Metamor - Por WilliamToriccelli

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Classificação : 16+

AVISO DE GATILHOS : Insinuação de suicídio

Metamor

WilliamToriccelli

Se pudesse passar uma noite com qualquer pessoa do mundo, quem seria?

Mil repetia a frase em sua mente como um mantra, enquanto observava o elegante homem parado diante de si. Em outro lugar, tal pergunta seria interpretada como um chiste, porém, no Desidae significava tudo seja para quem lá entrasse ou vivesse. O cliente da vez, um homem por volta dos trinta vestindo um terno Armucci, famosos pelo preço exorbitante, até Mil sabia. A venda puída de tecido vagabundo cobrindo seus olhos poderia ser considerada uma ofensa a tipos tão distintos como aquele, não que ele parecesse se importar com algo além de tocar discretamente a protuberância sob a calça.

Mil suspirou. Conhecia tipos ansiosos assim e sabia que eram uma caixinha de surpresas. Poderiam durar tanto por horas quanto por segundos, mas independente de qualquer coisa garantiria que terminasse plenamente satisfeito.

Aproximando-se, Mil levou ambas as mãos a tocarem com delicadeza as têmporas do homem. Uma luz branca emanou de seus dedos e espalhou-se como veias fluorescentes pela cabeça do cliente. Mil fechou os olhos. Flashes das sinapses dele explodiram entre a escuridão, deixando-as rapidamente, buscou a resposta para sua pergunta, o desejo mais profundo, a pessoa dentre todas que mais desejava possuir. Não teve pressa. Sabia que qualquer deslize poderia resultar em dano mental e, por consequência, em sua própria execução. De todo modo, não demorou a encontrar uma faixa de memórias correspondentes. Na verdade, raras eram as vezes onde o processo durava mais de cinco minutos e ainda mais raras as que davam errado, mesmo assim Mil sabia que precaução nunca era demais. Especialmente ao entrar em contato direto com a consciência de outrem.

Mil respirou fundo e, mantendo a conexão estável, começou a despir-se de sua forma remoldando-a de acordo com as memórias desejosas do cliente. Um rosto comprido, convidativos lábios finos, olhos verdes, cabelos pretos bem cuidados, barba cheia, nariz reto, cheiro doce, corpo... Mil franziu a testa que já não lhe pertencia. O cliente não sabia como era todo o corpo daquela pessoa, era necessário ir mais fundo, descobrir como ele imaginava ser para fabricar algo a partir disso e assim o fez. Corpo torneado, sem pelos, pele mais clara nas partes normalmente cobertas pela roupa, nádegas protuberantes, membro de tamanho médio. Tudo perfeito para corresponder a imagem luxuriosa permeando a mente daquele homem.

Mil sorriu com satisfação. O corpo estava pronto. Reabrindo os olhos, desfez a conexão física devagar. O cliente inspirou o cheiro agora familiar e engoliu em seco. Mil tocou-lhe a bochecha divertindo-se com o arrepio resultante. Deslizou sua mão pela pele do pescoço alheio e retirou a venda. Olhos negros se arregalaram. Devido a um certo truque envolvendo feromônios agindo em conjunto com uma fina linha de laço psíquico carinhosamente apelidado de "encanto", os clientes não conseguiam diferenciar os metamorfais das pessoas reais. Era parte da experiência única oferecida no Desidae.

Mil sentiu o desejo reprimido, voraz, ardendo dentro do cliente lutando contra anos de culpa e coibição. Mil diminuiu a distância entre eles até seus lábios se encontrarem, dentro dele foi como gasolina no fogo, a libido consumiu qualquer sobra existente de ressalva e, antes que notasse, ele estava completamente rendido ao beijo. Mil permitiu que ele tomasse o controle da situação, como sempre fantasiou.

Seus braços apertavam o outro rapaz contra si enquanto dirigiam-se para a cama onde ele os deitou sem quebrar o contato. Livrou-se das roupas chiques com azáfama. Todo o tempo de tentação acumulado explodindo em movimentos desconexos, desesperados, guiados por pura e avassaladora luxúria. Ele ensaiara aquilo na cabeça tantas, mas tantas vezes incansavelmente, que na hora da verdade, não sabia o que fazer nem como. Por consequência, frustração tomou conta de si dificultando ainda mais o raciocínio. Mil sentiu tais emoções escapando dele e soube como deveria agir. Tocando-o onde mais ansiava ser tocado, acalmou-o. Mantendo o contato visual, guiou suas mãos pelo corpo falso sem afobação, buscando o próprio ritmo adequado para ele. Até que, enfim, conseguiram se encaixar um ao outro e, como bem entendeu, o cliente usou aquele corpo.

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