23. Sufocar.

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"Nem a maldade do tempo
consegue
me afastar de
você."
Tiê.

Sina.

Minha cabeça doía horrores quando cheguei em casa naquela noite.

Após uma discussão nada agradável com Josh ao telefone, percebi que na maioria das vezes nem nossa própria família pode ser um lar seguro. Em tanto tempo, nunca vi alguém tão sem noção. Como pode desejar o mal do próprio irmão e ainda praguejar que um acidente que poderia ter tirado sua vida foi merecido?

Simplesmente, não era culpa de Noah.

Você não pode evitar uma pequena paixão de ensino médio. Nem de se encantar pelo entregador de pizza e passar a pedir no mesmo local todo final de semana. Nem sair de casa no mesmo horário que o vizinho bonito para esbarrar nele. Entende? É inevitável, a atração sentida por alguém não pode ser controlada. Como amores de escola, você mal sabe quem é aquela pessoa mas de repente está indo para escola apenas para poder vê-la todos os dias. Não tem como fugir de pequenos sentimentos.

Uma hora ou outra, o amor começa te perseguir. Enquanto mais você foge, mais as pessoas irão te demonstrar afeto e carinho e quando você for ver... puff, apaixonado.

Não vê? É um fodido ciclo vicioso.

Nunca fui uma daquelas pessoas amarguradas, mas também nunca fui a positividade em pessoa. Acredite, às vezes parece impossível. Mas há alguma coisa me dizendo que Noah não é perca de tempo, sua amizade me faz bem e por mais suas ações tenham me deixado fria, posso ver que temos mais do que um simples rolo pela frente.

O mais importante, é não ter pressa de nada. O que é para ser, será. Vem de livre e espontânea vontade, sem esperar.

De tanto insistir em pessoas erradas, aprendi que sem emocional demais te leva à grandes buracos. Vejo Noah nessa confusão, tal em que passei muito na adolescência. A necessidade de demonstrar um amor que parece estar guardado dentro de si, mesmo que, estranhamente — nem você consiga se amar nesse nível, acabe te levando a despejar afeto em qualquer um que te de o mínimo de atenção.

Não é ridículo? Como eu posso querer tanto amar alguém se não amo nem a mim mesma?

Eu sei que Noah está perdido nisso. Ele precisa de alguém. Talvez, a solidão seja uma resposta, tanto tempo guardando coisas para si mesmo. Na verdade, ele precisa apenas dele mesmo.

Eu não posso ajudá-lo nisso, mas acredito que um especialista sim. Não irei distribuir diagnóstico para as pessoas como se entendesse de algo, mas quero estar ao seu lado como una amiga. Porque, quando eu estava na pior, as pessoas estavam ao meu lado, me ajudando.

— Vai voltar? — Mamãe pergunta, estou comendo algo depois do banho relaxante que tanto precisava.

Sim, eu vou. Noah já está em casa e seus pais estão lá, mas quero ficar por perto. Não sei como ele vai reagir ao resultado dos exames, uma lesão na mão que o impede de tocar guitarra por bons meses irá afeta-lo e tanto.

— Sim.

— Admiro tanto você, seu pai também. É exatamente como a ele, um coração tão grande que mal cabe dentro de você mesma. — Sorri. — Não se machuque, anjinho. Seja você mesma.

— Ser eu mesma? Que conselho lixo é esse? — Respondo, mamãe me bate com o pano de prato.

— Insensível. Eu estava tentando ser fofa.

— Estou brincando mãe, te amo. E vou indo. — Beijo sua bochecha, pegando minha bolsa no sofá.

— Saindo de cabelo molhado, Sina? — Nega. —, Vai, se cuida.

Aceno, apenas. O caminho até sua casa não é longo, mas peço um uber mesmo assim.

[...]

22.22

Eu amo as horas iguais. Elas me fazem se sentir bem, assim como amo números da sorte, dias de sol e músicas da Taylor Swift. Tal essa que estamos escutando bem baixinho enquanto assistimos a um seriado.

Como dois namorados adolescentes, estamos deitados no quarto enquanto seus pais estão na cozinha vindo nos espiar de vez em quando. Noah está deitado com a cabeça em meus seios, o braço com gesso livre enquanto o outro abraça minha cintura. Faço carinho nos seus cabelos, descendo para as costas de vez em quando, tudo isso sentindo o cheiro ótimo do seu perfume.

— Si?

— Sim.

— Não quero parecer chato.

— Diga logo, Noah.

— Não quero que esteja aqui por pena. — Diz. — Eu odeio ser alvo da pena dos outros. Sempre foi isso. "O garoto que não tem mãe" ou "o garoto que foi abandonado", eu não sou isso, quero que alguém fique por... apenas por querer ficar.

Sua confissão me pega de surpresa.

— Eu estou aqui porque gosto de você, Noah. Você sabe disso.

De repente, os olhos verdes estão focados em mim. Seus lábios se aproximam dos meus devagar, nossos lábios se esbarram brevemente. Muito rápido mesmo, pois sua mãe entra no quarto com uma bandeja em mãos.

— Ops! Não vi nada, continuem.

Noah sorri, é sincero e bonito. Amo isso nele.

— Mãe. — Repreende.

Ela sai sorrindo. A relação dos dois é linda, como mãe e filho compartilhando um mesmo sangue.

— Noah. — O chamo. — Se você deixar, podemos marcar algumas consultas com minha psicóloga, você sabe que é bom se abrir um pouco.

— Eu topo. Por você.

— Não.

— Como?

— Pare de fazer as coisas pelos outros, faça por você mesmo. — Ele assente. — E nada de me beijar, não te dei permissão.

Noah parece chocado. Sinto vontade de rir.

— Mas...

— Ou eu quebro seu outro braço.

Nós nos encaramos por segundos até cairmos em uma gargalhada profunda.

lovers | noartOnde as histórias ganham vida. Descobre agora