Capítulo 7 - Benjamim

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O detetive roncava baixo. Sabia que não conseguiria dormir, mesmo se estivéssemos em um silencio profundo, minha insônia persistente não deixaria. Eu o observava, sua respiração era pesada e eu tinha uma visão e tanto dele ali naquele sofá. Seu peito subia e descia suavemente, ele era realmente perfeito. Matt era um homem enorme e eu sempre gostei de homens altos e fortes. Sei que vai parecer clichê, mas é a verdade, ele fazia meu tipo.

Um barulho na janela me faz ficar alerta. Sabia que ali estava seguro, mas era impossível conseguir ficar tranquilo, ainda mais agora que tinha certeza que aquele maluco estava atrás de mim. Queria entender o porquê dele ainda me querer. Qual era o motivo para ter me deixado sobreviver? Eu não tinha uma resposta para isso e toda vez que parava para pensar e tentar entender meu cérebro parecia querer fritar.

Matt se mexe no sofá. Como ele conseguia dormir tranquilamente depois de tudo o que via no dia a dia? No chão, próximo ao sofá, estava sua arma. Se eu soubesse manipular uma arma não teria perdido a oportunidade de matar aquele desgraçado quando tive uma chance real. Agora isso parecia muito distante e preferia pensar que nunca mais o veria, portanto não precisaria de uma arma.

O barulho na janela voltou a soar e isso em fez levantar depressa.

- Detetive! – disse baixo. Era óbvio que aquele brutamontes não ia me ouvir. – Por favor, acorda!

Cheguei mais próximo e toquei seu braço. Isso fez com que seus olhos abrissem imediatamente. Ele segurou meu pulso com muita força.

- O que foi? Por que você tá me tocando, porra?

A pressão no meu pulso ficou mais forte e fiz uma careta de dor.

- Tem... Tem alguma coisa na janela. – consigo dizer.

Ele me olha com uma expressão de dúvida e encara a janela. Matt solta meu pulso e abaixa rapidamente pegando a arma no chão. Mais uma vez a janela volta a fazer aquele barulho. O detetive engatilha a arma e vai devagar em direção à cortina. Ele a afasta com calma e se depara com os olhos amarelos de um gato. Seu olhar de reprovação quase me quebra no meio. Esfrego os pulsos para tentar afastar a dor que ficou ali depois de seu aperto.

- Nunca mais me acorde assim. – diz indo e direção à geladeira e pegando uma garrafa d'água.

- Você me machucou seu idiota!

Não sei como tive coragem de dizer, mas estava engasgado e tive que colocar pra fora.

- Você é um grande babaca arrogante que acha que pode tratar as pessoas como bem entender. – ele escuta tudo com a garrafa d'água na boca, bebia o liquido como se eu não estivesse bem ali na sua frente o ofendendo.

Matt não diz nada, apenas volta para o sofá e deita novamente.

Fico ali parado, bem próximo dele, e minha vontade era de voar no seu pescoço e mata-lo. Ele me encara e diz:

- Vai dormir, garoto!

Sério? Dormir? A cada segundo que se passava ali eu tinha mais certeza de que deveria pedir que mudassem o detetive daquele caso. Estava decidido, assim que amanhecesse eu iria até aquela droga de delegacia e faria uma reclamação formal.

- Eu não consigo dormir, seu ogro ignorante. – cada ofensa saia com uma facilidade enorme, não sabia de onde estava tirando coragem, mas era bom conseguir dizer tudo o que queria que ele ouvisse, mas ficava com mais raiva ainda por ele não revidar. Isso fazia eu me sentir um idiota, um moleque mimado que ficava fazendo birra.

Seu rosto estava extremamente vermelho e agora ele me encarava com os olhos azuis vidrados na minha boca. Virei as costas e sentei na beirada da cama. O detetive sentou-se no sofá.

- Olha aqui, vê se escuta o que vou te dizer e para com essa palhaçada. – sua voz saia rouca. – Você passou por muita coisa, eu entendo e, acredite, eu também não queria estar na sua presença, só estou fazendo isso por que sou obrigado. Não quero ser babá de um moleque babaca que não consegue ficar de boca fechada e cooperar. Se você quer que isso acabe logo é melhor ficar pianinho e fazer as coisas do jeito que eu mandar.

Nem percebi as lágrimas caindo. Estava me sentindo tão humilhado e sem rumo que simplesmente permaneci o encarando, ouvindo cada palavra até que as malditas lágrimas o fizeram parar de falar.

- Não precisa chorar, beleza? – o detetive diz se aproximando e sentando ao meu lado na cama. -Eu só estou dizendo que você tem que cooperar.

Não conseguia controlar as lágrimas. Acho que todo aquele tempo em que fingi estar bem fizeram com que todos os sentimentos ruins ficassem escondidos, mas agora não podia mais contê-los.

Olho para ele que ainda está ali me encarando como um gavião.

Chego mais próximo e encosto a cabeça em seu ombro. Percebo que ele fica tenso assim que meu cabelo toca sua pele, mas não recua. Sua mão viaja até meu ombro e posso sentir quando ele me puxa para mais perto. Eu só precisava de um abraço. Precisava de alguém pra me dizer que tudo ficaria bem.

- Eu não quero morrer. - digo baixo.

Matt me abraça com mais força, posso sentir seus músculos pressionando meu corpo e a sensação de estar no seu abraço é maravilhosa.

- Enquanto estiver sob meus cuidados aquele cara não vai tocar em você, eu prometo.

Talvez aquilo fosse tudo o que eu precisasse ouvir. O detetive se ajeita na cama pequena e me aconchega mais ao seu corpo. Nos deitamos e, com minha cabeça colada em seu peito, posso ouvir seus batimentos acelerados. Fecho meus olhos e, pela primeira vez em muito tempo, me sinto seguro.

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