Crisântemos.

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Afloram-se no silêncio minúsculas silhuetas escuras.

Seduzem-me a mergulhar em minhas próprias lamúrias.

Fazem-me ceder e cair no abismo inexplicável do desespero.

Lágrimas escorrerem de meus olhos e formam um oceano errôneo de sensações angustiantes.

Em uma leveza anormal, as lágrimas roubaram-me o ar, afogando-me.

Meus olhos não enxergam nada além de uma figura despedaçada refletida em um espelho.

Meus pés caminham sozinhos.

Eles vão na direção do espelho.

Lá, vejo-me sem rosto.

Uma figura horrenda de mim mesma.

Seus dedos podres se aproximam dos fios do meu cabelo e tocam-o delicadamente. Sua mão desliza até meu pescoço e o agarra, saindo por completo do espelho e murmurando calmamente:

“Se quer ver-se rodeada de flores e de uma melancolia que não é tua, permita-me afogá-la em suas próprias lágrimas.”

Um tremor percorreu meu corpo e meus olhos voltaram a verter lágrimas, ainda que meu corpo se sentisse tentado a aceitar.

A figura mostrou-me seus dentes pontiagudos em um sorriso inebriante e seus dedos pútridos foram de encontro a minha mão, passando-os nos vãos de minha palma e entrelaçando-as.

Juntou meu corpo ao seu e conduziu-me em um bailado anoso.

Despejou-se em meu coração e trouxe-me um ar fúnebre.

Minha boca vertia vinho, que fazia minha visão borrar e meus pés não suportarem o peso do meu corpo.

Minha boca vertia sangue, que fazia meus dedos se sujarem com o líquido rubro.

A figura gargalhava alto.

Olhei para as palmas das minhas mãos e elas estavam apodrecidas.

Minhas íris voltaram a mirar a figura, que agora possuía um rosto.

O meu rosto.

Um sorriso de canto resumiu seus risos de escárnio.

Meu corpo despencou ao chão.
Senti o frio, o amargor do sangue, a angústia do arrependimento. ❜

❝ Eu sorri a mim mesma, vendo-me rodeada de crisântemos e de uma melancolia que não era minha. ❞

                                ☾︎__𝒜𝓈𝓈. 𝓓𝓮𝓾𝓼𝓪__☽︎

Meus adorados poemas.Where stories live. Discover now