Rebel Heart

Promise to try

A cama revirada, cheiro de bebida e o calor que vinha através das janelas.

Abriu os olhos um pouco incomodada com o clarão, estava coberta da cintura para baixo e de bruços. Passou as mãos pelos lençois num suspiro longo e preguiçoso. Foi virando de mansinho e encolheu-se novamente com um sorriso bobo nos lábios.

Olhava pela janela pensando na noite que passou com Emma. A dança e todo resto. Seu corpo arrepiou à medida que as imagens voltavam-lhe à mente. A recusa em dançar acabou por ser mais um capricho resistindo aos apelos não só da loira, mas de outras pessoas que estavam por perto nas ocasiões que poderia fazê-lo.

Admitia ser um pouco birrenta quando insistiam que deveria fazer algo, Regina ria sozinha ali deitada na cama. Chegava aos seis meses daquele trabalho e quando começou jamais imaginava estar naquela situação, sua própria vida ter tomado caminhos que ela não pretendia ou sequer buscava. Ter um amor tão arrebatador que a faz desprender-se de suas camadas aos poucos e ver também que esse amor faz-se despir de suas camuflagens, Emma Swan era assim, cheia de camuflagens, mas a sua Emma perdia cada vez mais o brilho falso dos holofotes para deixar que seu brilho interior fosse mostrado somente para ela.

Ergueu o corpo devagar e apanhou o celular conferindo as horas. Ainda era bem cedinho. Havia algumas mensagens, mas nada de importante para tirá-la daquele instante de paz. Era tão improvável que poderia desfrutar daquele momento com toda uma turnê acontecendo, o vai-e-vem alucinado, gritos e flashes constantes, compromissos e hora marcada para qualquer movimento. Mas seu sorriso fez-se presente novamente ali deitada na cama observando o céu pela janela, tudo era possível com Emma.

A loira já não estava no quarto e, muito provavelmente, já teria preparado o café, Regina sentiu o aroma quando puxou o ar calmamente. A vista da cidade era maravilhosa daquela altura de onde estavam, agora sob a luz da manhã podia ver com mais detalhes e apreciar aquela grandiosidade.

A casa de Emma era num condomínio de luxo, afastada de tudo e dali podia ver toda Medellín a seus pés. Levantou-se ainda vagarosa, seguiu nua pelo quarto indo até o chuveiro, precisava despertar e começar o dia mais revigorada depois da noite que passara ali.

A água não estava tão quente, mas agradável àquela hora da manhã. Deixou que caísse e pensava no que ainda deveria enfrentar nos próximos dias. Nada durante a agitação da turnê de Emma poderia ser comparada a ir para Miami depois de tudo o que vinha acontecendo na sua vida.

Regina pensava se deveria mesmo ser uma boa ideia estar com os pais e colocar à prova a resistência de Cora sobre seu envolvimento com Emma, por mais que nada tivesse sido confirmado. Ela tomou a melhor decisão, isso não poderia abrir mão, deixar de acompanhar os shows no México, partir diretamente para a casa de seus pais e ficar por lá até que Emma chegasse para suas apresentações.

Teria que seguir forte e encarar, enfim, o que demorou anos para enfrentar, afinal, não só as críticas, mas a forma abusiva com que a mãe sempre a tratou, mesmo que de maneira velada. Regina carregava isso dentro de si, sentia e entendia todas as atitudes e palavras de Cora, mas jamais deixou-se perceber que aquilo a afetava mais do que deveria. Nessas horas, que esses pensamentos voltavam-lhe à mente, ela voltava a ser a menina acuada que choramingava pelos cantos tentando entender o desprezo da mãe, mas agora tinha algo diferente de todas as outras vezes que esses sentimentos lhe afloravam, sentia-se mais forte e decidida a colocar o ponto final e definitivo nos fantasmas que a acompanharam por toda uma vida.

Penteou os cabelos molhados olhando-se no espelho com mais atenção, tinha mudado muito, seus olhos, expressões e formas de agir, Regina tinha dentro de si algo que crescia mais do que poderia controlar e gostava daquela sensação.