Sinestesia - Pedresa

Capítulo 20.

Eu estava passeando pelas estantes e prateleiras da biblioteca, tentando esvaziar minha mente em busca de um livro que me ajudasse a dormir, quando senti uma presença estranha. O ambiente escuro parecia se mover e eu sentia uma energia diferente no ar. Foi então que notei que havia mais alguém, além de mim, na biblioteca. Minha curiosidade me levou a caminhar em direção à pessoa, mas assim que me aproximei, meu coração quase parou. Lá estava ele, escondido no canto escuro da sala. Senti um arrepio percorrer minha espinha, meus olhos se arregalaram e meu corpo todo estremeceu. Como ele poderia estar ali, sem ser convidado, sem me avisar? Sua presença naquela biblioteca escura, no meio da madrugada, era o suficiente para me assustar e me deixar em pânico.

X: Teresa? -seu tom anteriormente irritado transformou-se em um semi sussurro aliviado.

Teresa: Você non deveria estar aqui! -me recompus do susto inicial e o encarei.

X: Não consigo parar de pensar nas últimas conversas que tivemos, Teresa! -pareceu-me atordoado e aproximou-se de mim.

Teresa: Va tutto bene? Você me parece confuso! -aproximei-me ainda mais e pude sentir o forte odor de álcool que ele exalava.

X: Talvez eu tenha excedido os meus limites na bebida... -entregou-se.

Teresa: Dio Santo, Vittorio! -segurei seu rosto com as duas mãos. -Você está... embriagado. -prendi a respiração.

Vittorio não respondeu com palavras, apenas fez um sinal de confirmação com a cabeça.

Teresa: Como veio parar aqui? -me preocupei. -Non fui avisada da sua chegada.

Vittorio: Entrei pelos fundos, eu acho... -ele estava confuso e não falava com clareza, seu sotaque estava ainda mais carregado e seu português não era tão bom. -Non lembro exatamente como cheguei aqui, mas vim decidido a falar com você.

Estranhei o fato de Vittorio ter entrado pelos fundos e chegado à biblioteca sem ser visto, já que a Quinta está sob vigilância da guarda imperial durante as vinte e quatro horas do dia, de modo que o acesso e chegada dele aos cômodos privativos no segundo andar do palácio sem atrair atenção para si é, no mínimo, suspeito.

De qualquer forma, decidi afastar os questionamentos imediatos que surgiram em minha mente e procurei entender o que de fato o trouxe à minha casa sem qualquer aviso. Decido, por hora, apenas entender o motivo que o fez vir até aqui antes de tirar conclusões precipitadas.

Teresa: Certo, Vittorio... -segurei uma de suas mãos e o guiei a um dos sofás mais próximos de nós para que nos sentássemos. -Conte-me o que realmente o trouxe aqui.

Esperei que o Duque retomasse a compostura e começasse a se explicar.

Vittorio: Bem, io... -tossiu levemente pra limpar a garganta ou para tomar coragem. -Preciso que você saiba que nunca deixei te de amar, Teresa.

Fiquei imóvel, não soube o que responder. Soltei o ar pela boca, buscando uma resposta racional, mas ele prosseguiu antes mesmo que eu pudesse dizer algo...

Vittorio: Teresa, você tem sido a dona do meu coração desde que éramos crianças, e eu sempre soube que havia algo especial em você, em nós. -segurou minhas mãos.  -Por isso te guardei em meu coração. Eu passei tantos anos tentando encontrar alguém como você, alguém que me fizesse sentir do jeito que você faz. -ele estava emocionado, suas palavras demonstravam uma verdade absurda e eu sentia algo estranho crescer dentro de mim. -E agora que eu te reencontrei, depois de tantos anos, non quero deixar você escapar.  -se aproximou do meu rosto de uma forma totalmente íntima e sussurrou. -Ti amo e ti amerò sempre, mia bella.