. Isso gerou um momento de confusão, e se foi apaziguado quando Hayo chegou com seu típico pedaço de ferro nas mãos, ameaçando expulsa-los caso não calassem a boca e voltassem a dormir. Nenhum dos dois retrucou ou quis se bater apois disso.

Minseok voltou a deitar, mas menos de um minuto depois estava de pé, dessa vez olhando para mim, então maneou com a cabeça e soltou algo como "me deixa chorar com você? Me sinto sozinho e podemos compartilhar nossas dores assim." E ele mal esperou uma resposta, apenas subiu a escadinha e se deitou ao meu lado na beliche, me abraçando e voltando a chorar, então ele disse "Não acho que intimidade seja necessário nessa situação, sabe? Afinal, intimidade se ganha tendo essas intimidades, não precisa ficar tão rígido e tudo mais, pode voltar a chorar." E eu realmente voltei a chorar, nem lembro quando dormimos, só lembro de acordar no outro dia sendo esmagado pelo peso dele.

–Deixe disso, Seok, se apresse para irmos ao banheiro logo, não quero Hayo brigando comigo hoje.

O ômega resmungou por mais alguns instantes, mas não dei atenção. Me estiquei na ponta dos pés, para pegar minha mochila do beliche, e quando alcancei, a trouxe para mim, colocando as alças em meus ombros. Então esperei Minseok terminar de dobrar seu lençol e colocá-lo na cama novamente, pegando a bolsa que também sempre carregava consigo, logo começando a andar, acenando para que eu o acompanhasse.

Segui atrás dele calmamente, tentando não esbarrar em nenhum ômega ou beta que fazia o mesmo caminho que nós, e não demorou para estarmos na fila que se formou para entrar no único banheiro dali.

Era sempre a mesma rotina naquele lugar. Bestas e ômegas sem teto, ou algo semelhante, eram acolhidos ali para não ficarem nas ruas. Tínhamos horário para entrar e para sair, e eles não serviam alimentos, era apenas para dormir sob um teto e uma cama, por mais que tudo aquilo não fosse assim tão favorável e confortável. Afinal, era só um galpão enorme com beliches e um único banheiro.

A demora na fila não durou tanto, até porque Hayoung agora se encontrava na porta do banheiro, cronometrando o tempo que todos tinham e era engraçado sempre que ela começava a gritar e bater na porta histericamente sempre que alguém demorava demais.

Hayoung era a dona do galpão, ela quem nos dava abrigo. Então para qualquer um aqui, os surtos que ela dava eram aceitáveis, e por vezes engraçados, até porque ela sempre estava com um sorriso estampado no rosto, sendo amorosa com todos. E eu me sentia imensamente grato a ela, pois foi ela quem me achou jogado, dormindo em um beco qualquer tão machucado e cansado quanto possível, e me trouxe para cá.

–Consegui um bico para hoje, Baek, então não vou poder te levar até a barraquinha.– A voz de Minseok chamou minha atenção, e quando terminei de ouvir suas palavras fiz uma expressão triste.

–Que bom, Seok...– Disse em baixo tom, nem escondendo minha tristeza ao saber que ele não me acompanharia até o trabalho hoje. E ele riu quando olhou para mim.

–Ya Baek, não faça essa cara, sabe que preciso trabalhar, ainda tenho que comer, sabia?

Ele brincou, mas eu me senti um idiota por estar agindo daquela forma, afinal, ele não era obrigado a me levar ao trabalho ou ao menos me acompanhar para algum lugar.

–Me desculpa, Seok.– Pedi baixinho, abaixando a cabeça.

Senti a mão dele afagando meus cabelos, e eu até teria me inclinado para o toque, porém seus dedos foram tirados dali, levantei a cabeça para resmungar, mas percebi que era a vez dele de entrar no banheiro. Então, ele entrou sem delongas, e antes de fechar a porta, me lançou um sorriso e disse;

–Não sinta minha falta, Baek, não vou demorar.

Soltei uma gargalhada, negando com a cabeça. Como se ele ao menos pudesse demorar, tsc.

Observei ao meu redor, finalmente me atentando a tudo, e sorri acanhado quando Hayoung parou a minha frente, sorrindo para mim também.

–Olá Baekhyun, bom dia.

–Bom dia, Hayo.– Respondi animado, acenando com uma das mãos.

Meu comprimento a fez soltar uma risadinha, mas antes que eu ou ela pudesse dizer mais alguma coisa, senti meu corpo sendo empurrado para o lado, e sem conseguir me equilibrar, tropecei nos meus próprios pés, então me vi indo ao chão, num reflexo de proteção minha mão foi parar afrente do meu corpo, o que só notei ser uma péssima decisão quando este tocou o solo e todo o peso do meu corpo sobrecaiu sobre ela. O grito esganiçado e choroso que rasgou minha garganta denunciava a tamanha dor que se alastrou em meu pulso, e eu mal percebi quando lágrimas brotaram na minha visão.








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e tá, vamos de baekmin, e o coitado do Byun sem um dia de descanso.

Arrepios ||  °•chanbaek ABO•° Where stories live. Discover now