Capítulo 1 - Benjamim

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A noite estava fria, mas as ruas ainda estavam muito movimentadas.

Caminhava desconfiado, queria chegar logo em casa. Se tudo tivesse saído como planejado os policiais na minha porta não perceberiam que saí. Nas noites de inverno eu sempre saia para levar sopa a um cara que morava nas ruas de Nova York, Sam era um homem de meia idade, inteligente e eu queria poder fazer muito mais para ajudá-lo, e caminhar até a ponte do Brooklin com uma sopa quente era o máximo que poderia fazer por ele naquele momento. Eu não tinha muito dinheiro, e agora que havia perdido meu trabalho tudo estava mais difícil, não sabia, ao menos, até quando conseguiria pagar meu aluguel. Rezava toda noite para conseguirem pegar aquele maldito. Ele destruiu minha vida e tirou o pouco de paz que me restava.

Quando cheguei próximo de casa caminhei lentamente pela lateral do pequeno jardim coberto de neve, tentando evitar ser pego. Andei olhando sempre para trás para saber se alguém poderia me ver ou me seguir.

E quando aperto o passo, quase chegando na porta dos fundos, meu corpo se choca com alguma coisa forte. Uma pessoa.

Um gritinho escapa de meus lábios e olho assustado para a muralha que atingi. Detetive Matt.

Ele me encara furioso. Pego no flagra, perfeito! – Penso.

- Por que você não age feito homem? Esse seu jeito e essa sua voz me deixam puto de ódio.

Eu estava mesmo ouvindo aquilo? Aquele babaca era um policial, estava ali para me proteger e mesmo assim ainda queria me destratar. Não ficaria calado diante de uma afronta como aquela, ele teria que pedir desculpas.

- Peça desculpas agora pelo o que disse! - digo com o dedo em riste, quase tocando seu rosto. – Isso foi extremamente grosseiro e desnecessário.

Ele me olha com uma expressão de puro ódio, mas não deixo isso me abalar. Já tinha passado por muita coisa até ali, então tento sustentar a pose.

- Como é? - Matt questiona. - Você acha mesmo que eu vou pedir desculpas para você? Só pode estar louco. Aquele maníaco deve ter mesmo destruído seu psicológico, né?

Agora ele estava jogando baixo. Citar aquele monstro era o pior que alguém poderia fazer. Minha expressão de pânico deve ter ficado evidente, já que ele abaixou a cabeça e fitou o chão.

Sai em direção à entrada da casa, tentando evitar olhá-lo novamente. Estava me sentindo muito mal na presença daquele detetive. Ele era rude, mal educado e me tratava tão mal que qualquer pessoa, por muito menos, já teria socado a cara dele.

- Volta aqui!

A voz dele é grave e me assusto quando o som atinge meus ouvidos.

Os outros dois policias, os que ficavam na viatura em frente a minha casa, agora estavam nos fundos, nos observando de longe. Duvido que pudessem ouvir o que dizíamos devido a distancia que nos separava.

Não viro para olhar o detetive, só fico parado como uma estátua.

- Essa sua marra continua intacta, né? Você precisa me obedecer se quiser sobreviver a isso. Será que é muito difícil pra você entender que aquele cara ainda está á solta por ai? Você é tão burro que nem isso consegue perceber? Não quer viver, caralho? Então por que fica se arriscando saindo pra todo canto como uma mulherzinha doida pra fazer compras ou sei lá o quê?

Cada palavra me atingia como um raio. Era horrível ouvir alguém falando aquelas coisas para mim. Se ao menos ele soubesse o que eu realmente estava fazendo.

- Vai se foder. - digo baixo.

Quando consigo me mexer entro na casa e bato a porta com força. Ainda posso ouvir quando ele diz:

- Isso mesmo! E se você sair dessa porra de novo não vou ser tão bonzinho.

Bonzinho? Que cara escroto.

Fico de costas para a porta por um bom tempo. Aquele babaca conseguiu estragar minha noite. Não era admissível ele me tratar daquela forma, nunca fiz nada de ruim para ele. Colaborei desde o inicio com a investigação e era o maior interessado em ver aquele assassino preso o quanto antes.

Tiro meu cachecol e minha jaqueta antes de avançar para a cozinha. As palavras estupidas e preconceituosas dele ecoam na minha mente. Não queria chorar, mas é impossível segurar as lágrimas agora que estou sozinho aqui. Sentia falta dos meus pais, mas sabia que nunca mais os veria, a morte deles foi dolorosa e eu estava seguindo em frente até aceitar o convite daquele estranho. Deus, se eu não tivesse caído no charme daquele assassino manipulador talvez minha vida não tivesse se tornado o inferno que se tornou.

Pela janela da cozinha posso ver detetive conversando com os dois policiais que faziam a segurança da casa. Estava sendo vigiado 24 horas por dia, sete dias por semana desde que tudo aconteceu. O detetive falava com eles gesticulando, como se estivesse dando algum tipo de bronca. Aquilo fez com que me sentisse mal, afinal, era minha culpa. Continuo observando e não posso deixar de notar o quanto ele era bonito. Seu corpo é forte e é impossível não perceber que tem muitos músculos embaixo daquele sobretudo, sua pele e tão perfeita, lisa, sem nenhuma mancha, seu nariz e lábios são igualmente lindos e os olhos, Deus que olhos maravilhosos, de um azul profundo, penetrante.

Ele parece sentir que tem alguém o observando e olha diretamente para mim. Desvio o olhar e finjo colocar os pratos dentro da pia. Ele continua observando, posso sentir, mas mantenho os olhos nos pratos. Quando finalmente olho novamente em sua direção ele me encara profundamente, agora com os braços cruzados. O detetive mal educado balança a cabeça, como se estivesse reprovando alguma atitude minha, caminha em direção ao carro preto que estava grudado a viatura e entra batendo a porta com força.

Os dois policias acenam para mim e entram na viatura para continuar sua incansável vigília.

Tudo Por VocêWhere stories live. Discover now