Capítulo 4.

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Passado o meu repentino mal estar, me recompus e fui para a cama. Acredito que tenha sido apenas um reflexo do dia agitado e nada como uma boa noite de sono para que tudo seja reestabelecido. Eu sempre fui assim, sensível às coisas ao meu redor. Se algo não vai bem em casa, com as meninas, com Pedro e até mesmo com as plantas do meu jardim, meu corpo absorve. E, apesar de tudo que havia passado no dia anterior, decidi que a insensatez de Pedro já não me atingiria. Na verdade, nada relacionado a ele poderia continuar me atingindo desta forma.

A mesa de café da manhã não estava nada silenciosa, as princesas não paravam de comentar sobre nosso passeio, para o descontentamento de Pedro. Elas demonstravam entusiasmo ao lembrar das brincadeiras que tivemos, dos momentos em que conversamos durante o piquenique, das "presepadas" de Dina e, claro, da bela visão do riacho.

Pedro nos ouvia interagir enquanto lia ou fingia estar lendo o jornal. Por mais estranho e sem sentido que pareça, ele estava demorando para terminar a refeição, o que é algo totalmente anormal vindo de Pedro. Talvez ele estivesse fazendo isso para ouvir o que fizemos no dia anterior, já que as meninas estavam contando tudo.

Pedro: Vocês foram ao riacho? -fechou rápido o jornal e olhou para as filhas.

Isabel: Sim, papai! É um lugar belíssimo, o senhor devia visitar algum dia.

Neste momento não pude evitar um sorrisinho que escapuliu dos meus lábios bem na hora em que bebia o chá. Acabei me engasgando um pouco com o líquido, mas logo me recompus.

Pedro: Você está bem? -ele se dirigiu a mim com um ar de riso, utilizando-se de um tom carregado de ironia.

Teresa: Sì. -falei olhando bem em seus olhos, até porque nós dois sabíamos o real motivo do meu "engasgo".

Eu e Pedro costumávamos ir ao riacho com frequência quando éramos recém casados. Lembro-me do dia em que ele me apresentou o lugar pela primeira vez. Não tínhamos filhos ainda, éramos tão ávidos, insaciáveis, nossos corpos pareciam dois ímãs que nunca se desgrudavam. Aquele lugar foi testemunha de muitos momentos de amor entre nós, inclusive, acreditamos que Isabel foi concebida lá...

Dina: Quando podemos voltar, mamãe? Dessa vez vamos levar nossos trajes de banho. -ela dizia enquanto devorava um bolinho.

Teresa: Quem sabe da próxima vez o pai de vocês possa levá-las ao riacho, ham? Vocês podem apresentar o local para ele. -devolvi o tom irônico que havia recebido de Pedro no início da conversa.

Antes que ele pudesse responder qualquer coisa, Celestina surge na sala de refeições e me entrega algumas cartas que haviam chegado para mim.

Teresa: Celestina, você pode pegar o meu xale e o chapéu, per favore? Io pretendo ir à missa matutina assim que terminar o desjejum. -falei enquanto conferia as cartas.

A mulher confirmou e logo se retirou após fazer uma mesura.

Isabel: Mamãe, posso ir com a senhora? -ela perguntava sem olhar para o pai.

Teresa: Claro, amore mio! O padre ficará feliz em revê-la. Você também vem, Dina? -lhes lancei um sorriso.

Dina: Não, eu prefiro... -foi interrompida por Pedro.

Pedro: É claro que você não pode ir, Isabel! Você tem aula, esqueceu? -ele a olha sério.

Isabel: Papai, eu só perderei a primeira aula do dia, que é a de italiano. Eu e Dina já somos fluentes nesta língua, mamãe nos ensinou desde pequenas... -ela tentava convencê-lo.

Pedro: Não, não adianta! Eu pago um professor de italiano para que vocês tenham aulas e não para que faltem. Isso é um absurdo! -ele joga o guardanapo de tecido em cima da mesa com impaciência.

Sinestesia - Pedresa Where stories live. Discover now