Aliens Podem Amar - Por Dav Oliveira

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Classificação : 16+

AVISO DE GATILHOS : tortura, violência e linguagem explícita

Aliens podem amar

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Achávamos que a maior dúvida da galáxia era o quão imenso é o universo? ou outros seres vivos existem? Os Navegadores, desbravadores do sétimo espaço, se guiaram por essas duas questões como o ponto crucial que iria completar nossa total compreensão sobre a linha da vida. E eu digo aqui, sem cerimônia alguma: elas foram respondidas.

Mas serei sincero. A resposta nos levou alguns bons séculos. Como esperado, até que a nossa raça entendesse que "atirar primeiro, perguntar depois" era uma péssima estratégia de colonização, levou-se exatos trezentos e cinquenta e seis anos para um acordo pacífico ser firmado junto dos seres dominantes daquele planeta ridículo de lindo chamado Fomenta.

Os Navegadores foram os pretensiosos responsáveis por nos trazerem até aqui, para proliferarmos como um bando de vermes em mais uma das colônias espaciais intersectadas. E quero desabafar: depois que eu senti acidentalmente o cheiro do kalifrus — gás nativo de Fomenta — enquanto trabalhava na purificação atmosférica, comecei a achar nosso oxigênio terrivelmente podre.

Retornando ao ponto-chave, as resoluções dos dois questionamentos humanos iniciais que vieram com essa "grande conquista" foram tão previsíveis e canalhas que não irei me atrever a detalhá-las. Só digo o já conhecido: o motor que move a humanidade é e sempre será a busca pelo estranho.

Mas então, o que não me soava como uma farsa naquilo tudo? Que significado tinha aquela paz e a tranquilidade que os Navegadores do novo mundo tanto proclamavam nos anúncios de colonização do exótico Fomenta? A esfera, que servia de lar doce lar a uns cem mil humanos avariados — entre eles eu —, majoritariamente de vegetação verdejante e rasteira, mal tinha cinco espécies nativas. Vivíamos juntos. Quero dizer que num belo e utópico estado simbiótico, mas eu prometi ser sincero. E... as perspectivas não são boas.

Veja, eu nem pretendo soar como um moralista hipócrita, mas não é meio contraditório eu estar espremendo a traqueia de uma mulher híbrida, mistura de humano e millygris — um tipo de alien magro, escamoso, gelatinoso e verde —, enquanto ouço o nosso glorioso lema cantado "FOMENTA: A MORADIA PACÍFICA PARA TODOS OS MESTIÇOS DO UNIVERSO!" escapando dos sistemas de sons?

— Somos um bando de ignorantes, né? — O tom de voz sai maníaco de mim. A millygris abre as fendas do nariz numa expressão impaciente. — Qual o seu nome, aberração? Pode me chamar de Troy. Sem prazeres, ok?

A boca dela infla. Vomita a saliva verde e pegajosa na minha armadura.

Estamos eu e ela num beco estreito, as paredes dos prédios circundantes feitas de pedras-em-pó azuis. Elas escorrem infinitamente até o chão num efeito hipnótico, como as antigas ampulhetas que, por sua vez, me recordam da irrefreabilidade do tempo.

Nem sinto prazer em enforcá-la. Mas também não sinto compaixão alguma. Meus braços, ambos robóticos, mecanizados e frios não podem sentir a textura da pele gelatinosa dela.

Por sorte, ela é um daqueles lutadores ferrenhos que vai exprimir sua última gota de esforço para salvar sua vida. E lutadores ferrenhos não choramingam ou gritam rudezas no dialeto arrotoso fomentês. Acho que devo um ponto positivo para ela por isso. Gosto dos bravos lutadores ferrenhos, de sua auto enganação, então comando meus dedos mecânicos a afundarem com mais rapidez.

— Não, garota! Poderia ter sido qualquer outro! Mas você será a sortuda. Vai se livrar desse planeta infestado de humanícies.

Que escroto da minha parte. A millygris é uma híbrida. Óbvio que não deveria odiar minha raça tanto quanto queria, já que havia traços humanos nela.

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⏰ Last updated: Mar 26, 2022 ⏰

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