Capítulo 3 - Benjamim

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Ficar o tempo todo dentro de casa era algo que não me agradava nem um pouco mas, depois do que aconteceu, eu não tinha muita coragem de sair. Quando pensei que Sam estava naquele frio, com fome não consegui não me sentir abalado. Aquilo era como um ritual, sempre que o inverno chegava eu levava aquela sopa para ele, e sempre que podia levava alguns cobertores e mais comida quando saia do trabalho. Agora eu não tinha mais um trabalho e as chances de eu ser vizinho de Sam embaixo da ponte do Brooklin estava cada vez maior.

Precisava de dinheiro e pensei em vender meu computador e vídeo game. Isso me daria, pelo menos, mais um mês de aluguel pago. Meu trabalho no Vicenzo's não era o melhor do mundo, mas pagava o suficiente para manter meu aluguel em dia e a dispensa cheia. Fui garçom lá por mais de dois anos. Lembro que quando completei 17 anos, Megan, uma amiga que era hostess lá, me disse que podia me conseguir um trabalho, é claro que eu aceitei na hora, pouco menos de um mês depois meus pais morreram naquele acidente horrível e eu fiquei sozinho. Primeiro morei na casa de uma tia, irmã do meu pai, depois dividi casa com uns amigos, quando ela foi embora para o Brasil, e só a sete meses estava morando sozinho. A casa era exatamente do jeito que eu sempre quis, espaçosa e com um jardim. Eu amava aquele lugar e não queria deixar tudo para trás.

Quando quase perdi minha vida, vitima de um assassino, fiquei muitas semanas sem aparecer o trabalho. Eu sei que tudo era justificável, mas o cretino do Joe, o gerente, fez questão de me demitir.

A policia disse que poderia me proteger e que o programa de proteção me ajudaria com alimentação e moradia, mas eu não aceitei nada além da proteção que tinha dos policias na minha porta. Eu não era otário, sabia que isso não duraria para sempre e, depois da forma que fui tratado por aquele detetive, era muito óbvio que essa proteção não estava longe de acabar.

Não conseguia dormir a muito tempo, lembro que minha ultima noite de sono tranquilo foi exatamente um dia antes de aceitar sair com aquele cara. Não queria pensar nele, mas era meio difícil. Ficava sentado naquela poltrona a noite inteira, não me sentia seguro na cama, sempre que fechava os olhos podia ver ele me segurando pelo pescoço e me atirando ao chão, a faca em sua mão estava completamente suja de sangue. O olhar dele era animalesco, assim como seu sorriso perturbado. Nunca esqueceria aquele rosto, memorizei cada detalhe e me sentia muito frustrado por ter dito tudo o que sabia para aquele retrato falado e eles nem ao menos terem descoberto o nome dele.

A poltrona em que eu sentava era do meu pai. Nós tínhamos uma relação muito próxima e me sentia acolhido quando estava ali, podia sentir sua presença. Eu tinha certeza que se meus pais ainda estivessem vivos eu me sentia seguro o suficiente para fechar os olhos e descansar, eles me protegeriam de qualquer coisa. Lembrar deles me faz chorar e minha noite fica ainda mais difícil.

Ouço duas batidas na porta. Assusto-me e seguro com força no braço da poltrona.

- Benjamim, sou eu policial Robbs. – um alivio percorre meu corpo. – Pode abrir, por favor?

Vou até a porta e abro com cautela. Robbs era um cara legal, sempre conversava comigo e isso fazia eu me sentir menos sozinho.

- Oi, aconteceu alguma coisa? – pergunto.

A expressão dele não está muito boa e eu sabia bem o que aquele olhar queria dizer.

O monstro estava de volta.

Tudo Por VocêWhere stories live. Discover now