Curta o Silêncio

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O casal se entreolhou, decidindo quem daria a notícia. Adrien ainda estava mexido com a reação do loiro, Kagami notou ao observá-lo. Com sua autoconfiança inabalável, ela se levantou e se postou diante de Luka, que ergueu o rosto para fitá-la.

– Foi o Kim.

~*~

Luka chegou em casa com uma dor aguda em sua cabeça – como se introduzissem uma agulha fina em seu crânio. A quantidade de informações e sentimentos que recebera naquela tarde foram o suficiente para esgotá-lo.

Contra a porta de seu apartamento, as costas apoiadas na madeira branca, ele suspirou. Por que Kim fizera aquilo?

Ele não se lembrava de ter trocado muitas palavras com o atleta. Kim costumava andar com Max e importunar a vida de Marc e Nathanael, seus amigos mais próximos. Algumas vezes teve que enfrentá-lo por opiniões arcaicas que ele fazia questão de disseminar sem ninguém ter pedido.

De qualquer forma, Luka precisava contar para Marinette, mas antes leria as cartas dela, ainda dentro da caixa no chão da sala, do jeito que ele deixara na noite anterior.

Ele pegou a mesma e a levou para o seu quarto, fechando a porta e se sentando sobre sua cama – apoiado contra a cabeceira, gostava de se sentar assim. O cômodo era mais agradável e reconfortante para a leitura. Sabia que as chances de ser interrompido eram mínimas, mas ainda assim, possíveis.

Retirou a tampa da caixa preta e pegou todos os envelopes selados – exceto por um – deixando-a de lado. Começou a separá-las por data, desta forma conseguiria acompanhar todas as novidades que Marinette queria lhe contar.

Por um momento ele riu baixo, a ironia dos fatos o divertindo. Ele enviou uma carta para ela que nunca chegou e ela o enviou cartas que ele nunca leu. Como podia julgá-la por não o responder? No fim, ele havia sido hipócrita ao se chatear com o silêncio dela. Um silêncio que nunca existira.

Na realidade, Luka abriu a primeira carta pensando ser a resposta para os seus sentimentos mais intensos. Ele se recorda de procurar em toda a carta, virando seu verso e inspecionando dentro do envelope. Por fim, concluiu que ela ignorara todos os sentimentos. Foi mais fácil fingir que aquelas cartas que chegavam não eram para ele, que alguém teria colocado na caixa de correio errada.

Abriu o primeiro envelope – escutou satisfeito o barulho característico de papel – já rasgado e amassado pelo tempo, datado de dois dias após a ida dela para o exterior; um papel rosado, assinado como se ela escrevesse às pressas para enviá-la. Ele releu o conteúdo para se lembrar do que se tratava.

Nova Iorque, 02 de setembro de 2013

Ei, Luka! Como está?

Senti sua falta na festa daquele dia. Uma pena que você teve aula. Guardei alguns doces para você, mas você não apareceu. E no baile de formatura também não. Enfim, não estou dizendo que era sua obrigação, eu só queria ter me despedido devidamente de você. Dançado, pisado no seu pé, dado umas boas risadas! Sabe como é importante tê-lo por perto, não é? A partir de agora tudo será diferente entre nós.

Aposto que ia gostar dos pubs daqui, são bem animados e sempre tem shows ao vivo. Consigo imaginá-lo nos palcos, cantando suas músicas incríveis e conquistando os novaiorquinos com esse seu jeito e talento!

Estou em Manhattan, na West 46th Street, hospedada no Hotel Paramount, fica a um pouco menos de um quarteirão da Times Square! Foi pago pela própria Sra. Bourgeois! Não é incrível? O meu quarto é muito maravilhoso e a visão da cidade a noite é inesquecível! Uma pena que só ficarei por três dias, o essencial para mobiliar meu apartamento perto da agência Le Boutiqué Bourgeois que fica na 72 Madison Ave 4th floor.

Enjoy The SilenceWhere stories live. Discover now