Capítulo 18.

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Narrado por Pedro.

As palavras de Luísa ecoam exaustivamente em meus ouvidos desde o momento em que foram ditas por ela. Grávida. Ela acha que pode estar grávida de um filho meu. Me pergunto como isto foi possível. É claro que sei como isto foi possível, mas como pude ser tão irresponsável, tão imaturo e, pior, como pude deixar que a situação chegasse a este ponto? Eu só podia estar cego quando me deixei envolver nesta posição. Há poucos meses tive a certeza de que estava perdidamente apaixonado por uma mulher que, na verdade, não significa mais nada para mim.

Neste momento não penso em mim, tampouco em Luísa. A única que consegue dominar meus pensamentos e coração, é Teresa...mesmo minha consciência não permitindo encará-la nos olhos agora. Como direi a verdade? Como poderei repetir as mesmas palavras ditas por Luísa? Por mais que eu tenha pensado, durante todo o leilão, em diversas maneiras de adiar esta fatídica conversa, não posso mentir para Teresa. Se quer posso omitir a verdade dela.

Os atos são meus, assim como as consequências deles. O que mais me dói é ter que assistir o brilho se apagar do rosto de Teresa. Ela está tão feliz, apesar das circunstâncias advindas da guerra e de tudo que vivemos nos últimos meses. A notícia da gravidez de Teresa alegrou a todos na Quinta e eu até senti que meu coração poderia explodir por tamanha felicidade. Tê-la ao meu lado é mais, muito mais do que eu mereço. E agora ela não está mais sozinha.

Não posso fugir das minhas responsabilidades como pai do filho de Luísa. Não poderei assumi-lo como filho legítimo, mas não irei desampará-lo. Lidar com isto será a coisa mais difícil que terei de enfrentar e não digo isto por Luísa, mas pela decepção que, mais uma vez, trarei à minha família.

E Luísa, é claro, não perdeu a oportunidade de destilar seu ressentimento antes que pudéssemos sair do Hotel Cassino. É óbvio que ela não nos deseja felicidades, muito menos espera que a gravidez de minha esposa siga a diante. Afinal, é como ela mesma disse, agora terá de "competir" com Teresa. É patético.

Eu não esperava que Luísa fosse aceitar facilmente o término do nosso caso e que reagiria bem às coisas que escrevi na carta, mas tudo que ela disse e as reações que teve me surpreenderam. Luísa se mostrou uma pessoa muito diferente da que eu acreditei conhecer.

A questão é apenas uma: estou diante de um questionamento e não tenho outra alternativa, senão contar a verdade. Por mais que minha garganta esteja ardendo como brasa apenas por pensar em dizer o que está acontecendo, esconder os fatos de Teresa tornará tudo muito pior.

Teresa: Pedro! -chamou minha atenção. -Está me ouvindo? -perguntou-me num tom baixo e ameno.

Pedro: Eu...eu... -gaguejei, as palavras tropeçavam em minha boca. -Sim, estou sim. -não consegui continuar olhando para os olhos insistentes dela.

Teresa: Então? -juntou as duas mãos e as apoiou sobre a saia do vestido. -Não vai dizer nada?

Pedro: É melhor termos esta conversa em casa. -respondi num sussurro, porém, suficientemente alto para que ela pudesse ouvir. -Estamos quase chegando. -observei pela janela da carruagem.

Teresa: Mas o que é que tanto lhe incomoda? -franziu o cenho com toda aquela falta de informação. -O que está escondendo de mim? -deslocou-se de seu assento e veio para o mesmo banco que eu, sentando-se ao meu lado.

Pedro: Teresa, só preciso de algum tempo. -minha respiração está pesada, como se houvesse algo sobre meus pulmões que os impedisse de funcionar normalmente. -Nós teremos uma conversa, mas... -não consegui prosseguir.

Teresa: Io sono tua esposa, tua imperatrice, tua amiga e companheira... -segurou meu rosto com as duas mãos e me disse com doçura, o que fez meu coração se partir em mil pedaços. -Sei que há algo lhe incomodando desde cedo, mas quero que saiba que podes me contar qualquer coisa, hum? -beijou a ponta do meu nariz. -Qualquer coisa, amore mio. -repetiu e um sorriso reconfortante surgiu em seus lábios.

Sinestesia - Pedresa Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum