Capítulo 14.

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Desde as últimas palavras que o Duque dirigiu a mim, tudo pareceu estar girando em câmera lenta. Ninguém sabia o que dizer, apenas olhares indecisos pairavam sobre nós. Vittorio ainda segurava minha mão e me lançava o mesmo olhar de anos atrás. É engraçado como as pessoas mudam, como as circunstâncias da vida gravam suas marcas em nossos corpos ao longo dos anos, mas a história descrita em nossos olhos não é capaz de negar quem realmente somos.

Quando o Duque cruzou a sala principal da Quinta e se aproximou de nós, eu o vi e soube quem ele era. Apesar de não querer acreditar, eu o reconheci. No entanto, somente após olhá-lo diretamente nos olhos e sentir o seu calor contra a minha pele, percebi a ficha cair. Foi impossível não ter certeza de quem ele era. O meu grande amor de infância estava bem em minha frente e todas as palavras decidiram fugir de minha boca repentinamente. Eu não estava pronta para este reencontro.

Ele continua certeiro e totalmente desinibido, nota-se pelo elogio que me lançou assim que nos cumprimentou, mesmo após tantos anos sem nos vermos. Enquanto um silêncio ensurdecedor pairava sobre nós, o Duque, mais uma vez, conseguiu ser ágil o suficiente para tirar-nos do transe que havia se instaurado no meio da sala.

Vittorio: Imagino que Vossa Majestade estava esperando pelo meu pai! -notou minha surpresa e continuou segurando minha mão direita.

Teresa: Mio irmão non mencionou que você havia se tornado o Duque di Pellegrini, então achei que veria seu pai. -engoli seco.

Vittorio: Ele faleceu há cinco anos... -suspirou com certo pesar. -Sendo assim, como primogênito, tive que assumir o título e o ducado em seu lugar.

Teresa: Io sinto molto, sei como eram próximos! -apertei levemente sua mão como forma de apoio e ele agradeceu.

Pedro: Então vocês se conhecem? -intercalou olhares desconfiados entre mim e o Duque.

Teresa: Sí... -finalmente soltei nossas mãos e tentei agir naturalmente. -Nossas famílias possuem uma amizade antiga! -gesticulei enquanto falava e olhei para Pedro, lançando-lhe um sorriso desconcertado.

Vittorio: Nós crescemos juntos! -complementou minha fala. -Tivemos uma infância inesquecível em Nápoles. -utilizou-se de um tom ambíguo enquanto olhava para Pedro.

Teresa: Inesquecível! -repeti a fala do Duque e acabei soltando um riso de nervoso.

Vittorio: Esperei por notícias suas durante estes anos, mas... -engoliu as últimas palavras que pretendia dizer e tossiu levemente.  -Imagino que a missão de ser uma imperatriz toma muito do seu tempo!

Teresa: Mesmo amando este país que me adotou, io nunca esqueci da minha família e amigos na Itália! -tentei justificar.

Pedro: Interessante! -aproximou-se de mim e alisou minhas costas até que sua mão chegasse à minha cintura. -Não lembro de tê-la escutado mencionar um amigo de infância, querida. -um sorriso sínico surgiu em seus lábios e ele apertou minha cintura discretamente.

Teresa: Io devo ter esquecido, tesoro! -fingi não notar seu cinismo. -Vamos nos sentar! -pedi para que o Duque nos acompanhasse até os assentos.

Enquanto os empregados nos serviam cálices de vinho do Porto, notei alguns olhares de Pedro para mim. É possível que ele tenha percebido minha surpresa e nervosismo ao rever o Duque. As memórias não paravam de surgir em minha mente cada vez que o ouvia falar ou relembrar de situações que marcaram nossa infância.
Pedro fez questão de sentar-se muito perto de mim e, sempre que havia oportunidade, me tocava ou acariciava. Se eu não estivesse me sentindo tão estranha com toda a situação, provavelmente já teria achado graça de toda esta "marcação de território" que ele não fazia questão de esconder.

Sinestesia - Pedresa Where stories live. Discover now