quem sou eu [O5]

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Eu... eu... nem mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então. 

Lewis Carroll

QUEM SOU EU [O5]
[ Cailin ]

Abro a porta da cabine com convicção. Hajun dá alguns passos para trás sem entender bem ao certo o que estava acontecendo já que segundos atrás eu nem conseguia me manter calma. Eu não matei o Ethan, mas por que eu tive tanta dificuldade em me lembrar disso? - pergunto mentalmente.

— O que eu fiz, Hajun, foi apenas me defender de pessoas iguais a você. — digo um pouco baixo. Eu sabia que sua reação não seria uma das melhores e eu ainda estava ali sozinha com ele. Temia o que ele poderia fazer comigo.

Seu semblante é de raiva e confusão. Aperto minhas mãos em nervosismo e engulo em seco esperando o pior. Ele se aproxima rapidamente e agarra meu pescoço com força. Imediatamente seguro suas mãos com as minhas tentando diminuir o aperto, mas é totalmente em vão.

— Alguma merda você precisa ter feito, Cailin. Você não é nada inocente. — ele aproxima seu rosto do meu. Sinto meu sangue ferver e meu rosto esquentar, a possibilidade de não respirar era tremendamente dolorosa. Bato em seu peito com força, desesperada por oxigênio.

Eu sabia que ele estava gostando, eu sabia que ele queria ir além para o meu azar, mas eu tinha total convicção de que ali não seria meu fim.

Como ironia do destino, a mesma enfermeira que antes me levava ao banheiro abre a porta. Hajun me solta rapidamente pelo susto que havia levado e eu me debruço sobre meus joelhos tossindo bastante e resgatando o ar que antes me tinham tirado.

— Desculpa, doutor. Não sabia que ainda estava aqui dentro. Vim trazer outra paciente. — a enfermeira dá espaço para uma paciente mais velha passar. Olho de relance para cima vendo Hajun passar os mãos pelo cabelo de forma impaciente.

— Quando terminar, leve as duas para a ala — ele olha para mim em seguida. — Semana que vem nós nos vemos, Cailin. — ele dá ênfase no meu nome, fazendo meus pelos arrepiarem. Logo em seguida ele caminha até a porta e some de nossas vistas.

A enfermeira me ajuda a levantar, parecia ser uma das únicas que sabia o que realmente acontecia ali, uma pena que ela era nova ali e apenas do turno da noite. A paciente entra numa cabine e eu me afasto, caminhando até a pia. Lavo meu rosto e em seguida apoio minhas mãos no mármore escuro. A enorme vontade de chorar fica agarrada em minha garganta.

— O que você fez para irritá-lo? — a enfermeira pergunta, de braços cruzados, encostada em uma das portas. A olho pelo espelho e dou de ombros.

— Nada. Simplesmente nada. Eu nem deveria estar aqui na verdade. — lamento. Ainda observando a enfermeira, vejo ela abrir um pequeno sorriso.

— Eu escuto isso todos os dias.

— Mas eu estou falando a verdade! — exalto-me. Ela não parece se assustar, já devia estar acostumada. Suspiro, virando-me para ela logo em seguida. — Perdão. Você não tem nada a ver com isso.

Ela me fita e se aproxima, parando na minha frente.

— Realmente não tenho nada a ver com isso. Mas se eu puder ajudar qualquer mulher em situação como a sua de hoje por exemplo, eu vou — ela estende a mão. — Meu nome é Misuk.

Respiro fundo e aperto sua mão.

— O meu você já sabe, mas... prazer, chamo-me Cailin.

A paciente sai da cabine, chamando a minha atenção e a de Misuk. Em seguida a enfermeira nos acompanha até nossos quartos. Entro, aproximo-me da minha cama e deito nela, me sentindo totalmente desconfortável. Coloco meus braços atrás da cabeça e fito o teto completamente descascado. Pergunto-me sozinha o porquê de Hajun insistir tanto para saber algum podre meu. Para me ajudar era uma possibilidade totalmente descartada, levando-me a pensar numa única opção: ele queria me incriminar. Mas por que?

Pyromaniac - 2ª temporada [myg] - em hiatusWhere stories live. Discover now