sete identidades [O6]

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Sinto a manhã no meu rosto.
Não há uma pílula que eu não tomei.
Apenas vivo tentando porque tem sido um longo dia.
Porque eu só vou dormir quando estiver morto.

When i R.I.P – Labrinth

SETE IDENTIDADES [O6]
[ Cailin ]

Eu sinto vontade de morrer às vezes.

Quando abro os olhos, deitada sobre a cama, deparo-me com o mesmo pensamento: o que faço aqui? Não pertenço a esse lugar.

Mas depois de alguns minutos fitando o teto, me conformo que na verdade eu não tenho escolha e, assim, finalmente levanto da cama.

Observo a escova de dente amarela com algumas flores rosas e, inevitavelmente, faço uma careta. Uso aquela mesma escova desde que cheguei aqui e cada vez mais ela se aproxima de uma vassoura. Penso nas escovas dos pacientes mais antigos e o quão absurdas elas deviam estar. Opto por não prolongar esse pensamento ao longo do meu dia, mesmo que provavelmente seja o assunto mais interessante daquele dia.

Na realidade, o assunto que realmente era citado quando chego no refeitório é sobre a festa a fantasia. De verdade, me esforcei para esquecê-la, mas era impossível com toda a animação dos pacientes. Não os julgo, devia ser o evento mais divertido durante esse ano caótico. Alguns anos atrás eu com certeza estaria animada com a festa.

Mas a situação é bem diferente agora.

Não sinto uma fagulha de felicidade desde o dia em que me despedi dos meninos. Se eu soubesse o que estaria por vir, eu não hesitaria em ficar mais tempo com eles.

Desde então, só penso em desistir e a felicidade está mais longe do que eu podia imaginar. Sinto falta dos meus pais, de Naeun, dos meninos e do Yoongi. Como eu sinto falta dele. Às vezes, se eu me esforçar bastante, consigo sentir seu acalento toque e suas palavras impuras sendo sussurradas em meus ouvidos. Também consigo me lembrar de suas palavras românticas que me levavam numa brisa macia. E depois de todas essas boas sensações, lembro que nada é real.

Já não sei nem mais se foi real.

— Cailin, você vive no mundo da lua. — Nabi diz ao meu lado, enquanto tomava um gole de seu café.

— Não tenho como discordar. — digo baixo.

— Eu perguntei se você está animada para a festa.

Paro de mexer na comida e olho para ela. Na verdade, senhora Nabi, eu provavelmente vou morrer nessa festa depois que eu recusar ser abusada pelo filha da puta do Hajun. E mesmo que ele consiga o que queira, não vou hesitar em garantir minha morte. Não conseguiria viver com esse árduo peso.

Mas eu apenas respondo:

— Não muito.

Senhora Nabi começa a falar e eu novamente entro no mundo da lua. Pensei bastante sobre esse final de semana ser o último de minha vida. Não tenho mais motivos para continuar tentando viver num lugar como esse. Não tenho mais esperança de sair daqui como algumas semanas atrás. As lembranças sobre Ethan ferraram mais ainda minha mente e eu, literalmente, não sabia mais o que era ou não era real. Parecia que a todo momento eu estivesse sobre efeitos de drogas, me esforçando para lembrar de momentos e duvidando do que antes era uma certeza para mim. Isso mesmo. Eu já estava aceitando o fato de ter sim um transtorno e ter inventado toda aquela história em relação aos meninos, algo que é bem triste.

Uma melancólica melodia passa pela minha cabeça e eu sou jogada para minha infância. Uma pequena garotinha loira de cinco anos acreditando que tinha amigos imaginários. Isso perdurou por alguns anos.

Pyromaniac - 2ª temporada [myg] - em hiatusWhere stories live. Discover now