• dezessete •

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" Eu sou apenas humana
E eu me despedaço e eu me quebro
Suas palavras na minha cabeça
Facas no meu coração" - Song: human.

- Any Gabrielly -

Desço do carro vasculhando o estacionamento a procura do carro do meu pai, mas não achei. Como se lesse meu pensamento, vejo uma mensagem dele.

Whatsapp on

Papa<3

- querida, não poderei te acompanhar no tratamento hoje.

- tudo bem

- estou morrendo de saudades, filha.

- também estou, papa

- eu te amo❤️

- eu te amo❤️

Saio do whatsapp e bloqueio o celular, entrei na clínica que estava cheia de pacientes em sua recepção, me sentei numa das poucas cadeiras vazias.

1 hora, 2 horas... Eu odeio vir a consulta dia de semana, ainda mais nesse horário. Sempre lotado.

A hora passou num ritmo lento, até que o lugar já estava quase vazio, sobrou apenas 5 pessoas, e graças aos céus eu era a próxima.

- Any Gabrielly - chamou Ellen, minha médica. E me levantei de uma das cadeiras.

- bom, Gaby. Como já havíamos conversado, vamos começar hoje com a radioterapia, ok? - disse assim que entramos na sala.

- tanto faz - dei de ombros desanimada.

- vai dar tudo certo - disse minha médica esperançosa.

- só vai dar tudo certo quando eu morrer - falei pegando a roupa de sua mão.

- Gabrielly! - me repreendeu.

- a quem queremos enganar? É só uma tentativa, que não vai dar certo - falei.

Até duas semanas atrás, eu apenas estava fazendo uso dos medicamentos, mas hoje. Começarei com a radioterapia.

Que é basicamente, um raio x, com raios ionizantes, usados para destruir o câncer, ou impedir que as células aumente.

A radioterapia demorou 30 minutos e eu já estava agoniada.

- posso ir? - falei entregando a roupa e prendendo o cabelo.

- sim, mas lembre. Você ainda tem mais 4 sessões da radioterapia essa semana - explicou e assenti fadigada.

- evite vir sozinha, por conta dos efeitos colaterais - informou por fim. E assenti.

Saí da clínica e só aí, me dei conta que já estava havia escurecido e já era 19:30.

- boa noite, Senhorita - disse Dona Clara, uma das empregadas.

- boa noite, minha mãe já chegou? Preciso falar com ela - informei.

- sim, senhorita. Ela está no está no escritório, mas acho melhor não ir lá agora - informou e assenti.

Subi as escadas, tomei banho arrumei minhas coisas e desci novamente, coloquei tudo em meu carro, hoje voltaria para casa do meu pai.

Ignorei o aviso de Clara, fui ao escritório, ouvi a voz de minha mãe era alta e alterada. Ela discutia, com... Meu pai?

- nem acompanhar ela no tratamento você pode! Deveria dar apoio a Any - ouvi a voz do meu pai.

Ele estava nervoso e sua voz era alta.

- eu não vou! Já estou fazendo demais aguentando ela aqui em casa - disse minha mãe alterada.

Fechei um olho, e com o outro observei o que acontecia pela brecha da porta.

- se fosse pra ser assim, era melhor não ter filho nenhum, caramba. Você nunca pode fazer nada por ela - disse meu pai.

- essa maldita gravidez acabou com a minha vida - gritou minha mãe.

- nada que ela fizer vai adiantar! Você acha que estou feliz? Eu sempre soube que ter filhos seria atraso de vida. E agora tenho que fingir amar a situação, pra mim não dá - disse nervosa.

- e eu só continuei com a gravidez da Any por causa de você! E ainda assim nos separamos por causa dela - gritou apontando para meu pai e arregalou os olhos, sem voz.

Empurrei a porta sem pensar duas vezes, os dois me olharam assustados.

- filha - disse meu pai, sua boca abriu e fechou a boca várias vezes, tentando falar algo.

- você não precisará mais fingir um amor que não tem, não vou ser mais um peso pra você - falei friamente, apontando para minha mãe e fiz menção em sair.

- sabe o pior de tudo? - voltei meu olhar pra ela - eu te amava, eu não queria seu dinheiro, nem luxo. Eu só queria minha mãe - meus olhos ameaçaram a lacrimejar.

Andei para fora da casa rapidamente. Peguei as chaves do carro, de dentro do bolso.

- filha vamos conversar -  disse meu pai, me seguindo.

- eu ouvi o suficiente! Ela odeia o fato de ter uma filha, eu estraguei a vida dela - falei.

- eu tentei de tudo pra fazer ela gostar de mim, fiz do jeito dela mas não foi. Já entendi que ela nunca vai me amar, posso conviver com essa rejeição - falei, olhando dentro dos olhos do meu pai e entrei no carro.

- desculpa - ele murmurou triste, falei e arranquei com o carro.

Eu não vou chorar
Eu não vou chorar
Eu não vou chorar

Repeti pra mim mesmo, mas logo as lágrimas vieram a tona e um grito engasgado e doloroso saiu da minha garganta.

Esmurrei o volante com força e acelerei com o carro, e senti as lágrimas molharem meu rosto.

Tudo estava demorando sobre mim... E eu nunca havia me sentido tão vulnerável e inútil como agora.

- Nota da autora: o próximo capítulo vai ser fofo, juro.

Feliz ano novo, meu povo✨

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐚𝐫𝐤 || 𝐍𝐨𝐚𝐧𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora