Capítulo 10 - Matt

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Estava me segurando ao máximo para não dizer nada.

Como aquele filho da puta do Robbs pôde fazer algo assim? Ele queria o garoto pra ele. Nunca deixaria isso acontecer, aquele era nosso ambiente de trabalho e ele estava claramente dando em cima de uma vítima de crime.

Benjamim estava logo atrás, me seguia desconfiado, e parecia segurar o ar. Nas horas anteriores eu e minha equipe invadimos um apartamento de luxo em Manhattan. Recebemos uma denúncia anônima. O cara era realmente bem parecido com o retrato falado, mas precisava que que o garoto confirmasse para podermos prosseguir. Sabia que a promotoria acabaria comigo se eu mantivesse um suspeito sob custódia sem provas.

- Eu vou precisar ficar frente a frente com ele? - Benjamim pergunta. -  Por favor, não me faz ficar de cara com ele. 

Ele estava assustado e era compreensível. É claro que eu não deixaria ele de frente pro cara.

- Vai ter um vidro, a gente vai poder ver ele, mas ele não vai poder nos ver. Nunca assistiu filmes policiais, não, porra?  Geralmente eles são bem fantasiosos, mas nesse quesito é verdade, tem um vidro bem ali. 

Abro a porta da sala e ele entra logo depois de mim.  Ele se aproximou, como se ficar perto de alguém o livrasse de qualquer mal.

- Olha bem e me diz se é ele mesmo. - Falo apontando para o cara.

Era um cretino arrogante. O cara era grande, e foi muito difícil conter ele quando invadimos o apartamento.

Benjamim o encarava bem, mas não pareceu abalado.

- Não é ele. - Diz com firmeza.

- Tem certeza?

- Claro que tenho certeza, nunca vou me esquecer dele.  - diz pensativo. - Esse cara é bem parecido, mas não é ele, eu saberia se fosse.

Certo, era o suficiente.

Quando estávamos retornando para a minha sala, Robbs e De La Cruz estavam vindo em nossa direção. Brandon sorri para Benjamim e isso me deixa ainda mais irritado.

- Não tem trabalho para fazer, Robbs? - Pergunto o encarando com fúria.

- Estamos no horário de pausa.

Pausa? A cidade um caos e o cara tirando uma pausa. Filho da puta! Ele era meu amigo, mas nas últimas horas estava passando a odiá-lo.

- Benjamim, você ainda não comeu nada hoje, né? Quer comer algo com a gente? - Robbs pergunta.

Entro na frente de Benjamim e encaro Robbs, ele só podia estar querendo me provocar. 

- Pode ficar despreocupado, policial Robbs, eu já estava o levando para comer algo. Não precisa se preocupar e muito menos dirigir a palavra á vítima, pode deixar que eu assumo a responsabilidade pelo garoto.  - Ele me observa dizendo cada palavra, sua expressão é quase neutra caso eu não conseguisse ler a raiva e a dúvida em seus olhos. 

Esse cretino tinha uma namorada até uma semana atrás e agora estava claramente dando em cima de Benjamim. Eu poderia matá-lo.

Ele ainda olha para Benjamim, esperando alguma confirmação, mas o garoto só abaixa a cabeça e não diz nada. Gosto assim, penso. Aposto que ele já tinha sacado a intenção do cara, mas não estava interessado. 

Continuo caminhando para minha sala, Benjamim me segue e não diz nada, mas posso ver uma expressão estranha em seu rosto quando olho seu reflexo pelos vidros das cabines dos outros detetives.

Meu telefone toca e sei que a bronca está vindo quando atendo.

- Capitão... - Digo.

Benjamim levanta o olhar por um breve momento, mas assim que percebe que o estou olhando desvia.

- Como você aceita hospedar uma vitima de crime na sua casa, Metthew?  Isso não está certo. Você sabe muito bem que aqueles filhos da puta da promotoria estão doidos pra me foder e me arruma uma dessas? 

Ele está realmente bravo, seu tom de voz é ríspido, mas não dou a mínima para o que ele pensa ou para o que a promotoria pensa, eu quero mais é que eles se fodam, todos eles. 

- Capitão, o garoto não tinha um lugar seguro para ficar, e saiba que a promotor já foi avisado, mas até agora eles não moveram uma pena para fazer algo a respeito. Tenho certeza que o senhor concorda que não é possível deixar o garoto aqui até que eles bem entendam fazer algo. 

O capitão suspira e Benjamim suspira na minha frente também. Eles fazem isso ao mesmo tempo. 

- Eu quero que você resolva isso a mais rápido possível, esse garoto está correndo muito perigo e me admira muito que vocês estejam ai nessa merda de delegacia sem fazer porra nenhuma enquanto o prefeito está me perturbando a vida querendo resultados. Se eu me foder vocês todos vão juntos comigo. 

Que cara pau no cú do caralho. Por isso quero que ele se foda. Ouço o barulho da linha caindo. O velhote tinha desligado na minha cara. 

Benjamim está bem ali, de cabeça baixa e só então me lembro que deveríamos comer algo. 

- Vamos garoto! - Digo me levantando e pegando meu casaco. 

Ele não levanta do lugar. Não se move um centímetro. Juro que esse garoto me tirava do sério, não tinha tempo para corpo mole. 

- Detetive... - Ele diz. 

Era estranho o efeito que o som da voz dele causava em mim. Eu sentia raiva e ao mesmo tempo vontade de ouvir ele falando por mais e mais tempo. 

- O que foi? Nós vamos sair pra comer agora, eu sei que você tá com fome, não precisa dizer nada. 

Benjamim continua parado e então abaixa a cabeça mais ainda e começa a chorar. 

Mas que porra! Não, não posso lidar com isso, não tenho tempo nem paciência. 

- Eu acho melhor eu voltar pra minha casa. Eu assumo total responsabilidade. - O choro era de partir o coração, e eu estava sem entender o por que daquilo estar me afetando muito. 

Desde a noite anterior eu senti uma necessidade muito grande de proteger esse garoto, mas eu não queria. 

- Olha, rapaz, eu já disse mais de uma vez que isso não é possível. Você só vai estar seguro enquanto eu ou algum outro agente treinado estiver por perto. Esse cara não está brincando e eu não posso arriscar deixar ele te encontrar, eu sei que sou chato, mas sou sua melhor chance de sair vivo dessa. Ou, se você quiser, tenho certeza que o policial Robbs não vai negar de hospedar... 

Ele me olhava com aqueles enormes olhos verdes, era bem hipnotizante e estranho, não sabia porque essa merda estava acontecendo, não era possível que eu estivesse no tesão por um cara. Zero possibilidade.  

- Eu... - ele começa a dizer. - Eu prefiro ficar com você. 

Essa era a resposta que eu queria. 

- Certo. - Digo, por fim. - Então vamos comer e voltar pra casa.  


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⏰ Last updated: Jan 08 ⏰

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