A Fatídica Conversa

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Luka enfiou a canhota no bolso, agarrou as chaves de metal lá no fundo, como se de alguma forma pudesse se transportar para o sofá de sua casa com uma xícara de chá de camomila bem quente e um livro de terror no colo. Com a idade, Luka passou a apreciar ainda mais os momentos de calmaria, na qual podia relaxar sua mente conturbada com histórias de fantasma ou mesmo um romance de época em que os protagonistas se evitam no começo e, aos poucos, notam o quão envolvidos estão, e o quanto um não consegue desgrudar o outro dos próprios pensamentos. Mais ou menos o que acontecia entre ele e Marinette na adolescência, com a diferença de que, segundo ele e suas conclusões após sua declaração, era o lado da relação que queria prosseguir e não foi retribuído.

De certa forma, com o tempo recolheria os pedaços e começaria outra vez. Lamentar-se não traria os anos da juventude de volta. E quem sabe conseguiria olhá-la nos olhos e manter uma conversa sem as adversidades de seus sentimentos.

Luka pôs os olhos em Marinette outra vez, no instante em que ela se levantou e largou a taça vazia no balcão do bar – sua melhor amiga berrava para que ela fosse logo dançar antes que a mesma fosse buscá-la. Luka queria desviá-los, porém, algo no seu jeito de andar para a pista de dança e o rosto sereno atraíram sua atenção. Aproximou-se do grupo de amigas que arriscava passos de danças, concomitantemente, equilibrando seus copos de cerveja e coquetéis coloridos.

A Césaire estimula a azulada a começar a se mexer, batendo o quadril largo no dela de propósito e rindo das objeções que Marinette lhe lançava.

Molhou os lábios sem saber se olhava o copo recém cheio – ele não se recordava se pedira tequila ou vodka – ou reparava em como os movimentos da mulher mexiam consigo, atraindo-o feito um imã.

– Ei, Luka! – O rapaz despertou de seus devaneios e se virou na direção da voz, a tempo de ver Marc se aproximando dele com uma caneca de vidro cheia de cerveja em mãos. – Tudo certo aqui? – perguntou meneando a cabeça na direção do grupinho no meio da pista.

Marinette ria com as amigas, rebolando os quadris, agitando os braços e os cabelos azuis que se alteravam com as cores das luzes de LED iluminando-a e a fumaça de gelo seco contornando suas formas atraentes. Seus movimentos eram leves, de um lado para o outro, como se quisesse apenas aproveitar a doce sinfonia que inundava o pub.

O maior suspira, externando seus conflitos internos.

– Não sei dizer.

– Desculpe por não te contar. – Ele diz se referindo a bela moça. – Nathanael me impediu. Na verdade, todo mundo parecia querer esconder que ela estaria aqui hoje.

– Por quê?

– Ficamos com receio de que não viesse – responde e toma um longo gole de sua cerveja, o líquido gelado desce pela garganta, saciando sua sede. O local fechado estava muito abafado.

Luka o observa de soslaio. Seus amigos sabiam da complexidade da relação dele com Marinette? Ou o Couffaine estaria sendo óbvio demais ao não conseguir desgrudar seus pensamentos dela?

– Na realidade, – Continuou Marc, sua voz expressiva tornando a situação mais reconfortante. – ela foi a que mais temeu sua ausência.

Ele finalmente encara o moreno de olhos verdes desacreditado.

– Como assim, Marc?

O mais novo suspirou enfiou a mão livre no bolso da calça jeans. Ambos tinham estilos muito parecidos.

– Bom, eu não sei da história inteira e sabe que não sou de me envolver em questões alheias. – Ele respira fundo para dar início a sua narrativa. – Quando ela descobriu que você viria, quis voltar atrás na decisão. Disse que você não viria se ela estivesse aqui. Alya a consolou e perguntou o porquê de Marinette pensar aquilo. Ela contou que fazia muito tempo que você não retornava nenhum e-mail dela, nenhuma das cartas, muito menos as ligações que ela fazia. E que no dia que ela partiu você não apareceu e foi a coisa mais dolorosa que a Mari já sentiu.

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