Capítulo 8:

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Encontrei Harry andando de um lado para o outro atrás de sua mesa, como uma fera presa em uma jaula. Estava com o headphone na orelha, esperando para ser atendido ou então escutando, já que estava em silêncio. Ele me encarou com uma expressão dura e impassível. Apesar de estar apenas de cueca, parecia invulnerável. Ninguém que o visse seria tolo a ponto de imaginar outra coisa. Fisicamente, sua força se mostrava em cada músculo. Além disso, ele emanava um ar de ameaça de gelar a espinha. O homem tranquilo e satisfeito com quem eu havia jantado não estava mais lá, substituído por um predador urbano acostumado a destruir seus concorrentes. Preferi deixá-lo sozinho em sua tarefa. Procurei o tablet de Harry, que encontrei em sua pasta. O aparelho era protegido por senha, e eu fiquei olhando para a tela por um bom tempo, assustado em ver que estava tremendo. Tudo o que eu mais temia estava acontecendo.

—  Anjo.  — Olhei para ele quando apareceu no corredor.  — A senha  — ele explicou.   — É anjo.

Ah. Toda a energia do meu corpo se esvaiu, me deixando exausto.

— Você devia ter me contado sobre o processo, Harry.

— Na verdade ainda não é um processo, é só uma notificação extrajudicial  —  ele disse sem se alterar.   — Ian Hager quer dinheiro, e eu quero sigilo. Vamos nos sentar entre quatro paredes e resolver isso.

Eu me ajeitei no sofá, deixando o tablet no colo. Ele veio andando até mim, me observando. Era fácil demais ficar encantado com sua aparência, e acabar esquecendo que ele era uma pessoa profundamente solitária. Porém, estava mais do que na hora de começar a me incluir em sua vida quando enfrentava dificuldades.

— Não me interessa se o processo ainda não está na justiça  — argumentei.  — Você tinha que ter me contado.

Ele cruzou os braços.

— Eu ia.

— Você ia?  — Eu me levantei. — Você viu como eu fiquei porque a minha mãe fez uma coisa sem me contar, e mesmo assim não abriu a boca pra falar dos seus segredos?

Por um momento, ele permaneceu rígido e impassível, mas depois soltou um palavrão por entre os dentes e resolveu abrir o jogo.

— Eu vim pra casa mais cedo com a intenção de conversar justamente sobre isso, mas aí você me contou sobre a sua mãe, e imaginei que já era dor de cabeça demais pra um só dia.

Eu desabei no sofá.

— Não é assim que as coisas funcionam em um relacionamento, garotão.

— Eu acabei de conseguir você de volta, Matthew. Não quero passar todo o nosso tempo juntos falando apenas sobre o que está errado e fodido na nossa vida!

Dei um tapinha na almofada ao meu lado.

— Vem aqui.

Em vez disso, ele sentou na mesinha de centro e me envolveu com suas pernas abertas. Ele pegou minhas duas mãos e as ergueu para beijá-las.

— Me desculpe.

— Eu entendo você. Mas, se tem alguma coisa pra me falar, é melhor dizer agora.

Ele se inclinou para a frente, me puxando para fora do sofá. Quando chegou bem perto de mim, ele sussurrou:

— Sou apaixonado por você.

No meio de tanta coisa errada, havia pelo menos uma certa. E isso já bastava. Nós caímos no sono no sofá, abraçados um ao outro. Eu acordava o tempo todo, atormentado pela angústia e atrapalhada pelo cochilo que tiramos antes. Estava desperto o suficiente para sentir a inquietação de Harry, sua respiração se acelerando, suas mãos me apertando com mais força. Seu corpo inteiro se sobressaltou, me sacudindo. O gemido que ele soltou foi de cortar o coração.

Para Sempre Seu - Shumdario - 3 temporadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora